Segunda-feira, 16 de Setembro de 2024

Home Brasil A taxa básica de juros não subia tanto em uma só reunião do Banco Central desde 2002

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A inflação persistente e o aumento do risco fiscal, com a manobra do governo para tentar alterar o teto de gastos (regra que limita as despesas à inflação), levaram o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) a acelerar o ritmo de correção da Selic, que subiu 1,5 ponto porcentual e foi de 6,25% para 7,75% ao ano.

Uma comparação histórica mostra que a taxa básica de juros não subia tanto em uma única reunião do Copom desde dezembro de 2002, quando passou de 22% para 25% ao ano. Com o anúncio de ontem, chegou agora a seu maior patamar desde outubro de 2017 (7,5%).

Por meio de um comunicado, o Copom já indicou que deve fazer um novo ajuste da mesma magnitude na sua próxima reunião, em dezembro. Assim, a Selic encerraria o ano em 9,25%.

Um dos principais objetivos do BC é manter a inflação sob controle, e o instrumento usado para alcançar isso é a taxa de juros. Historicamente, juros altos ajudam a esfriar a economia.

Mas a disparada dos preços não tem dado trégua, e a previsão é de que a inflação feche o ano próxima de 9% – acima do teto da meta (de 5,25%).

O Copom fala disso no seu comunicado, ao repetir que “os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação”.

Um outro componente, porém, entrou na conta: a tentativa de mexer no teto de gastos, abrindo espaço para mais despesas do governo em 2022 – ano de eleições.

Para o BC, a manobra pesou na deterioração das expectativas de inflação, mesmo com os principais indicadores das contas públicas apresentando melhora nos últimos meses.

“O Comitê avalia que recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos”, afirma BC.

Adequação

O aumento de 1,5 ponto porcentual da taxa Selic foi adequado para atender às condições do momento, avalia a Órama Investimentos. Conforme a corretora, uma aceleração mais forte do ritmo de aperto monetário poderia ser prejudicial, mesmo com a recente piora do cenário fiscal do País.

Em relatório, o economista-chefe da Órama, Alexandre Espirito Santo, e a analista de macroeconomia Elisa Andrade afirmam que a inflação corrente continua impulsionada por choques de oferta. Portanto, dizem os analistas, é “prematura” uma visão de relação imediata entre os ruídos políticos atuais com a demanda agregada.

“É provável, inclusive, que movimentos mais acentuados de alta tragam desaquecimento da atividade, que procura uma retomada mais consistente para o ano que vem (com o progresso da vacinação), além de poder trazer o espectro da dominância fiscal”, avalia a Órama, em relatório.

Para o economista-chefe do banco Original, Marco Caruso, decisão foi acertada e compatível com uma deterioração no cenário macroeconômico pintado pelo Banco Central.

Para ele, contudo, o comunicado feito nesta quarta-feira ainda mostra uma resistência do BC de entregar todo o juro que está hoje implícito na curva de juros, que mostra uma Selic acima de 11%.

A estrategista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira avalia que a medida atendeu à ponta mais “dove” das estimativas do mercado e afirma que o destaque da decisão foi um comunicado seco da autoridade monetária, que não explicitou a sua avaliação a respeito das propostas de mudanças no teto dos gastos.

Após a divulgação de planos do governo para pagar parte de um auxílio de R$ 400 em 2022 e para alterar o indexador fiscal, nas duas últimas semanas, a mediana de mercado para o aumento de juros de outubro saltou de 1 ponto porcentual, para 1,5 ponto.

Parte do mercado chegou a prever ajustes mais fortes nesta reunião, de 2 a 3 pontos. Segundo ela, a menção do comunicado a um aperto monetário que avança “ainda mais em território contracionista” indica que o Banco Central (BC) também passou a enxergar uma taxa de juros maior no fim do ciclo.

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