Sábado, 23 de Novembro de 2024

Home Variedades “Black Barbie”: filme conta história da primeira versão negra da boneca, lançada só 20 anos depois da branca

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No fim de uma das exibições de “Black Barbie” no festival South by Southwest (SXSW), com a presença da diretora Lagueria Davis, uma mulher da plateia pediu a palavra. Negra como a protagonista do documentário e como a cineasta, ela contou que cortava os cabelos louros e compridos de suas Barbies para que elas se parecessem mais consigo mesma. Lagueria acenou positivamente com a cabeça: era uma história conhecida, comum entre quem durante décadas não teve o direito de se sentir representada nem mesmo num brinquedo.

O filme, que acaba de ter sua estreia mundial na mostra realizada anualmente em Austin (EUA), é centrado na história de quando a mais famosa boneca do planeta enfim ganhou uma versão de pele negra com seu próprio nome, em 1980. Mas, para se compreender como um pedaço de plástico colabora com arquétipos raciais e tem um impacto negativo na autoestima de jovens em todo o mundo há décadas, foi preciso começar falando sobre a Barbie branca.

“Eu quis examinar o passado, o presente e o futuro. Não era apenas para contar o que aconteceu, mas para dizer se a Barbie negra realmente trouxe alguma mudança”, disse Lagueria.

A primeira Barbie foi lançada em março de 1959, criação da americana Ruth Handler (1916-2002), cofundadora ao lado do marido da empresa de brinquedos Mattel. A boneca ostentava cabelo comprido com rabo de cavalo, tinha pele e olhos claros e se apresentava com uma cintura fina que certamente exigiria muita academia ou uma genética bastante rara para se alcançar. Mas não havia a menor importância que aquela silhueta fosse diferente da maioria das mães de crianças que se apaixonaram pela boneca. A Barbie rapidamente virou um fenômeno.

Seu primeiro modelo era vendido em versões com cabelos louros ou castanhos, mas foram os fios claros da boneca que tomaram de assalto a cultura pop nos anos seguintes e ajudaram a construir um padrão de beleza feminino – irreal, claro.

Reprovada

Como mostra o documentário, o mais impressionante é que, quando a Barbie foi criada, já se sabia o dano que a predominância de bonecas brancas causava em crianças negras. Foi em 1940 que o casal de psicólogos americanos Kenneth e Mamie Clark fez um célebre experimento que ficou conhecido como “Teste da boneca”. Em resumo, eles mostravam bonecas de diferentes tons de pele e perguntavam para as crianças quais eram as mais bonitas, as mais simpáticas, as que elas preferiam etc. O resultado é que até mesmo as crianças negras apontavam as bonecas brancas como “melhores”.

Lagueria teve acesso a histórias sobre a Barbie branca, a Barbie negra e tudo o que aconteceu no caminho entre as duas porque sua tia, Beulah Mae Mitchell, uma mulher negra hoje com 84 anos, trabalhou por décadas na Mattel. Através dos olhos de Beulah, o filme recorda os outros lançamentos de bonecas de pele escura, antes mesmo da Barbie negra, a começar pela “Colored Francie”, de 1967, cujo nome pode ser traduzido para o português como “Francie de cor”.

Uma das principais personagens da história é Kitty Black Perkins, a icônica designer negra que criou a Black Barbie de 1980 e cuidou da linha de bonecas da Mattel por 25 anos. Ela conta que se inspirou em Diana Ross e que “queria fazer a Barbie negra completamente diferente da Barbie”.

O modelo, então, foi de uma mulher de cabelo crespo e vestido vermelho. Nariz e boca eram maiores do que os da Barbie branca. “Terem dado o nome de Barbie e não outro nome fez com que as meninas pudessem ser a heroína e não mais as melhores amigas da heroína”, diz no documentário a professora Patricia A. Turner, especialista da Universidade da Califórnia nos estudos da cultura afro-americana.

O filme, contudo, não se contenta em só mostrar um lançamento que parecia positivo. A história lembra que, diferentemente do que fazia com a Barbie branca, a Mattel pouco investiu em publicidade na TV com a Barbie negra. Conta, ainda, que a empresa não foi completamente aberta em colaborar com o documentário para mostrar como trata hoje questões de diversidade. E, por fim, refaz o “Teste da boneca de Clark”, com resultados que infelizmente ainda refletem os velhos arquétipos do passado.

“Passei 12 anos tentando convencer as pessoas de que era importante fazer esse filme e que ele poderia ser divertido e educativo”, afirmou a diretora americana. “Espero que muita gente o veja para entender melhor nossa história.”

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