Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 11 de novembro de 2022
“O trabalho dos sonhos virou pesadelo”. É a frase que a atriz brasileira Nina Morena encontrou para descrever sua participação na Drag Taste, em Lisboa.
Quando aceitou fazer a Ms. Complicated, a filha do escritor Nelson Motta e da atriz Marília Pêra sequer desconfiava que o espetáculo seria tão complicado.
Ela vive em Lisboa desde 2019 e em abril deste ano começou sua participação na montagem que uniu teatro e gastronomia na capital. Uma produção que empregou outros brasileiros além dela.
No acordo de prestação de serviços encaminhado pela empresa por e-mail e enviado por Nina Morena, estavam previstos seis meses de trabalho com remuneração mensal de 1 mil euros (R$ 5,4 mil).
Para chegar ao valor, seriam necessários 32 espetáculos mensais com o cachê unitário de 32,25 euros (R$ 175). Segundo Morena, o primeiro problema foi o cancelamento da maioria das datas pelo idealizador do projeto e fundador da marca, Pedro Pico. Fato que reduziu drasticamente os pagamentos.
“Ele foi cancelando, porque foi ficando bêbado e dando problema. Mas sempre tinha público, porque ele é talentoso, mas mau caráter. Tanto que há inúmeras reclamações de pessoas sem reembolso e funcionários sem pagamento. Ele foi se enrolando”, disse ela.
A atriz pegou covid em julho e se afastou por uma semana. E conta que Pico sumiu naquele período. Foi quando Morena recebeu uma ligação da produção para substituí-lo em cena:
“Na véspera de eu voltar, disseram que ele estava desaparecido e perguntaram se eu poderia fazer o papel dele. Foi um Deus nos acuda, porque eu não sou drag queen e estava saindo da covid. Foi difícil, mas fiz uma noite. Só não me senti segura para fazer a segunda vez, como eles queriam”.
Foi quando surgiu o segundo problema. Morena conta que Pico soube do episódio e ligou para ela.
“Completamente bêbado, me humilhou e falou coisas horrorosas e me culpou por afundar a Drag Taste. No dia seguinte, fiz o meu papel e ele ligou para me xingar de puta para baixo, manipulando, falando que eu era a responsável por destruir tudo, deixando todos desempregados. Foi pesado e fiquei deprimida três meses, sem conseguir trabalhar, enquanto ele fechava a Drag Taste e deixava trinta desempregados sem pagamento”, declarou Morena.
Ao todo, Morena lembra de ter feito poucos espetáculos e, na soma do valor unitário por data encenada, faltou receber 62,5 euros.
“Mas não é pelo dinheiro, é porque ele só não me pagou porque ele achou que eu era uma p… e que não tinha que pagar. Ele disse que era para ir na Drag Taste e pegar coisas e vender. E as pessoas na rua sem dinheiro para pagar o aluguel ou comprar comida. Tem gente da equipe para quem ele deve € 4 mil, € 3 mil ou € 1,5 mil”, disse Moreno.
A drag queen brasileira Paolle Santos é professora, atriz e bailarina. Licenciada na Universidade Federal do Rio de Janeiro, faz mestrado de Artes Cênicas na Universidade Nova de Lisboa e também levou um calote de Pico.
Segundo Santos, Pico deve a ela 4 mil euros (R$ 21 mil). Ele ainda quis recrutá-la para novo espetáculo, mas nunca teria aparecido nos ensaios. Quando foi buscar suas coisas nos bastidores, após acionar a polícia, um funcionário da casa teria sido xenófobo.
O problema chegou ao governo. A deputada Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda, enviou um comunicado ao Ministério da Cultura e ao presidente do Parlamento, Augusto Santos Silva, do Partido Socialista. A parlamentar questiona se há conhecimento da situação, se a empresa Drag Taste recebeu recursos públicos e como a pasta apoiará os trabalhadores desempregados.
“O que parecia ser um fenômeno de sucesso se revelou um pesadelo para trabalhadores da cultura”, escreveu Mortágua, lembrando que Pico está “incontactável”.
Voltar Todas de Teatro & Dança
No Ar: Pampa Na Tarde