Terça-feira, 04 de Fevereiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 2 de fevereiro de 2025
O presidente Lula (PT) não nota que está encastelado. Aliados e apoiadores defendem o petista, mas se dizem preocupados com a distância que ele está da administração.
O que aconteceu
O ponto é que Lula acaba blindado em muitas situações. Para aliados, inclusive os que frequentam o Palácio do Planalto, quase ninguém fala a verdade para o presidente —e o tempo para respostas em momentos-chave muitas vezes depende disso.
Isso ficou claro na crise do Pix. Lula só teve conhecimento do caso quando a bolha já havia explodido e nem se lembrava da portaria que havia gerado a confusão, divulgada em outubro. Mais do que o tempo da comunicação, em transição naquele momento, o tempo de reação do presidente já não é o mesmo, relatam pessoas próximas.
Sidônio Palmeira quer mudar isso. O novo ministro da Secom (Secretaria de Comunicação) pediu para o presidente falar mais —o que já começou com uma entrevista a jornalistas no Planalto nesta semana. Ele tenta que o petista tome mais controle da narrativa e vá menos a eventos cotidianos.
Ninguém ‘escreve’ ao presidente
Um debate antigo no Planalto é quem fala as verdades ao presidente. Para aliados, a cúpula governista com acesso direto resiste a passar certas informações a Lula, algo que o próprio já cobrou em público. O resultado é que ele acaba blindado.
Além de evitarem más notícias, faltam pessoas que “digam a real”. O questionamento que fazem aliados é: quem o retruca? Se, nos primeiros mandatos, havia figuras como José Dirceu, Gilberto Carvalho, Luiz Gushiken e Luiz Dulci, que batiam boca com o petista (e o chamavam de “Lula”, não de presidente), hoje quase ninguém cumpre esse papel.
Todos esses se afastaram ou foram afastados. Gushiken morreu. Na cúpula atual, dizem, os elogios são em excesso, sempre destacando “a liderança do presidente Lula”, e os toques, minoritários. Entre os poucos, hoje, que dizem a verdade estão o senador Jaques Wagner (PT-BA), líder do governo no Senado, o fotógrafo Ricardo Stuckert e Paulo Okamotto, presidente da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT.
Lula também tem negociado menos, algo que sempre gostou de fazer. Aos finais de semana, não recebe mais aliados nem parlamentares, promove poucos (ou quase nenhum) churrascos, geralmente passando seus dias no Palácio da Alvorada com a primeira-dama Janja da Silva.
A oposição atribui isso ao cansaço e à idade do presidente (79 anos), enquanto aliados veem isolamento. Em muitas crises, como a do Pix e a das compras da Shopee, Lula descobre a onda quando já virou um tsunami, não quando era uma marolinha.
O Planalto rebate que Lula recebe a todos. O presidente está sempre com agenda cheia, com encontros que abrangem banqueiros, lideranças do Congresso, empresários, pessoas do terceiro setor e de movimentos sociais, como o MST .
Sidônio quer tirar da clausura
O novo ministro quer mudar isso. Vindo direto do mercado privado, o marqueteiro chegou com a missão de trazer uma “nova cara” ao governo e quer, na mesma estratégia da campanha vitoriosa de 2022, que esta cara seja a de Lula.
O plano é colocar o presidente no centro do debate e das atenções. Como já fez na coletiva da última quinta (30), ele quer que Lula paute os temas nacionais, e não seja pautado por eles. A ideia é tirar o governo da defensiva, correndo atrás dos pepinos depois que eles se tornaram públicos.
Falar mais com a imprensa é só parte deste plano. Sidônio quer que o presidente participe mais de pautas estratégicas, e não de diversos eventos no Palácio do Planalto, recheados de falas longas e vídeos institucionais que dispersam a atenção, e dê mais entrevistas, viaje e participe de material online.
Lula à frente. Se a reclamação de Lula é que os feitos do governo não chegam à ponta (ou seja, a população), Sidônio vê o presidente como ponta de lança para esta mudança. Suas mensagens têm de ser diretas e as crises, resolvidas por falas dele, não por intermediários.
É o que Sidônio queria ter feito na crise do Pix. A confusão, pior episódio para o governo neste terceiro mandato, estourou bem em meio à transição da Secom. Quando Sidônio tomou as rédeas, avaliou que já era tarde para colocar Lula no ar. Foi feita uma tentativa de vídeo nas redes sociais, mas não viralizou.
Não vai deixar de ser um desafio. No Planalto, ponderam que o presidente sempre foi teimoso e tem suas manias, seu estilo e gosta de certos eventos e agendas. Por outro lado, também gosta de aparecer, então o publicitário deverá aproveitar isso. As informações são do portal UOL.
No Ar: Pampa Na Madrugada