Sexta-feira, 27 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 3 de novembro de 2022
Stephen Bannon, conselheiro de Trump no fomento à guerra ideológica nos EUA, mesmo condenado pela justiça daquele país, tem se animado a dar conselhos e palpites a outros governos. Sua última investida foi dizer que as eleições do último dia 30.10.2022 no Brasil, podem ter sido fraudadas. O uso de mentiras e do medo são ingredientes comuns no cardápio de Bannon. Ele se vale de um conjunto de ações e discursos, todos coordenados e sintonizados, com o objetivo central de criar um ambiente tumultuado no qual seja plantada a desconfiança sobre a lisura, a segurança e a confiabilidade das eleições, visando questioná-las, em caso de derrota. Existem também estratégias para fustigar as instituições democráticas, colocando-as contra a população, num exercício de permanente confronto. A retórica antissistema adotada por Trump dividiu a sociedade americana e causa temores quanto ao futuro da maior democracia do planeta, além de emitir um alerta ao mundo sobre os perigos da combinação de psicologia social, internet e populismo capitaneado por espíritos pouco democráticos.
A mentira e o medo se converteram, através da onipresença das redes sociais e da indústria das fake news, em armas poderosas para movimentar as massas. Feito uma terra de ninguém, as mídias sociais impulsionam discursos de ódio, intolerância e narrativas descoladas da realidade. A pauta de valores também tem sido um recurso para cooptar o apoio de faixa importante do eleitorado. No Brasil, um dos maiores países cristãos do mundo, temas como aborto, ideologia de gênero e drogas encontram muito eco e colidem com o chamado globalismo, mais ligado à esquerda progressista e que defende uma agenda mais plural do ponto de vista das liberdades individuais, combatendo todas as formas de preconceito e mais atrelada a temas globais como a questão do clima, da imigração e dos direitos das minorias. Desse confronto de visões, o amplo uso de informações falsas e a disseminação de inverdades em larga escala, gerou a narrativa belicosa que hoje sustenta a ação dos grupos mais radicalizados.
Nesse ambiente onde a comunicação instantânea molda a realidade a cada segundo, parte da população submete o cérebro a excitações exageradas, fantasiosas, sem sentido, muitas delas incutindo o medo, a insegurança e maior ansiedade em relação ao futuro. Não é possível afirmar, como querem alguns, tratar-se de algo deliberado à moda Goebbels, mas o fato é que está havendo um processo de disseminação do medo como arma política. Quando o grau de hipnotização social chega a tal ponto, as pessoas realmente passam a acreditar nos cenários mentais profundamente arraigados em suas mentes, por mais absurdos que possam parecer. Exemplo disso é enxergar risco na volta do comunismo, do fim das igrejas e outras mentiras que assolam as redes sociais, bem como o grau de intolerância e fanatismo facilmente comprovado hoje no País. As pessoas estão sendo configuradas para odiar.
Como anteparo a resistir a atual avalanche antidemocrática que o mundo enfrenta estão as instituições, de cujo delicado equilíbrio depende o futuro da democracia. É na dialética que se estabelece entre os diferentes pontos de vista, e não na supressão da verdade, que o direito se estabelece e se fortalece. Também as críticas a quaisquer dos poderes compõem o ecossistema discursivo no qual as tensões se ajustam, mas não podem se converter em aríetes contra o coração do sistema. O perigo é quando determinado poder vira alvo de uma sanha persecutória, cogitando-se, inclusive, sua supressão. Aí entramos num terreno mais escorregadio, conforme podemos ver em nosso País nos últimos anos. O equilíbrio entre os poderes é frágil. Sua força deriva, ao modo como Marco Polo descreveu, feito uma ponte, pedra por pedra!
“Mas qual é a pedra que sustenta a ponte”? Pergunta-lhe Kublai Khan.
“A ponte não é sustentada por uma ou outra pedra”, responde-lhe Marco, “mas sim pela linha do arco que elas formam.” Essa linha institucional é quem nos tem garantido, não sem dificuldades, viver sob uma democracia ativa e vibrante.
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