Quarta-feira, 05 de Fevereiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 1 de janeiro de 2024
A expectativa de que o alívio nas taxas de juros, não só no Brasil, mas no mundo como um todo, continuará em 2024 tenderá a melhorar o cenário para os investimentos, mas executivos de empresas de portes e atividades variadas focam no retorno de seus projetos para defender suas decisões de investir.
Se em 2023 o crescimento da economia foi ancorado basicamente no consumo das famílias – sem grandes aportes em novos projetos por parte das empresas – as companhias miram seus próprios negócios quando relatam os motivos para apostar em ampliações de suas operações neste ano de 2024.
Para Armando d’Almeida Neto, diretor vice-presidente Financeiro e de Relações com Investidores da Multiplan, não dá para esperar o cenário melhorar para investir.
“Óbvio que adoraria ter previsibilidade, estabilidade, regras claras, mas quando olhamos, e não é uma particularidade do Brasil, vemos grande volatilidade, flutuações, temas geopolíticos. O que vamos fazer? Ficar de braços cruzados esperando?”
A chinesa BYD, maior fabricante de carros elétricos do mundo, pretende investir ao menos R$ 1,5 bilhão no Brasil em 2024. E esse valor é o piso, disse Alexandre Baldy, presidente do Conselho de Administração da subsidiária brasileira da companhia.
Esse valor inclui parte dos R$ 3 bilhões anunciados para a aquisição e adaptação da fábrica da Bahia, que antes pertencia à Ford – as obras na fábrica começarão em fevereiro, com previsão de começar a produzir em dezembro de 2024. E também haverá aportes na abertura de concessionárias e campanhas publicitárias.
Baldy destaca que o brasileiro tem nos carros uma paixão e é aberto a inovações, garantindo uma “aceitação enorme” para os carros da BYD. À venda no Brasil desde julho, modelos como o Dolphin e o Song Plus já venderam 12,4 mil unidades no acumulado até novembro.
Apenas naquele mês, a BYD foi a 11ª marca mais vendida do país, conforme os dados de emplacamentos, compilados pela Fenabrave, federação de revendedores.
“E tem um potencial de ser um hub para a América Latina, porque o Brasil tem um acordo bilateral com México, tem a facilidade do Mercosul. É uma conjugação de fatores – acrescenta o executivo, lembrando que países como Chile, Bolívia, Argentina e Brasil também se destacam por reservas de minerais críticos para as baterias dos carros, como o lítio, importante para a estratégia de verticalização da fabricante chinesa.”
Suzano e o papel higiênico na Ásia
A Suzano, maior fabricante global de celulose de fibra curta (usada para fazer papel branco, papel higiênico e demais produtos de higiene) aplicará R$ 16,5 bilhões em 2024 no Brasil. Do total, R$ 4,6 bilhões vão para concluir mais uma fábrica em Mato Grosso do Sul, prevista para ser inaugurada em meados do ano que vem – o Projeto Cerrado, que inclui também as florestas ao lado da nova planta, consumirá R$ 22,2 bilhões.
Segundo o diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores, Marcelo Bacci, justificam os aportes bilionários o fato de que a indústria de celulose de fibra curta brasileira é a mais competitiva do mundo.
As condições de clima, solo, disponibilidade de terras e o desenvolvimento de espécies adaptadas de eucalipto garantem a maior produtividade e os menores custos de um insumo cuja demanda cresce estruturalmente. Afinal, quanto mais pessoas saem da pobreza, especialmente na Ásia, mais se consome papel higiênico, lenços de papel, fraldas e produtos simulares.
Se os juros elevados atrapalham menos, porque a Suzano levanta financiamentos no exterior e buscou operações na época de juros baixos do início da pandemia de Covid-19, o ambiente de negócios pouco amigável e a infraestrutura deficiente atrapalham os investimentos. Eles poderiam ser maiores e mais rentáveis, não fosse o chamado custo-Brasil.
“Fazemos muito investimento em infraestrutura, e parte importante desse investimento tem a ver com isso, porque não existe infraestrutura pública adequada no Brasil. Quando fazemos uma fábrica de celulose, construímos uma infinidade de estradas por dentro das fazendas para chegar à fábrica, porque a infraestrutura viária pública não dá conta. Fazemos estradas próprias”, afirma Bacci, ressaltando que parte importante do investimento no Projeto Cerrado foi para a construção de um terminal portuário, no Porto de Santos: “O Brasil é muito competitivo, apesar dessas coisas. Pode melhorar”.
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