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Por Redação Rádio Pampa | 19 de dezembro de 2021
Após meses de intensa articulação e forte presença nas redes sociais, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decidiu que o código “Velhice” será retirado da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID), versão 11, mantida pela OMS.
O anúncio foi feito pela direção da divisão que coordena a iniciativa Década do Envelhecimento Saudável, da organização.
Setores ligados ao envelhecimento temiam que a inclusão de “velhice” na CID mascarasse problemas de saúde reais para a terceira idade, aumentasse o preconceito contra idosos e interferisse no tratamento e na pesquisa de problemas de saúde e na coleta de dados epidemiológicos.
Agora, no texto aprovado, a expressão “velhice” será substituída por “envelhecimento associado a declínio na capacidade intrínseca”.
O epidemiologista Alexandre Kalache, do Centro Internacional de Longevidade, e também presidente da Aliança Global de Centros Internacionais da Longevidade, foi um dos líderes na articulação contra o uso do termo “velhice” e comemora a mudança.
“Estou muito feliz com essa reviravolta. Não foi fácil, mas deixar que velhice passasse como doença é passar o idadismo. É uma vitória também em relação à indústria antienvelhecimento que usaria o código para justificar intervenções, muitas vezes sem evidências científicas. Tem muita gente rica que quer beber da fonte da juventude eterna e tem muito charlatão”, afirma.
Apesar de satisfeito com a alteração, para Kalache o novo código ainda não é tão claro ou abrangente como deveria. Ele defende a criação da síndrome de fragilidade, que pode ser aferida por maneiras concretas (como verificar quanto tempo uma pessoa leva para percorrer 15 metros, a força muscular das mãos ou uma avaliação após subir uma escada) e não está atrelada apenas à idade.
“Já foi difícil tirar velhice, então vamos deixar como está e gradualmente começar a trabalhar um conceito de fragilidade que pode entrar como um código adicional. Essa síndrome não depende apenas da idade e genética, mas abre margem para determinantes sociais da saúde”, diz o epidemiologista.
Assim, o movimento #velhicenãoédoença continuará estimulando o debate público sobre as implicações do termo que substituirá a palavra ‘velhice’ na CID-11.
Entenda a CID
A CID existe desde 1893 e vigora em sua décima edição, mas a CID-11 já foi elaborada e está em fase de ajustes. É nela que entrará o código MG2A, que se refere à velhice. A nova versão passa a valer em janeiro, com prazo de três anos para ser implementada.
Espécie de guia de linguagem médica, com detalhamento de doenças, sintomas e condições, a CID é usada para classificar as causas de internação de pacientes e de morte nos atestados de óbito. Para os especialistas, a inclusão equivale a classificar oficialmente velhice como doença.
No Ar: Pampa Na Tarde