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Por Redação Rádio Pampa | 15 de outubro de 2022
Os tabus são essencialmente uma forma de controle social que nos diz quais comportamentos são aceitáveis e quais não são. Os tabus fazem parte importante da cultura. Algo que é considerado repulsivo em uma sociedade pode ser uma prática cotidiana em outra. O casamento entre primos é um exemplo.
Ele é muito comum em todo o mundo, especialmente no Oriente Médio, no sul da Ásia e no norte da África. Cerca de 10% das famílias de todo o mundo são formadas por casais de primos em primeiro ou segundo grau. Eles representam mais de 750 milhões de pessoas.
O casamento entre primos é permitido por lei na maior parte da Europa, América, Austrália e em partes da África e da Ásia. Mas o mapa das leis de casamento entre primos nos Estados Unidos parece uma colcha de retalhos.
Alguns Estados, como Nova York, Califórnia e a Flórida, permitem o casamento entre primos-irmãos sem restrições. Mas em muitos outros, como a Virgínia Ocidental, o Kentucky e o Texas, o casamento entre primos é totalmente proibido.
E há os Estados que permitem o casamento entre primos com limitações. No Arizona, Illinois e em Utah, você só pode casar-se com seu primo se um dos dois for estéril ou se ambos tiverem mais que uma determinada idade. E, no Maine, você só pode casar com sua prima se tiver se submetido a aconselhamento genético.
Mas por quê? Se perguntarmos aos norte-americanos por que o casamento entre primos não é correto, a maioria responderá que é porque os filhos do casal sofrerão de doenças genéticas. Será verdade?
Riscos da mistura
A geneticista Wendy Chung, da Universidade Columbia em Nova York, nos Estados Unidos, pesquisa os transtornos genéticos, que ocorrem quando o DNA mostra algum sinal de anomalia. Chung também assessora e trata de famílias com transtornos genéticos.
Para ela, “a genética é extremamente lógica. (…) E é muito satisfatório poder entender a ciência e ajudar as pessoas, as famílias afetadas.”
À medida que o embrião cresce no útero, existe todo tipo de forma em que os genes podem mudar e causar transtornos. Existem anomalias genéticas, por exemplo, quando uma parte do corpo não cresce da forma esperada, como o lábio leporino.
Qual a relação entre a taxa de doenças genéticas entre os descendentes de primos-irmãos e a população em geral? “Simplesmente pelo fato de decidir ter descendentes, existe 3 a 4% de risco de ter um filho com um dos principais tipos de problemas. Em um casal de primos-irmãos, este risco dobra”, explica Chung.
Dependendo das circunstâncias, existem muitas razões para quer casar-se com seu primo ou prima. Em primeiro lugar, vem a ideia de manter bens na família. E, depois, vem a familiaridade.
O objetivo do casamento arranjado é unir pessoas com um histórico de anos de relações familiares, em vez de um homem ou uma mulher com quem só se tenha tido alguns poucos e incômodos encontros.
Na Europa e nas Américas, o casamento entre primos costumava ser bastante comum. Pessoas conhecidas, como Charles Darwin, Edgar Allan Poe e Albert Einstein, casaram-se com suas primas-irmãs.
E isso não ocorreu apenas no passado distante. A primeira esposa de Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York, nos Estados Unidos, era sua prima em segundo grau.
Genes anômalos
De forma geral, o casamento entre primos é bastante seguro. Mas, em certas populações ou famílias específicas, pode haver mais riscos. Chung afirma que isso se deve a uma categoria de condições genéticas.
“Você tem duas cópias do seu gene, uma da sua mãe e outra do seu pai. Para determinadas condições, é preciso ter mudanças genéticas nas duas cópias dos genes para causar um problema.”
“Se você tiver 50% desse gene fazendo seu trabalho, pode dar certo”, explica a geneticista. “Mas, quando você tem 100% [anômalo], aí acontecem os problemas.”
Quando Chung fala em problemas, ela se refere a condições autossômicas recessivas. Existem milhares delas e algumas são muito conhecidas e graves, como a anemia falciforme, a fibrose cística e a atrofia muscular espinhal.
A maioria das pessoas do mundo possui alguns genes recessivos anômalos. Se você tiver uma cópia anômala, não há problema. Mas, se você tiver duas cópias anômalas, surgirá um distúrbio.
Isso significa que não é preciso casar-se com seu primo para ter um filho com um distúrbio recessivo.
Mas “quando você compartilha 12,5% da sua informação genética com seu parceiro, existe um risco maior de que os dois carreguem uma mutação no mesmo gene herdado de um ancestral comum”, explica Chung.
E se ambos forem portadores da mesma condição genética recessiva, existe maior probabilidade de que seu filho nasça com um transtorno genético.
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