Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024

Home Ciência Brasileiros retomam pesquisas na Antártica e mostram rotina no continente polar

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Quase dois anos após a suspensão das pesquisas, devido à pandemia de Covid-19, brasileiros que fazem parte do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) voltaram ao continente para passar o fim de 2021 em meio às geleiras do polo Sul. Desde 1984, o Brasil tem uma base na região conhecida pelas temperaturas mais baixas do planeta.

No grupo de 11 pesquisadores abrigados na Estação Comandante Ferraz, estão quatro cientistas do Distrito Federal que enfrentam uma sensação térmica de -18ºC e ventos de até 120 km/h.

O biólogo e professor do programa de pós-graduação em ciências genômicas e biotecnologia da Universidade Católica de Brasília (UCB), Marcelo Henrique Soller Ramada, de 35 anos, coordena a pesquisa brasiliense na Antártica. A equipe busca respostas para a existência de musgos no continente gelado.

A pesquisa quer entender o processo evolutivo desse grupo vegetal, o que, segundo o biólogo, pode ajudar a desenvolver novos medicamentos, cosméticos e até recursos de biotecnologia para a agricultura, como, por exemplo, permitir o cultivo de alimentos mais resistentes ao frio.

“De que forma esse gene pode ser usado para o benefício humano? Se é para gerar uma nova molécula anticâncer, um antibiótico, ou quem sabe um tipo de protetor solar? Os musgos ficam expostos ao Sol o tempo todo e têm que produzir algo para não se ‘queimarem”‘, diz o pesquisador da UCB.

17 dias

A viagem dos brasileiros para a Antártica, durou, ao todo, 17 dias, incluindo as pausas para abastecer e buscar mantimentos. O grupo partiu de navio, da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, no dia 14 de novembro, com destino ao Rio Grande (RS), mas, antes disso, passou por 10 dias de quarentena e uma série de testes para evitar que algum deles estivesse contaminado pelo coronavírus.

Do Rio Grande do Sul, os pesquisadores seguiram pelo mar até Punta Arenas, no Chile. O grupo só desembarcou na estação brasileira na Antártica no dia 30 de novembro. A viagem de volta está marcada para 15 de fevereiro.

Sem noite

O objetivo dos pesquisadores brasileiros é aproveitar o início do verão no continente, quando há melhores condições de realizar as pesquisas de campo porque parte do gelo descongela nesta época. Além disso, com a inclinação da Terra, o dia no continente pode durar quase 24 horas.

“Nem sempre vai ter Sol, mas tem luminosidade o dia inteiro. Como a região está mais próxima do polo Sul, na latitude de 62º sul, os dias são mais longos. À 1h08 da última segunda-feira (20), no solstício de verão, ainda tinha Sol”, conta o pesquisador.

Mas, para aproveitar o verão de lá, foi preciso abrir mão das festas de fim de ano com as famílias, no Brasil. Marcelo Ramada contou que o Natal, por lá, não deixou de ser celebrado – teve até amigo oculto entre os 28 brasileiros, militares e pesquisadores que estão no local.

“Sabemos que nós somos a nossa família para este Natal e ano novo”, diz Ramada.

Estação

A estação brasileira na Antártica foi inaugurada em janeiro de 2020, pela Marinha do Brasil. O complexo de mais de 4,5 mil m² voltou a funcionar quase oito anos depois do incêndio que destruiu a base anterior e provocou a morte de dois militares. A nova instalação, onde estão os pesquisadores na retomada dos trabalhos, fica no mesmo local da estrutura antiga, construída em 1984 na Península Keller, dentro da Ilha Rei George.

A retomada das pesquisas brasileiras têm apoio de vários ministérios e órgãos, como o CNPQ. Para se ter ideia de algumas das dificuldades locais, no continente gelado, para se deslocar, por exemplo, é preciso andar a pé, usar botes ou quadriciclos e, para isso, a ajuda dos militares da Marinha é essencial. “Em alguns pontos, a neve acumulada chega até a altura da cintura”, contam os pesquisadores.

Criado em 1982, o Programa Antártico Brasileiro (Proantar) leva ao continente gelado pesquisadores que atuam nas áreas de oceanografia, biologia, glaciologia, química e meteorologia. Os trabalhos são desenvolvidos em acampamentos, navios e estações.

O programa é coordenado pela Marinha do Brasil, por meio da Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, realizando apoio científico, logístico e ambiental, em parceria com outros ministérios, agência de fomento, órgãos governamentais e empresas públicas e privadas.

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