Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 15 de julho de 2023
Perto do litoral do sudeste da China, a população de uma espécie de peixe está em franca expansão. Seu nome é estranho: pato-de-bombaim — um peixe longo e delgado, com textura similar à de uma geleia e dotado de uma grande mandíbula peculiar.
“É monstruoso”, diz o pesquisador marinho Daniel Pauly, da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, em alusão à explosão populacional dessa espécie. O motivo da invasão em massa, segundo Pauly, são os níveis de oxigênio extremamente baixos daquelas águas poluídas.
As espécies de peixe que não conseguem suportar ambientes com pouco oxigênio fugiram, enquanto o pato-de-bombaim, que faz parte de um pequeno subconjunto de espécies fisiologicamente mais capazes de viver com menos oxigênio, mudou-se para lá.
Pesquisadores esperam que muitos locais sofram declínio da diversidade de espécies, permanecendo apenas aquelas poucas que conseguem lidar com condições mais rigorosas. E a falta de diversidade no ecossistema significa falta de resiliência. Pauly resume a situação afirmando que “a desoxigenação é um grande problema”.
Os oceanos do futuro, mais quentes e com menos oxigênio, não só irão abrigar menos espécies de peixes, mas também peixes menores e raquíticos. Para piorar, haverá mais bactérias produtoras de gases do efeito estufa, segundo os cientistas.
Pauly afirma que a região dos trópicos ficará vazios, à medida que peixes migrarem para águas mais oxigenadas e espécies específicas que já vivem nos polos sujeitas à extinção. Os pesquisadores se queixam de que o problema do oxigênio não recebe a atenção que merece. A acidificação e o aquecimento dos oceanos ocupam a maior parte do noticiário e das pesquisas acadêmicas.
Em abril, por exemplo, a imprensa divulgou que as águas da superfície do planeta estão mais quentes do que nunca — uma média surpreendente de 21°C.
É claro que esta não é uma boa notícia para a vida marinha. Mas, quando os pesquisadores se dedicam a comparar os três efeitos — aquecimento, acidificação e desoxigenação —, os impactos dos baixos níveis de oxigênio são os piores de todos.
Níveis de oxigênio
Os níveis de oxigênio dos oceanos do planeta já caíram mais de 2% entre 1960 e 2010. E espera-se que eles caiam até 7% abaixo dos níveis de 1960 no próximo século.
Alguns locais são piores do que outros. O topo do nordeste do Oceano Pacífico perdeu mais de 15% do seu oxigênio.
Segundo o relatório de 2019 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) sobre os oceanos, entre 1970 e 2010, o volume de “zonas com nível mínimo de oxigênio” nos oceanos do mundo — onde os grandes peixes não sobrevivem, mas sim as águas-vivas — aumentou entre 3% e 8%.
A queda do oxigênio é causada por alguns fatores. Em primeiro lugar, as leis da física determinam que a água mais quente pode reter menos gás dissolvido que a água mais fria. É o que faz com que o refrigerante tenha menos gás quando está quente.
À medida que o nosso planeta se aquece, as águas da superfície dos oceanos perdem oxigênio e outros gases dissolvidos. Esse efeito simples de solubilidade é responsável por cerca da metade da perda de oxigênio já observada até 1 mil metros de profundidade nos oceanos.
Em profundidades maiores, os níveis de oxigênio são determinados, em grande parte, por correntes que levam as águas da superfície para baixo. E essas correntes também são afetadas pelas mudanças climáticas.
O derretimento do gelo acrescenta água doce e menos densa que resiste à mistura nas principais regiões. E a alta velocidade de aquecimento atmosférico nos polos, em comparação com o Equador, também arrefece os ventos que determinam as correntes oceânicas.
Por fim, as bactérias que vivem na água e se alimentam de fitoplâncton e de outros materiais orgânicos que caem no fundo do mar consomem oxigênio. Tal impacto pode ser maior ao longo das linhas costeiras, onde o despejo de fertilizantes alimenta a proliferação das algas que, por sua vez, alimenta as bactérias famintas por oxigênio. O resultado disso é o aparecimento de mais “zonas mortas”, como a que se verificou no Golfo do México.
Os pesquisadores chegaram até a sugerir que o aumento da poluição por microplásticos tem potencial de exacerbar a queda dos níveis de oxigênio. Segundo essa hipótese, se o zooplâncton se alimentar de microplásticos em vez de fitoplâncton (sua presa habitual), este último irá se proliferar, alimentando novamente aquelas bactérias que consomem oxigênio no seu caminho até o fundo do mar.
No Ar: Pampa Na Madrugada