Sexta-feira, 22 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 7 de março de 2022
Sally Snowman adora ficar sozinha. Como guardiã do Boston Light, um farol centenário em Little Brewster Island, no porto de Boston, ela tem muita prática. Durante a maior parte dos últimos 19 anos, nos meses de abril a outubro, ela morou lá.
Ela preenche os dias com trabalho, seja limpando as janelas, cortando a grama ou varrendo a escada de 90 degraus em espiral da torre do farol. Ela lê muito e assiste a muitos pores do sol. E ela aprecia cada minuto. “É um alívio estar na ilha”, diz Snowman, de 70 anos.
Quando ela está sozinha, “as rodas param de girar”. Para a guardiã, o tempo aproveitando a própria companhia é restaurador. Mas nem todo mundo sente o mesmo em relação à solidão e, nos últimos dois anos, a pandemia forçou um pouco desse sentimento em todos nós. Temos visto menos amigos e passamos mais tempo em casa. Algumas pessoas se sentiram mais solitárias, principalmente se já eram solteiras ou moravam sozinhas.
À medida que entramos em uma nova fase da pandemia que é menos “limpar todas as compras” e mais “ok, acho que esse é o nosso novo normal”, períodos ocasionais de isolamento podem ser algo que acabamos de incluir em nossas vidas, como cartões de vacinação digitais ou ter uma gaveta dedicada para máscaras.
Ainda que você esteja esperando mais ou menos tempo sozinho nos dias de hoje, a solidão é algo que você pode apreciar.
A solidão é mais agradável se você estiver no controle dela. “Como nos sentimos em relação ao tempo a sós depende em grande parte do que fazemos com ele. As pessoas que buscam a solidão por vontade própria tendem a relatar que se sentem cheias – como se estivessem cheias de ideias, pensamentos ou coisas para fazer”, explica Virginia Thomas, professora assistente de psicologia da universidade Middlebury College que estuda a solidão.
Com isso, o tempo a sós se torna diferente da solidão, um estado negativo no qual você está “desconectado de outras pessoas e se sente vazio”.
A chave é ver a solidão como uma escolha, não como um castigo. Em uma pesquisa de 2019, Thomas descobriu que os adolescentes que deliberadamente buscavam a solidão apresentavam níveis mais altos de bem-estar e eram menos solitários do que seus colegas que estavam sozinhos apenas por causa das circunstâncias. O mesmo aconteceu em adultos jovens de 18 a 25 anos, que também apresentaram níveis mais altos de crescimento pessoal e autoaceitação, e níveis mais baixos de depressão. Na verdade, segundo Thomas, a maioria das pesquisas mostra que nos beneficiamos mais da solidão à medida que envelhecemos e à medida que desenvolvemos mais controle sobre nosso tempo, juntamente com melhores habilidades cognitivas e emocionais para nos ajudar a usá-lo de forma mais construtiva.
Jenn Drummond, uma alpinista em Park City, Utah, passou muito tempo sozinha enquanto treinava para se tornar a primeira mulher a escalar os Seven Second Summits (Os Sete Segundos Cumes), que são as segundas montanhas mais altas – e geralmente mais difíceis – em cada continente. Se ela se pega “entrando em um padrão melancólico”, ela se lembra de que está no comando.
“Uma pequena mudança de ‘a solidão está acontecendo comigo’ para ‘a solidão está acontecendo para mim’, faz a maior diferença”, conta Drummond, 41 anos.
Você pode aprender a gostar da solidão, mesmo que não seja introvertido
Você pode supor que são apenas os introvertidos que se beneficiam da solidão, mas a pesquisa, de acordo com Thomas, é mista sobre se eles são realmente mais habilidosos em ficar sozinhos. Para ela, “qualquer pessoa, com qualquer personalidade, pode aproveitar – com uma ressalva: se souber usar bem”.
Isso significa decidir o que você quer do seu tempo, seja lidando com uma situação difícil, aproveitando a criatividade ou apenas curtindo cinco minutos sem que alguém com menos de cinco anos lhe peça algo.
“Sem termos um objetivo, podemos provocar uma falsa sensação de fracasso, como se decidíssemos que vamos apenas jogar espaguete na parede e depois ficássemos “Ah, eu não sou boa em ficar sozinha”, afirma Gina Moffa, psicoterapeuta de trauma em Nova York.
“A solidão pode ter um efeito calmante em nossas mentes e corpos, o que pode ser desanimador para as pessoas que geralmente associam felicidade a sentir-se energizado. Eles geralmente se sentem entediados ou inquietos”, diz Thomas.
“A chave para dissipar o desconforto é substituí-lo por algo agradável. Se você não sabe por onde começar, pense em algo que você gosta de fazer em geral e tente fazer sozinho”, recomenda Moffa.
E não, passar muito tempo no Twitter não conta como solidão saudável. Em um estudo de 2020, Thomas acompanhou 69 participantes por uma semana, concluindo que eles estavam mais emocionalmente satisfeitos com sua solidão quando estavam realmente sozinhos, sem seus telefones, do que quando estavam sozinhos, mas ainda com seus telefones.
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