Sábado, 22 de Fevereiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 22 de fevereiro de 2025
Arlete e eu conhecemos o mundo, partilhamos gostos e predileções em Paris, Roma, Londres, Veneza, Nova Iorque – viagens que abriram nossos corações e mentes. O patriotismo é uma falácia – a pátria é toda a humanidade.
E de qual cidade gostamos mais, Florianópolis, São Paulo, Brasília, Rio? Tudo ficou uma coisa só, foram e ainda são nossas, cidades do bravo povo brasileiro.
Simples, afável, bondosa, no lado dos Wedekin cuidou da minha mãe Dina com amor de filha. Quando morreu em acidente meu cunhado Amauri, a primeira para quem minha irmã Joci ligou foi Arlete.
Depois que a mãe dela Ângela faleceu, o pai Atílio veio morar conosco por mais de 10 anos, até o fim da vida.
Na grande família Liberali ( 1 irmãos) era a mais amada do clã que um dia emigrou do Vêneto para o Brasil.
Ela mesma tinha suas manias, inofensivas, às vezes engraçadas, que herdou de uma família opiniática e hábitos arraigados.
Seus hobbies e interesses eram todos ligados às artes e à beleza. Nas nossas casas os melhores lugares eram ornados de plantas, folhagens, orquídeas, flores da estação, pinturas e esculturas.
Na casa da Rua João Paulo fomos descobrindo aos poucos caixotes, sacolas, bolsas, quadros e esculturas, máquina de costura, uma roca de fiação manual. Ela mesma, com gosto e jeito, manejava linhas, pincéis, agulhas, metal, madeira e tecido, massas e tintas, uma parafernália que dizem precisamente da paixão às vezes passageira, intensa sempre, pela arte e beleza.
Assistimos centenas de filmes e séries juntos e, nas viagens, ela me acompanhava , entre curiosa e animada, na busca ansiosa de DVDs que não existiam no Brasil – assim acumulamos uma coleção de quase 2.500 títulos, dentre os mais celebrados do cinema.
Na música, às vezes ela aparecia com uma preciosidade na época, como o balé Petrushka, de Stravinsky, em vinil, ou um CD de uma “orquestra” de cellos – só cellos – de música clássica que me alegra e eleva o espírito há mais de 20 anos. Ela gostava de garimpar quadros, gravuras, filmes, CDs.
Arlete enfrentou a doença com bravura e estoicismo. Às vezes, caía em lágrimas – a dor, a impossibilidade da cura. Mas também era capaz de rir de um chiste, de deixar escapar um sorriso, como nas vezes em que as netas Maria e Ana entravam no quarto, causando a balbúrdia habitual.
As médicas, as técnicas de enfermagem, as cuidadoras que se revezaram durante o dia e na longa noite e nos breves passeios, no andador ou cadeira de rodas, as fisioterapeutas, fonoaudiólogas, todas foram comovedoramente incansáveis. Nós da família somos eternamente gratos a todas e a cada uma delas.
Também somos reconhecidos aos muitos amigos e parentes, que enviaram mensagens emocionadas de carinho, e que estiveram com ela nos últimos momentos, como na consoladora cerimônia do Jardim da Paz.
Esteja bem, mulher e companheira. Talvez em algum lugar de temperatura amena, de jardins e flores, paz e silêncio. E que de algum modo compense tudo o que você passou. Acolha, Arlete, nossas lembranças mais amorosas, nossos sentimentos mais profundos. Deixe-nos saber do quanto você foi amada.
(Nelson Wedekin/ fevereiro de 2025 – titoguarniere@terra.com.br)
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