Sexta-feira, 22 de Novembro de 2024

Home Comportamento Adolescentes e jovens dizem que o clima externo pode afastá-los da política

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Uma geração nativa digital, que sabe os efeitos nocivos do discurso de ódio e de ações de cancelamento nas redes sociais. E que não quer que a disputa eleitoral de 2022 seja marcada pela polarização. Muito pelo contrário. Adolescentes e jovens no início da jornada como eleitores dizem que o clima externo pode afastá-los da política, algo preocupante em um cenário com abstenções em alta nessa faixa etária nas últimas eleições e volume ainda baixo de pedidos de novos títulos de eleitor.

“Acho terrível essa polarização. Parece que está tudo para um dos lados”, diz Beatriz Niza, de 19 anos. “A polarização afeta as esferas do setor público e da política e não se consegue avançar.”

Uma enquete realizada digitalmente coletou 604 respostas de adolescentes e jovens de 15 a 25 anos, de diferentes regiões brasileiras e com diferentes condições socioeconômicas. A maioria das respostas partiu de jovens de 16 anos, que ainda não são obrigados a votar. Mesmo assim, mais da metade dos entrevistados (54%) disse que vai às urnas em 2022 e 58% acreditam que o voto é uma chance de mudar o futuro.

Quase um quarto deles afirmou se incomodar com o clima de brigas e polarização.

As respostas estão em linha com uma pesquisa divulgada em setembro pelo Instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec, formado por executivos do antigo Ibope). Foram entrevistados 1.008 jovens  — abrangendo uma faixa etária de 16 a 34 anos.

Para 83% dos adolescentes ouvidos, agressividade e intolerância se tornaram sinônimo de discussão política nas redes sociais. O medo do cancelamento, essa espécie de linchamento digital, apareceu como motivo para que 59% dos entrevistados se afastem do debate.

Apesar do cenário negativo, a pesquisa do Ipec mostra a ânsia dos jovens por participação. Entre os que estão em idade para o voto optativo, mais de 80% manifestaram a intenção de tirar o título antes dos 18 anos. O principal motivo para isso é o “momento político preocupante” (29% das respostas).

“Existe uma fome enorme de participação e a gente está servindo um prato de polarização”, afirma Nana Queiroz, uma das coordenadoras da pesquisa. Ela diz que o fantasma do cancelamento assombra com intensidade os mais novos. “Quanto mais jovem, mais pobre e com menos escolaridade, maior medo. É uma cultura de exclusões.”

Nana observa que jovens alinhados com a direita e com a esquerda consideram os próprios grupos intolerantes. “Isso significa que o campo político que se identificam não os acolhe suficientemente. Se continuarmos assim, vamos perder esses jovens ou para a radicalização ou para a apatia.”

Desde que a Constituição de 1988 tornou o voto optativo entre 16 e 17 anos, a adesão dos mais novos vem tendo efeito positivo na participação política, mas o engajamento vem caindo. “Nas últimas duas eleições, particularmente em 2018, houve queda. Menos jovens participaram”, explica o cientista político José Álvaro Moisés.

Até agora, pouco mais de 631 mil adolescentes na faixa de 16 a 17 anos já emitiram o documento, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em dezembro de 2017, faltando o mesmo tempo para as eleições de 2018, já haviam sido emitidos aproximadamente 1,3 milhão de títulos para pessoas do grupo do voto facultativo.

Em 2014, pessoas de 18 e 20 anos representaram 6,16% dos eleitores. Já em 2018, última votação para presidente, governadores e representantes estaduais, o porcentual caiu para 5,55%, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Outro levantamento mostra ainda que o número de filiados de partidos com até 24 anos caiu pela metade entre dezembro de 2008 e o mesmo mês de 2020, enquanto o número de filiados total cresceu 32%.

Mas isso não tem a ver necessariamente com falta de interesse político. A identidade partidária é que perdeu espaço, explica Luciana Veiga, cientista política e professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). “A gente vê muitos jovens com atitudes políticas, mas que rejeitam a identidade partidária. Eles estão mais atentos a causas do que a partidos.”

Ativista dos grupos Fridays For Future Brasil e Eco Pelo Clima, a estudante gaúcha Amália Buchweitz Garcez, de 18 anos, é um reflexo disso. “Luto pela justiça climática com o entendimento que isso significa também justiça social”, afirma. Amália fez parte dos protestos que conseguiram interromper a construção da Mina Guaíba, no Rio Grande do Sul, que seria a maior mina de carvão mineral a céu aberto do País.

A mobilização voltada para causas, como a de Amália, é uma tendência. Se antes o engajamento era feito prioritariamente no movimento estudantil clássico, as redes sociais promoveram a organização de coletivos direcionados a temas como a representatividade negra, LGBTQIA+, feminina e de pessoas com deficiência (PCD).

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