Sexta-feira, 03 de Janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 22 de dezembro de 2022
“Mano morta” (“mão morta”, em italiano) é um objeto de discussão entre mães e filhas. Grupos de amigas também se queixam sobre ela nas suas conversas e meninas adolescentes são aconselhadas a manter-se vigilantes quando vão à escola.
Mas a mão morta – ou mão-boba, como chamamos em português – não é uma lenda urbana. É uma forma de abuso sexual, mais comumente praticada contra as mulheres. Ela descreve a mão dissimulada que incontáveis mulheres já encontraram tocando partes íntimas do corpo em um ônibus ou trem lotado.
A mão-boba indica precisamente esse comportamento intencional. Mulheres de todo o mundo podem também ter sofrido essa mesma forma de abuso, sem que tivessem uma expressão no seu idioma para designá-la.
Em inglês, três expressões vêm sendo cada vez mais usadas para descrever diferentes formas de abuso: gaslighting, upskirting e love bombing.
Gaslighting é o ato ou a prática de ludibriar alguém grosseiramente, para seu próprio benefício. O termo foi considerado a palavra do ano pelo dicionário Merriam-Webster, depois que as buscas no site do dicionário aumentaram em 1740% em 2022. No TikTok, a hashtag #gaslighting teve 1,9 bilhão de visualizações.
Upskirting designa a prática de fotografar mulheres por debaixo de suas saias ou vestidos, sem consentimento. Já love bombing (literalmente, “bombardeio de amor”) define a tentativa de influenciar ou manipular alguém com excessivas demonstrações de afeto. A hashtag #lovebombing atingiu quase 250 milhões de visualizações no TikTok em 2022.
“Se observarmos quando essas palavras entraram no idioma [inglês] para descrever a experiência das mulheres, em termos de violência sexual ou outras formas de sexismo, foi quando o feminismo tornou-se um grande movimento social”, afirma Alessia Tranchese, professora sênior de comunicação e linguística aplicada da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido. Ela pesquisa como a violência contra a mulher pode ser perpetuada pela linguagem.
Tranchese estuda como novas palavras cunhadas para descrever formas de abuso existentes servem para questionar a violência de gênero.
“Poderíamos dizer que o idioma reflete as relações desiguais entre homens e mulheres e é um lugar onde essas relações podem ser postas em prática e recriadas”, afirma ela.
Downblousing
A linguagem também está sendo usada para captar como as mulheres se sentem cada vez mais inseguras nos espaços públicos, segundo a ex-ministra da Justiça da Irlanda do Norte, Naomi Long. Ela propôs uma nova lei sobre abusos sexuais, que foi aprovada em março.
A lei incluiu uma série de novos termos em inglês. Um deles é downblousing — criado para definir o ato de tirar fotos do decote de alguém visto de cima, sem consentimento.
“É um tipo muito específico de abuso”, segundo Long. “É uma tentativa de humilhar e rebaixar a mulher, causando medo.”
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