Domingo, 22 de Dezembro de 2024

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De Bolsonaro para o Brasil : “Quero que todo cidadão de bem tenha uma arma de fogo para resistir à tentação de um ditador de plantão”. Muito bem. Mas por qual e misteriosa razão as armas só seriam portadas e usadas por cidadãos do “bem”? Os cidadãos do “mal” serão impedidos do uso de armas? E quem fará a separação entre os cidadãos do bem (que podem ter armas) e do mal(que não podem)? A ABIN do general Augusto Heleno? Carluxo? Alexandre Garcia, vestido de milico?

A obsessão de Bolsonaro por armas de fogo “para resistir à tentação de um ditador” ignora, de forma infantil, que são os cidadãos (que se julgam) do “bem “ que fazem as ditaduras.

Ele mesmo – Bolsonaro – se tem na conta de cidadão do “bem”. E no entanto, já declarou que o erro do regime militar de 1964 foi não ter aniquilado 30 mil brasileiros – incluindo o ex-presidente Fernando Henrique. Nega a tortura e defende torturadores como o falecido coronel Brilhante Ustra. Prima pela falta de educação, é grosseiro, preconceituoso, desbocado, encrenqueiro, provocador. Faz graça com o cidadão preto e pergunta se o peso dele é em arrobas. Bolsonaro é do bem?

O apelo ao armamento, mesmo que endereçado somente aos cidadãos de “bem”, reiterado pelo presidente da República, é uma insanidade completa. Como não há meios de distinguir entre quem é do bem e quem é do mal, em breve todos estarão armados. E a intolerância, o ódio, que por ora se reduz às ofensas e baixarias das redes sociais, se transformará em tiroteio nas ruas e em conflito de sangue. Bolsonaro é um missionário da violência – lançando as sementes da ditadura e, no limite, da guerra fratricida.

Armas, na grande regra, deveriam estar apenas das mãos de autoridades do Estado, como policiais civis militares, forças armadas. Fora disso, quem gosta e precisa de armas é marginal. Gente de bem é da paz, ama os seus, lê livros, dança, ouve música, reza nos templos, trabalha duro, celebra a vida. Na vida de gente de bem tem muita, muita coisa mais valiosa e importante do que armas.

Os pastores evangélicos bolsonaristas estão cada vez mais bolsonaristas e cada vez menos evangélicos. Vários deles agora defendem abertamente o armamentismo. Há exceções honrosas . O pastor Valdinei Ferreira, da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo dá o tom : “O exibicionismo das armas é equivalente à pornografia”.

Pastores bolsonaristas citam o uso do chicote por Jesus na Bíblia para justificar o uso de armas de fogo. Jesus usou o chicote para expulsar os vendilhões do templo. Hoje em dia não há nada mais parecido com os vendilhões do templo do que certos pastores de certas igrejas.

Jesus Cristo nunca andou armado. A mensagem de Jesus é de paz, compaixão e humanidade. Armas ferem, mutilam e matam. Os pastores evangélicos e quem mais seja têm todo o direito de se dizerem bolsonaristas, torcer por ele, votar nele. Mas invocar Jesus e os valores cristãos para defender Bolsonaro e o armamentismo é uma insanável contradição.

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