Domingo, 22 de Dezembro de 2024

Home Rio Grande do Sul Abrigos em Porto Alegre têm crianças separadas da família

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O ônibus da Defesa Civil de Porto Alegre já estava lotado quando passou nas ruas alagadas nas proximidades da Arena do Grêmio, no sábado (4). Não cabia quase ninguém. No desespero, a mãe Luciléia Olivera da Rosa decidiu resgatar os dois filhos, de 10 e 13 anos, e esperou o próximo coletivo. Mas o outro veículo foi para um abrigo diferente. Pais e filhos se separaram no meio do maior desastre climático da história do Rio Grande do Sul.

De acordo com o Conselho Tutelar de Canoas, são 104 crianças e adolescentes que ainda foram encontrados pelas famílias na cidade.
Botes, motos aquáticas e até geladeiras improvisadas têm sido usadas para os salvamentos, feitos por autoridades do poder público local, das Forças Armadas e por voluntários. Em muitos casos, crianças e idosos são resgatados de forma prioritária, o que pode dividir famílias temporariamente.

É uma situação ainda mais dramática na luta para se salvar das enchentes que deixaram 203 mil pessoas fora de casa, entre desalojados e desabrigados, conforme a Defesa Civil. São 95 mortos e 131 pessoas desaparecidas.

A empresária Renata Ryff Moreira, que vem atuando como voluntária no apoio a desabrigados, usou suas próprias redes sociais para reunir famílias divididas. Ela ajudou que Luciléia reencontrasse os filhos após quase três dias de separação. Todos estão abrigados no Grêmio Náutico União, um dos primeiros locais a acolher os desabrigados, ainda na semana passada. O ginásio de basquete acolhe 280 pessoas.

“Os dois irmãos estavam bem ansiosos. Perguntavam se já encontramos a mãe ou se sabíamos onde ela estava”, conta a empresária.

A vulnerabilidade de crianças desacompanhadas em abrigos tem sido uma situação tão comum e delicada que mobiliza voluntários. A psicóloga Daniela Reis, a designer de experiência Yasmim Seadi e a designer de marca Julia Medeiros uniram esforços para criar página Achamos sua criança no Instagram.

É um perfil para famílias encontrarem suas crianças perdidas durante as enchentes. O objetivo é consolidar e organizar informações para facilitar a ação dos conselhos tutelares, responsáveis pelo acolhimento e encaminhamento das crianças e adolescentes.

Quem encontra uma criança pode enviar a foto com nome e local. A imagem é publicada na página para que a comunidade possa agilizar o reencontro.

A postagem é mantida até que a família seja encontrada. A ideia nasceu inspirada na atuação de Daniela nos abrigos. “As crianças nem sempre compreendem exatamente o que está acontecendo e demoram a perceber a dimensão da tragédia”, diz a psicóloga.

As voluntárias também desempenham um papel de orientação da população. “Em alguns casos, os voluntários querem ajudar, mas não sabem bem como fazer e acabam levando as crianças para casa”, alerta Júlia.

Em pouco mais de três dias, a página já soma quase 80 mil seguidores. Além de facilitar a reunião das famílias, o site se tornou referência para quem quer fazer doações e até se oferecer para ser voluntário.

“As coisas estão crescendo rapidamente porque há grande demanda de informações de forma rápida e as redes sociais facilitam bastante”, diz Yasmim.

Em Porto Alegre, o Ministério Público do Rio Grande do Sul se reuniu com um grupo de conselheiros tutelares de Porto Alegre para discutir um protocolo de atuação conjunta em relação ao acompanhamento de crianças e adolescentes abrigados.

O procurador-geral de Justiça, Alexandre Saltz, pediu atuação mais proativa dos conselheiros nos abrigos e também nos contatos com as famílias. A cidade ainda não contabilizou o total de crianças desacompanhadas ou encaminhadas para os conselhos tutelares durante a tragédia.

“O que se espera do conselheiro tutelar é que ele esteja em contato com a comunidade para defender aquelas crianças e adolescentes que precisam de acolhimento. É importante que tenhamos um alinhamento”, disse o procurador-geral de Justiça.

Em Canoas, na Grande Porto Alegre, o prédio da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), local que concentra o maior número de desabrigados do município, passou a receber todas as crianças da cidade.

“Não há qualquer criança desacompanhada no ambiente da Ulbra. Está tudo sob controle”, afirmou o promotor de Justiça da Infância e Juventude de Canoas, João Paulo Fontoura de Medeiros, nas redes sociais, diante de mensagens que informavam crianças desacompanhadas no local. (Gonçalo Junior/O Estado de S. Paulo)

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