Sexta-feira, 22 de Novembro de 2024

Home Curiosidades Aos 100 anos, mulher relata em livro como resistiu ao nazismo na Holanda

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Em 1943, uma jovem de 21 anos foi incumbida de sua primeira missão na resistência holandesa contra a invasão nazista. Na Estação Central de Amsterdã, Selma van de Perre recebeu uma maleta com papéis que deveriam ser entregues em cinco cidades: Leiden, Dordrecht, ‘s-Hertogenbosch, Maastrich e Eindhover.

O caminho era longo e, logo na primeira parada, ela foi abordada por oficiais alemães e holandeses no posto de controle da estação de Leiden. Seu nervosismo e pressa para sair da plataforma provavelmente a denunciaram.

Questionada sobre o que carregava na maleta, ela simplesmente respondeu: “Papéis”. Os guardas, então, pediram para que Selma abrisse a bolsa para ser revistada. Sem jeito, a garota desatou os fechos e revelou o que havia no interior da mala. Cinco pacotes embrulhados em papel pardo com as iniciais L, D, H, M e E estavam à vista dos policiais. Era seu fim, pensou. Mas, para sua surpresa, um dos oficiais alemães disse que estava tudo bem e que ela podia seguir viagem. E assim o fez.

Uma dor de estômago pelo nervosismo, no entanto, a abateu – como aconteceria outras vezes em momentos de estresse e medo. Ao chegar em casa, foi acolhida por amigos, que lhe deram uma bebida forte para recuperar os ânimos. A missão só foi concluída no dia seguinte.

Luta

Episódios como esses fizeram parte da vida de Selma por cerca de dois anos – até que ela foi levada ao campo de concentração Vught em julho de 1944 e, em setembro do mesmo ano, para Ravensbruck. Em abril de 1945, foi libertada e, após o fim da guerra, descobriu que seu pai, sua mãe e sua irmã mais nova, que também haviam sido levados para campos de concentração espalhados pela Europa por serem judeus, morreram em condições subumanas.

Já seus dois irmãos mais velhos sobreviveram à guerra ao servir no Exército e na Marinha ingleses e, então, Selma pode construir uma nova vida em Londres, onde constituiu família e, no último dia 7 de junho, completou 100 anos.

Com o apoio de amigos e familiares, a sobrevivente do Holocausto escreveu um livro sobre sua vida e, principalmente, sobre o papel de grupos de resistência contra o avanço do nazismo. Meu nome é Selma: a extraordinária biografia de uma combatente da resistência judaica holandesa e sobrevivente do campo de concentração de Ravensbruck chegou ao Brasil em março de 2022 pela Editora Seoman.

“Com o passar dos anos, fui percebendo que muitas pessoas não sabiam o que aconteceu com a resistência de trabalhadores holandeses durante a guerra. Então, eu achei que era extremamente necessário que alguém escrevesse sobre isso”, relata Selma. “Muitos livros de judeus que sobreviveram aos campos de concentração foram escritos, mas muito pouco foi dito sobre a resistência existente na Holanda.”

Segundo a autora, que também é antropóloga e jornalista, o projeto começou enquanto ela escrevia notas de suas memórias na virada do milênio. O manuscrito do livro começou a ser redigido entre 2014 e 2015. “Houve um longo período de reflexão em que eu não queria me sentar e escrever sobre isso, porque algumas memórias do que havia acontecido estavam muito vivas”, recorda.

Apesar de ter sido difícil no começo, ela concluiu mais essa missão e teve sua obra publicada em várias línguas aos 99 anos. Não é à toa: sua história, de fato, é digna de livro.

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