Quinta-feira, 28 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 9 de novembro de 2021
Alimentos fermentados como iogurte, kimchi, chucrute e kombucha estão há muito tempo na dieta básica em muitas partes do mundo. De fato, por milhares de anos, diferentes culturas dependeram da fermentação para produzir pão e queijo, conservar carnes e vegetais e realçar os sabores e texturas do que comem.
Agora os cientistas estão descobrindo que os alimentos fermentados podem ter efeitos intrigantes em nosso intestino. Comer esses alimentos pode alterar a composição das trilhões de bactérias, vírus e fungos que habitam nosso trato intestinal, conhecidos como microbioma intestinal. Eles também podem levar a níveis mais baixos de inflamação em todo o corpo, que os cientistas associam cada vez mais a uma série de doenças ligadas ao envelhecimento.
As últimas descobertas vêm de um estudo publicado na revista Cell, realizado por pesquisadores da Universidade de Stanford. Eles queriam ver que impacto os alimentos fermentados poderiam ter no intestino e no sistema imunológico, e como isso poderia se comparar a uma dieta relativamente saudável e rica em fibra, cheia de frutas, vegetais, feijão e grãos integrais.
Para o estudo, os pesquisadores recrutaram 36 adultos saudáveis e os dividiram aleatoriamente em grupos. Um deles foi designado para aumentar o consumo de vegetais ricos em fibras, enquanto um segundo foi instruído a comer muitos alimentos fermentados, incluindo iogurte, chucrute, kefir, kombucha e kimchi.
Esses alimentos são feitos pela combinação de leite, vegetais e outros ingredientes crus com microrganismos como fermento e bactérias. Como resultado, os alimentos fermentados costumam estar repletos de microrganismos vivos, bem como subprodutos do processo de fermentação que incluem várias vitaminas e ácidos lático e cítrico.
Acompanhamento
Os participantes seguiram as dietas por dez semanas, enquanto os pesquisadores rastreavam marcadores de inflamação em seu sangue e procuravam por mudanças em seus microbiomas intestinais. Ao final do estudo, o primeiro grupo dobrou a ingestão de fibras, de cerca de 22 gramas por dia para 45 gramas diárias, o que é quase o triplo da ingestão média americana. O segundo grupo partiu de quase nenhum alimento fermentado para a ingestão de seis porções por dia. Para chegar lá, bastam uma xícara de iogurte no café da manhã, uma garrafa kombucha no almoço e uma xícara de kimchi no jantar.
Após o período de acompanhamento, nenhum dos grupos apresentou mudanças significativas nas medidas de saúde imunológica geral. Mas o grupo de alimentos fermentados mostrou reduções marcantes em 19 compostos inflamatórios. Entre eles a interleucina-6, uma proteína que tende a ser elevada em doenças como diabetes tipo 2 e artrite reumatoide. O grupo rico em fibras, em contraste, não mostrou uma diminuição comparável.
Para as pessoas no grupo dos fermentados, as reduções nos marcadores inflamatórios coincidiram com as mudanças em seus intestinos. Eles começaram a abrigar uma gama mais ampla e diversa de micróbios, algo semelhante ao que foi observado em estudos recentes com esses alimentos.
A nova pesquisa descobriu que quanto mais alimentos fermentados as pessoas comiam, maior o número de espécies microbianas que floresciam em seus intestinos. Ainda assim, surpreendentemente, apenas 5% dos novos micróbios em seus intestinos pareciam vir diretamente dos itens acrescidos à dieta.
“Acho que havia micróbios de abaixo do nível de detecção que floresceram ou os alimentos fermentados fizeram algo que permitiu o rápido recrutamento de outros micróbios para o intestino”, diz Justin Sonnenburg, autor do estudo e professor de microbiologia e imunologia em Stanford.
Níveis mais altos de diversidade do microbioma intestinal são geralmente considerados uma coisa boa. Estudos relacionaram taxas mais baixas a problemas como obesidade, diabetes tipo 2 , doenças metabólicas e outros males. Pessoas que vivem em nações industrializadas tendem a ter menos diversidade microbiana em seus intestinos do que aquelas que vivem em sociedades mais tradicionais e não industrializadas.
Vida moderna
Alguns cientistas especulam que fatores do estilo de vida moderno, como dietas ricas em alimentos processados, estresse crônico e inatividade física, podem suprimir o crescimento de micróbios intestinais potencialmente benéficos. Outros discutem que a correlação entre diversos microbiomas e boa saúde é exagerada e que os baixos níveis de diversidade de microbiomas comuns em nações desenvolvidas podem ser adequadamente adaptados aos dias de hoje.
Entre os especialistas, os benefícios de uma dieta rica em fibras são inegáveis. Além de ajudarem a reduzir a incidência de doenças crônicas, elas são consideradas aliadas da saúde intestinal. Os micróbios presentes nesse ambiente se alimentam delas e contribuem com subprodutos benéficos, como ácidos graxos de cadeia curta, que podem reduzir a inflamação.
Os pesquisadores de Stanford esperavam que o consumo de mais fibras teria um grande impacto na composição do microbioma. Em vez disso, o grupo que incluiu esses alimentos mostrou pouca mudança na diversidade de micróbios. Mas, quando os cientistas olharam com mais atenção, descobriram algo impressionante. Pessoas que começaram com variedade maior de microrganismos tiveram reduções na inflamação comendo mais fibras, enquanto aqueles que tinham um ambiente menos múltiplo apresentaram ligeiros aumentos na inflamação.
Os pesquisadores disseram suspeitar que as pessoas com baixa diversidade de microbioma podem não ter os micróbios certos para digerir todas as fibras que consumiram. Isso ajudaria a explicar por que algumas pessoas experimentam inchaço e outros problemas gastrointestinais desconfortáveis quando comem muita fibra.
No Ar: Pampa Na Madrugada