Sexta-feira, 27 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 21 de julho de 2022
Não é de hoje que moedas, imóveis, ações e câmbio se convertem em objetos de especulação financeira, embalados pelo desejo tão tipicamente humano de enriquecer. Mas, nesse processo, há muitos riscos ocultos, nunca bem dimensionados, e que temperam a história das crises especulativas com risos e lágrimas, estas últimas, muitas vezes, em tons dramáticos. Muitos não levam exatamente a sério o Oitavo Axioma de Zurique que informa “ser improvável que entre os desígnios de Deus para o universo se inclua o de fazer você ficar rico”. Foi assim na Holanda, em 1630, quando as improváveis tulipas assumiram o papel de agente de histeria e pânico generalizado, levando milhares de investidores à bancarrota. De lá para cá, com uma regularidade impressionante, as pirâmides financeiras, calotes coletivos, “crahes” e golpes vigaristas se sucedem sem que os erros do passado impeçam os equívocos no presente. A repetição das crises ao longo do tempo, moldadas pela gênese comum de pânico, histeria coletiva e efeito manada, levanta a questão da falta de aprendizado por parte das pessoas, mesmo com as cicatrizes expostas. Por que se repetem os episódios de especulação, drama e insanidade em massa? Parece que, em nenhuma outra área, a história vale tão pouco como no mundo das finanças. Não há, todavia, e infelizmente, um antidoto que possa inibir esse fenômeno, uma vez que o número de incautos compõe parcela expressiva do mercado, e são justamente os desavisados que servem de ração aos predadores sempre à espreita.
Esse contingente humano, movido por uma mistura de ganância, inexperiência e desconhecimento dos fundamentos do mercado, alimenta ciclicamente as crises. São, em sua maioria, pessoas desprovidas de maldade, mas tolas o suficiente para não acreditar nos ensinamentos da história, tampouco em conselhos ajuizados. O último e atualíssimo exemplo que corrobora o quadro de cegueira coletiva ao risco é a crise das criptomoedas. Enquanto parte importante das pessoas sequer ouviram falar até hoje em bitcoin, NFT, blockchain e demais neologismos da era digital, outro contingente, não menos expressivo, lançava-se à compra de ativos digitais com um apetite voraz. Como nos outros eventos especulativos, os alertas insistentes de alguns analistas sobre os perigos envolvidos no frenético movimento de compra eram tomados mais como um lamento de alguém não convidado para a festa do que um conselho razoável e prudente.
O desabamento das criptomoedas, ao contrário de um evento localizado, ocorre em escala planetária, conferindo uma dimensão capaz de colocar o acontecimento como um dos mais catastróficos devoradores de riqueza já ocorrido. São U$ trilhões que evaporam enquanto a mesma sina dos desesperados acontece: choro, dor e lamento por perdas irrecuperáveis. A complacência dos reguladores, juntamente com um encantamento geral pela novidade, impulsionados pelos meios eletrônicos, encorajou milhões de investidores a embarcarem na “onda das criptomoedas”, na qual o Bitcoin é a estrela mais reluzente. Até que se transformasse em colapso, a indústria das criptomoedas conquistou uma “ilusão de respeitabilidade”, como bem assinalou o prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman em sua coluna no jornal The New York Times. As “tulipas do novo milênio” abriram possibilidades por demais sedutoras para especuladores, ávidos, e até certo ponto deslumbrados, com um horizonte sem limites de rentabilidade prometida.
Como em todo final de uma ilusão, porém, o que geralmente se ouvem são lamúrias e ranger de dentes, não sem também buscar-se os culpados pela tragédia, o que sempre traz uma espécie de consolo aos aflitos. É preciso também dizer que parecia evidente existir certa indulgência por parte dos bancos centrais, que deixaram de regulamentar tempestivamente um emergente mercado trilionário. Imaginar uma nova moeda ter curso sem estabelecer-se parâmetros mínimos de governança, colocaria em xeque a própria soberania das autoridades monetárias, e isso, cedo ou tarde, cobraria o seu preço, como agora. desoladamente, constatam os portadores das tulipas do novo milênio.
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