Sexta-feira, 27 de Dezembro de 2024

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Desde Aristóteles, passando por Galileu, Descartes, Newton, Comte e muitos outros, o homem busca um entendimento racional do mundo. Como não poderia deixar de ser, o pensamento mecanicista também influenciou fortemente as ciências sociais, particularmente a novíssima ciência da administração. Dentre os luminares do pensamento racional, Frederick Taylor, com o estudo dos tempos e movimentos, talvez tenha sido aquele que melhor expressou, na prática, as intenções de seus famosos predecessores. Mais adiante, a partir da década de 40 do século passado, as críticas feitas tanto à Teoria Clássica, pelo seu mecanicismo desumanizado, como à Teoria das Relações Humanas, pelo seu romantismo ingênuo, revelaram a falta de uma teoria da organização que servisse de orientação de cunho mais racional para o trabalho dos gestores, sejam públicos ou privados. Coube, então, ao sociólogo alemão, Max Weber, inspirar o uso da racionalidade, enquanto instrumento para o alcance da eficiência, a praticantes e estudiosos, naquilo que se converteria na Teoria da Burocracia.

Assim, normas e regulamentos, divisão do trabalho com cargos definidos, padrões de desempenho estabelecidos, hierarquia clara, autoridade única do superior, seleção e promoção através da competência e profissionalização dos empregados, parecem-nos agora elementos não apenas presentes, em maior ou menor grau, em todas as organizações, mas perfeitamente passíveis de integração aos novos modelos que emergem sob o abrigo da sociedade do conhecimento e da aceleração tecnológica. Concretamente, a teoria burocrática teve e continua tendo um poderoso efeito sobre as organizações e, consequentemente, sobre a vida de milhões de seres humanos. Há, evidentemente, disfunções que cercam esse modelo, chegando muitos a declarar que a palavra burocracia se converteu em um insulto, talvez em razão dos efeitos sobre a autonomia dos indivíduos, do engessamento a mudanças e excessos no uso da autoridade. O termo ainda é associado a aspectos negativos do funcionamento das organizações, notadamente a morosidade, o formalismo e a falta de flexibilidade.

Ao descrevermos as fontes estruturais da conformidade excessiva, razão de muitas críticas, é necessário considerar que o cumprimento por demais zeloso das normas tende a provocar também graves disfunções. Isso é mais visível, de forma geral, nas organizações públicas, nas quais o efeito positivo da concorrência inexiste. O risco de “perder um cliente” muitas vezes impede que organizações privadas acolham os vícios e deformações tão presentes na burocracia pública. Contudo, nesse setor, modernos ventos sopram e os governos também absorvem as inovações ocorridas na área privada,  impulsionada por tecnologias emergentes e competição extremada. Mesmo considerando as variações decorrentes da natureza das atividades desenvolvidas pelas empresas, seus contextos ecológicos, econômicos e sociais, é provável que os futuros modelos de gestão conterão ainda estrutura significativa da burocracia weberiana, inclusive potencializada pela ideia do uso racional dos recursos, característica singular do moderno ambientalismo,  bem como da rotinização dos processos, agora digitalizados, e dos mecanismos de “compliance” e governança que retratam a gestão das modernas organizações.

É possível supor, então, que o modelo burocrático idealizado por Weber, passe por uma transformação, na qual os limites intra e interorganizacionais, cada vez mais tênues, dialoguem intensamente com a inteligência artificial, motor do atual o cenário de inovações. Porém, como a burocracia foi edificada para tornar possível maior racionalização a partir de um comportamento previsivelmente inconstante do indivíduo, é lícito supor também que um eventual enfraquecimento do modelo burocrático clássico deva ser diretamente proporcional a maior autonomia dos indivíduos. Quanto mais autodesenvolvido o ser humano, menores deverão ser as amarras burocráticas necessárias para cercar seu comportamento, tornando, quem sabe, possível, uma ressignificação do que já foi a burocracia em seu propósito original.

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