Quinta-feira, 13 de Março de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 13 de março de 2025
A história tem sido marcada por lideranças, sejam imperadores, monarcas ou autoridades eleitas, cujos estilos de governo e caráter refletiram e refletem não apenas suas personalidades individuais, mas também o espírito de suas respectivas épocas. Dois exemplos emblemáticos, quase antagônicos, são Nero (54-68 d.C.) e Marco Aurélio (161-180 d.C.), que governaram sob circunstâncias distintas e deixaram legados profundamente contrastantes. Nero ascendeu ao trono ainda jovem, com apenas 16 anos, e seu governo foi caracterizado por extravagância, suspeitas de conspiração e uma relação conflituosa com o Senado e a aristocracia romana. Em contraste absoluto, Marco Aurélio ficou conhecido como o “imperador filósofo”, um governante estoico que via sua função como um dever moral em favor do bem comum. Seu reinado ocorreu mais de um século após Nero, durante um momento em que Roma já havia atingido seu apogeu territorial, mas começava a enfrentar desafios cada vez maiores. As fronteiras estavam sob constante pressão, especialmente pelos germanos e partas, e uma peste devastadora assolou o império.
Há, nesse exemplo histórico, semelhanças e inquietações comuns também ao tempo presente, no qual, quase que indiferente aos avanços institucionais que floresceram junto com o Iluminismo e os progressos civilizacionais decorrentes, ainda testemunhamos caprichosos devaneios por parte de alguns importantes líderes modernos. Essa falta de contenção e observância aos ritos constitucionais, tão tipicamente caracterizada hoje pela praga do populismo, converte-se numa ameaça de tão larga envergadura quanto aquela que assolou o Império Romano, sem que hoje contemos com o anteparo da sabedoria de um Marco Aurélio, por exemplo. Aliás, em Meditações. 12.27, o Imperador Filósofo, alertava para que as pessoas tivessem uma lista mental daqueles que arderam com cólera e ressentimento por um motivo qualquer, mesmo aqueles mais renomados por sucesso, infortúnio, más ações ou qualquer distinção especial. Pergunta, então, a ti mesmo, sugeria Marco Aurélio, o que restou de tudo isso? Fumaça, poeira, ingredientes de um simples mito tentando ser lenda. Quão desolador constatar que pouco aprendemos. Basta acessar a qualquer mídia para deparar com a insanidade sendo propagada ao estilo “Nero de ser”, embora anos de potencial sabedoria estejam ao dispor dos governantes.
Marco Aurélio foi um desses alicerces, cuja sabedoria poderia iluminar o pensamento daqueles que não olham para além dos seus próprios interesses, cujo exemplo mais expoente ocupa hoje a Presidência dos EUA. Trump, assim como Nero e ao avesso de Marco Aurelio, age como se não houvesse amanhã, usando seu martelo diplomático para assombrar o mundo e estabelecer as regras que brotam do seu modo bastante singular de enxergar a realidade.
Numa hipotética viagem no tempo, em visita à Casa Branca, sentado no Salão Oval, com ar mais circunspecto e sereno que Zelensky quando em sua desafortunada reunião no mesmo local há poucas semanas, o Imperador Romano diria que a esmagadora maioria dos governantes que o antecederam mal eram lembrados poucos anos depois. Por mais que haviam conquistado, por mais que tenham imposto a sua vontade ao mundo, era como se tivessem construídos apenas castelos de areia, fadados a serem apagados pelo implacável vento do tempo. O mesmo, prosseguiria Marco Aurélio, agora falando para um mais atento Presidente americano, pode ser dito daqueles que governaram movidos pelo ódio, pela obsessão, pela vaidade, arrogância ou extrema ambição, todos, exatamente todos serão apenas pó em escassos anos. Veja, finaliza o Imperador Filósofo, até Alexandre, O Grande, um dos homens mais ambiciosos do mundo, foi enterrado no mesmo solo que seu condutor de mulas. Finalmente, todos iremos morrer e ser pouco a pouco esquecidos. Muito provavelmente, após as despedidas protocolares, Trump diria à comitiva que participou do colóquio com o sábio Marco Aurélio: “Mas quem ele pensa que é”?
* Edson Bündchen
* Instagram: @edsonbundchen
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