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Por Redação Rádio Pampa | 8 de julho de 2023
Um novo medicamento aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 19 de junho pode ajudar a reduzir o risco de infarto e derrame (AVC) entre indivíduos que já tiveram esses problemas – e, portanto, são especialmente suscetíveis a enfrentá-los novamente. Trata-se de uma injeção – a inclisirana, da farmacêutica Novartis –, cujo intuito é controlar o colesterol ruim (LDL), um dos principais fatores de risco por trás desses eventos cardíacos.
O remédio age bloqueando temporariamente a produção de uma proteína chamada PCSK9, que é responsável por degradar os receptores que captam o LDL do sangue e o levam para dentro do fígado para ser eliminado. Então, ao bloquear a tal enzima, o corpo do paciente tem mais condições de se livrar do colesterol ruim, evitando que ele se acumule nas artérias – o que contribui para a ocorrência de um infarto ou AVC.
De acordo com a série de estudos que comprovou a eficácia e segurança da inclisirana, com duas aplicações ao ano é possível reduzir, em média, 52% dos níveis de LDL. Os testes foram feitos em pacientes que já tomavam a dosagem máxima tolerada de estatina – o principal medicamento utilizado hoje com essa finalidade –, mas ainda não tinham alcançado a meta, de acordo com seu risco cardiovascular.
A título de comparação, um estudo chamado WOSCOPS, que serve de referência para o Ministério da Saúde do Brasil sobre doenças do coração e medidas de prevenção, diz que, sozinhas, as estatinas conseguem reduzir apenas 26% do colesterol, aproximadamente. Os dois remédios poderão ser combinados para garantir maior efeito contra o LDL.
A inclisirana já é comercializada na União Europeia e nos Estados Unidos desde 2020 e 2021, respectivamente, segundo a Novartis. A expectativa é que o produto chegue às farmácias brasileiras dentro de aproximadamente 90 dias. O preço ainda não foi definido, pois depende de uma avaliação da CMED (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos).
Controle
O excesso de colesterol ruim (LDL) é um problema que tem se tornado comum por conta do estilo de vida da população, baseado cada vez mais em uma alimentação rica em alimentos ultraprocessados (fontes de sódio, gorduras e açúcar) e inatividade física, afirmam especialistas escutados pelo Estadão.
Ao circular na corrente sanguínea em quantidades expressivas, todo esse mau colesterol não consegue ser totalmente absorvido pelo organismo. O resultado pode ser o entupimento das artérias (aterosclerose), levando a quadros de infarto e/ou AVC.
Segundo a Associação Americana de AVC, um a cada quatro sobreviventes de derrame ou infarto relacionados à formação de coágulos enfrentará outra situação de emergência, o que gera um efeito bola de neve. Não à toa, as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, e no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Pacientes que já sofreram um ataque cardíaco ou derrame precisam não só reduzir o colesterol LDL, mas controlá-lo, isto é, mantê-lo abaixo de 50mg/dL”, informa Raul Santos, cardiologista do Instituto do Coração (InCor-HCMFUSP), professor da Faculdade de Medicina da USP e ex-presidente da Sociedade Internacional de Aterosclerose (IAS).
Hoje, 92,6% dos pacientes que sofreram infarto não estão com o colesterol ruim abaixo de 50mg/dL, segundo um estudo publicado na National Library of Medicine, que analisou mais de 1 400 pacientes de Curitiba, no Paraná.
Mesmo mudando os hábitos de alimentação e atividade física, é muito difícil para esses pacientes de alto risco cardíaco conseguirem atingir a marca de segurança em termos de colesterol, conta Santos. Daí a necessidade da intervenção medicamentosa.
De acordo com Raul Santos e Andrei Sposito, cardiologista especialista em colesterol, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o grande diferencial da inclisirana é que ela ajuda a resolver dois grandes problemas enfrentados atualmente na prevenção de doenças cardiovasculares: a potência e a adesão.
Além de a inclisirana se mostrar mais eficiente do que as estatinas em baixar o colesterol, sua aplicação ocorre via injeção, somente duas vezes por ano. As estatinas, por sua vez, precisam ser tomadas todos os dias, via oral. Assim, a injeção reduz a possibilidade de o paciente abandonar o tratamento ao longo do tempo. Sem falar que ela gera menos risco de efeitos colaterais, já que a substância atinge diretamente o fígado, sem passar pelo estômago.
“No Brasil, o tempo médio de uso das estatinas não passa de 90 dias. Só que a gente começa a ter benefício a partir de um ano, e isso vai aumentando progressivamente ao longo do tempo”, descreve Sposito. “As pessoas não tomam o remédio mais do que três meses porque a maioria é assintomática. Ou seja, elas não têm a percepção de que estão fazendo uma coisa que vai diminuir concretamente o risco de morte”, observa.
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