Sábado, 11 de Janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 10 de janeiro de 2025
Com a chegada do criminalista Celso Vilardi, a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro já sinalizou nos bastidores que deve abandonar a estratégia de insistir no impedimento do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na supervisão do inquérito da trama golpista.
Vilardi tem bom trânsito no STF, é respeitado no meio jurídico e já atuou na defesa de empresas como a Americanas, de executivos da Camargo Correia, no âmbito da Operação Lava-Jato, e do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares no caso do mensalão.
“Ele tem uma relação ampla com a imprensa, com membros da Corte e inaugura um capítulo novo da defesa”, disse reservadamente à equipe da coluna um aliado de Bolsonaro.
Interlocutores do ex-presidente contam que Vilardi tem dito que terá um posicionamento mais técnico e menos beligerante em relação ao Supremo, por considerar que o confronto só tensiona ainda mais o ambiente – e complica a situação de Bolsonaro no STF.
A decisão de não insistir no impedimento de Moraes tem a ver com esse novo posicionamento, que, de acordo com aliados que conversaram com o advogado, se resume em “não contestar fatos consumados”. À colunista Bela Megale, ele disse que respeita e “seguirá respeitando” o STF.
O STF já rejeitou dois pedidos de impedimento de Moraes feitos por Bolsonaro nos últimos 13 meses. Um dos recursos foi rejeitado por 9 votos a 1, em dezembro passado – e um outro pedido ainda aguarda análise, sem previsão de julgamento.
Internamente, o novo entendimento da defesa é o de que a questão “já está decidida”.
“Bolsonaro finalmente tenta uma aproximação com o STF. Talvez um pouco tarde demais”, diz um influente advogado de um dos 40 indiciados na trama golpista. “Ele quer distensionar a relação com a Suprema Corte, mas se vai conseguir, é outra história.”
Críticas de investigados
Conforme informou o blog de Malu Gaspar no jornal O Globo, a ofensiva de Bolsonaro de tentar o impedimento de Moraes na supervisão do inquérito da trama golpista se tornou alvo de críticas reservadas da defesa de outros indiciados na investigação – e de integrantes do próprio PL.
Na visão de outros alvos da investigação, a estratégia bolsonarista adotada até aqui não só não tem chances de prosperar – como só serve para fortalecer Moraes ainda mais perante os seus pares no Supremo.
Ao pedir o afastamento de Moraes do caso, a defesa de Bolsonaro alegou que as informações reveladas na apuração de uma tentativa de golpe de Estado para impedir a posse de Lula apontam que Moraes seria um dos alvos principais do suposto plano, o que comprometeria sua imparcialidade no julgamento do processo.
Em fevereiro do ano passado, o pedido de Bolsonaro contra Moraes foi negado pelo presidente do STF, Luís Roberto Barroso, relator do caso.
O ex-presidente da República entrou com recurso e acabou perdendo por 9 a 1 em julgamento concluído no plenário virtual da Corte no mês passado – apenas o ministro André Mendonça, indicado ao STF pelo próprio Bolsonaro, concordou com o impedimento de Moraes.
Conforme o blog, Bolsonaro insistia em tentar retirar a trama golpista de Moraes para manter mobilizada a militância, que elegeu o ministro do Supremo como uma espécie de “inimigo público” número 1 – além de “colocar o Supremo sob julgamento da própria opinião pública”.
Agora, com o indiciamento pela PF nos inquéritos da trama golpista, das joias sauditas e da fraude na carteira de vacinação, a defesa do ex-presidente decidiu recalcular a rota em meio à expectativa com a apresentação da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), que pode pavimentar o caminho de uma futura prisão.
Só os crimes atribuídos pela Polícia Federal a Bolsonaro no caso da trama golpista – tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de direito e organização criminosa – totalizam uma pena que pode chegar a 28 anos de prisão.
O ex-presidente é apontado como líder da organização criminosa, que atuou, “mediante divisão de tarefas, com o fim de obtenção de vantagem consistente em tentar manter o então presidente da República Jair Bolsonaro no poder”.
Um dos pontos destacados pelos investigadores é a existência de cinco eixos de atuação interligados envolvendo a atuação dessa organização, que incluiriam ataques virtuais a opositores e às instituições e às urnas eletrônicas.
No Ar: Pampa Na Madrugada