Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 3 de abril de 2022
Longe dos holofotes, voltados nos últimos anos para a vitamina D, outro nutriente, ou a falta dele, entrou no radar de cientistas. Um novo estudo, realizado por pesquisadores da Universidade Flinders, na Austrália, indica que o comprometimento cognitivo pode estar relacionado à deficiência de vitamina C.
A descoberta alerta para os baixos níveis dessa vitamina, especialmente entre idosos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 25% e 30% de pessoas nesta faixa etária têm deficiência do nutriente.
“Pesquisas anteriores mostraram que a vitamina C desempenha um papel significativo no funcionamento do cérebro, e sua a deficiência pode estar associada ao comprometimento cognitivo, depressão e confusão mental”, diz o autor principal do estudo, Yogesh Sharma, professor de medicina na universidade. O comprometimento cognitivo provoca dificuldade em lembrar coisas, se concentrar ou tomar decisões, por exemplo.
A pesquisa, que envolveu 160 pacientes internados com mais de 75 anos, mostrou que os escores da função cognitiva foram significativamente menores entre os pacientes com deficiência de vitamina C, chegando a quase três vezes mais chances de desenvolver problemas do que nos idosos bem nutridos.
A vitamina C é um poderoso antioxidante, participando de um processo de limpeza do organismo ao atuar na retirada dos radicais livres. Assim, tem papel importante contra o envelhecimento, não só da pele, pelo qual é mais conhecido, mas também na proteção das células cerebrais.
Para o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, o médico nutrólogo Helio Vannucchi, o novo estudo reforça pesquisas europeias que indicam a importância da vitamina na saúde do cérebro, com destaque para os mais velhos.
“A vitamina C faz parte de um sistema enzimático. Um deles promove a formação de colágeno, uma substância que funciona como um ligamento entre uma célula e outra na camada que envolve os vasos. Se faltar esse colágeno, as células não se juntam adequadamente, aí ocorre extravasamento do sangue para fora dos vasos, provocando micro-hemorragias, que levam também a uma fragilidade muscular, um quadro também típico do idoso”, explica o nutrólogo.
A deficiência não é tão comum em adultos jovens. O idoso, porém, corre mais risco de uma má alimentação. Por trás disso, há fatores socioeconômicos, já que frutas, verduras e legumes são mais caros, dificuldade de locomoção para adquirir produtos frescos, problemas de mastigação que atrapalham a absorção e a própria falta de apetite provocada pela idade. Tudo isso contribui para a falta de vitamina C no organismo.
Pele ressecada, cabelo quebradiço, dificuldade de cicatrização, envelhecimento intenso da pele e gengiva sangrando são alguns dos sinais da falta da vitamina C. Mas, para atestar a deficiência, é preciso que seja realizado um exame de sangue.
Alimentação
Helio Vannucchi afirma que a suplementação dessa vitamina só deve ser feita com prescrição médica, já que, normalmente, não é necessária e pode ser tóxica.
“A minha máxima é que vitamina a gente compra na quitanda e não na farmácia. As pessoas compram frascos de vitamina C, vão tomando sem orientação e correm risco de quadros tóxicos, com diarreia e formação de cálculos urinários. A recomendação é de 75 mg por dia para a mulher e 90 mg para o homem. Se recebe isso está ok, não precisa de mais. O limite é 1 g e, acima disso, corre risco de ter complicações.
A nutricionista Priscilla Primi também defende que o primeiro passo é melhorar a alimentação. Segundo ela, no caso da vitamina C, quanto mais tomar, menos o organismo vai absorver. E, como é hidrossolúvel, ela é excretada, ou seja, o corpo não armazena para depois, como faz com a vitamina D.
“Quantidades muito altas, acima de 1 grama, que é o que está nas pastilhas efervescentes, pode sobrecarregar o sistema renal e ocasionar até pedra no rim em pessoas com tendência. Se ela tem ingestão boa de fruta, uma ou duas por dia, não precisa suplementar. Já é a quantidade suficiente”, explica.
A maior oferta de vitamina C vem das frutas. Laranja, limão, acerola, goiaba, mamão, kiwi, caju e tangerina são chamadas de alimento fonte.
“Mas se a pessoa tem dieta rica em outras frutas, verduras e legumes, não vai ter deficiência, porque a maioria tem vitamina C, ainda que em quantidades menores”, diz.
Além das frutas citadas, essa vitamina pode ser encontrada em outros alimentos, menos reconhecidos pelo nutriente, como pimentão, agrião, brócolis, couve-flor, rúcula, couve, tomate e até na alface. Há frutas também, para todos os gostos, acrescentando à lista maracujá, abacaxi, morango, manga, uva, maçã e banana.
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