Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 1 de outubro de 2023
Nas últimas semanas, uma série de tragédias e recordes climáticos surgiram e deram o alerta: as mudanças climáticas já afetam a rotina em todo o mundo. Claudia Tebaldi, cientista da Terra no Laboratório Nacional do Noroeste do Pacífico, observa que o aumento recente das anomalias de temperatura pode ser um sinal de que as influências humanas e as flutuações naturais estão agindo em conjunto para elevar as temperaturas globais. O último mês de agosto foi o mais quente já medido pela Agência Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) em 174 anos.
Em julho, a temperatura global bateu o recorde por três dias seguidos e uma onda de incêndios se espalhou pelo mundo. No Canadá, a fumaça da queimada florestal pôde ser vista do espaço. Nos Estados Unidos, a ilha havaiana de Maui teve o incêndio mais mortal do último século. Na Europa, Itália, Espanha e Grécia sofreram com as chamas descontroladas.
O problema não se restringe à terra firme: desde abril, a superfície do mar tem visto novas marcas máximas em relação à média padrão. Por enquanto, os oito primeiros meses de 2023 fazem deste o ano com a maior anomalia climática nos oceanos desde meados do século 19. E ainda nem chegamos ao pico do aquecimento, que deve ser causado pelo El Niño, o que deve acontecer em novembro ou só em 2024. Os pesquisadores observaram na última semana ainda recorde histórico negativo de gelo marinho na Antártida. E consideram que o mesmo gelo marinho deve desaparecer do Ártico na próxima década.
Sem refresco
Zeke Hausfather, líder de pesquisa climática da empresa de pagamento Stripe, disse ao The Washington Post que observa mais três fatores contribuintes para o quadro atual: redução das emissões de navios, permitindo que mais luz solar alcance os oceanos; erupção de 2022 do vulcão submarino Hunga Tonga no sul do Pacífico, que enviou grandes quantidades de vapor de água para a atmosfera; aumento contínuo na atividade solar, elevando ligeiramente o efeito de aquecimento do Sol na Terra.
As anomalias de temperatura são notáveis por serem ainda mais aberrantes agora do que o calor extremo observado em todo o mundo em julho e agosto. “Por uma grande margem” de 0,71ºC, este verão (no Hemisfério Norte) foi o trimestre mais quente do planeta nos registros que remontam a quase dois séculos, disseram cientistas climáticos europeus no início deste mês.
O que esperar
Só que o problema não se restringe ao norte. É uma “tempestade perfeita”: o El Niño deste ano chega a um planeta cada vez mais quente e assolado pelos efeitos das mudanças climáticas. Nesse cenário, a chegada do fenômeno climático – que aquece as águas superficiais do Oceano Pacífico, com repercussões em todos os continentes – é como jogar gasolina no fogo.
Não à toa, a temperatura global bate recordes sucessivos em 2023 e o clima do planeta se torna imprevisível. “Os eventos extremos serão cada vez piores e mais intensos”, diz a pesquisadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Luciana Gatti. “Está aumentando a frequência do El Niño e esses fenômenos também estão ficando mais quentes.”
Sobrevivência
O último relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima (IPCC), das Nações Unidas, divulgado neste ano, aponta que algumas das mudanças climáticas futuras são inevitáveis ou irreversíveis, mas podem ser limitadas por alterações rápidas e de redução sustentada das emissões globais. O documento aponta a necessidade de mudanças na forma de produção de alimentos, eletricidade, transportes, indústria, construções e uso do solo, além de indicar medidas como a ampliação do acesso a energia e tecnologias limpas.
A eletrificação das fontes de emissão de carbono – no transporte público, por exemplo –, resultará na melhora da saúde das populações. Os benefícios econômicos para as pessoas apenas com melhorias na qualidade do ar seriam aproximadamente os mesmos – ou possivelmente ainda maiores – do que os custos de reduzir ou evitar as emissões.
Há evidências de que algumas dessas políticas climáticas começam a ter impacto positivo. Até 2020, mais de 20% das emissões globais foram taxadas por impostos sobre o carbono ou sistemas de negociação de emissões, apesar de ainda terem sido insuficientes para gerar reduções mais profundas. Nos últimos anos, surgiram leis focadas na redução das emissões em 56 países que abrangem 53% das emissões globais em 2020.
No Ar: Pampa Na Madrugada