Quinta-feira, 26 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 15 de junho de 2023
O uso medicinal tem ficado mais em evidência quando se fala em liberação do cultivo de cannabis sativa e comercialização de produtos à base da planta no Brasil. Recentes decisões judiciais, inclusive, têm permitido o plantio por pacientes em tratamento para diversas doenças. Em São Paulo, por exemplo, uma lei sancionada no início deste ano regulamenta o fornecimento de medicamentos à base de cannabidiol no sistema de saúde.
Mas as possibilidades vão muito além da medicina. Em várias partes do mundo e também no Brasil, pesquisadores, empresas, celebridades e até mesmo produtores rurais estão de olho nesse potencial e em como fazer da planta um produto do agronegócio ou, até mesmo, uma commodity global.
Um desses agricultores é Ricardo Arioli, sócio da Agropecuária Novocampo. A empresa planta 2 mil hectares de soja e cria 2 mil cabeças de gado em Campo Novo do Parecis (MT), município também conhecido como a capital nacional do milho pipoca.
“Recebo muitos produtores de outros países na minha fazenda e gosto de estar sempre antenado com as tendências. Há 3 anos, li uma notícia de que, nos Estados Unidos, muitos agricultores estavam ganhando dinheiro com a produção de hemp para medicamentos e fibras e pensei que seria uma boa oportunidade de negócios para nós no Brasil”, diz Arioli.
O “hemp” que ele menciona é o cânhamo industrial, uma das subespécies da cannabis sativa e que, no Brasil, foi popularizada como a maconha. A planta começou a ser cultivada há pelo menos seis mil anos para a produção de medicamentos, alimentos e fibras.
Apenas em 2021, o mercado de cânhamo industrial movimentou US$ 824 milhões nos Estados Unidos e US$ 1,7 bilhão na China. No Brasil, o cânhamo chegou com os portugueses, que usavam a fibra nas velas das embarcações.
Na época do império, o Brasil tinha no Rio Grande do Sul a Real Feitoria do Cânhamo e Linho. O produto beneficiado no país era exportado para Portugal. Há pouco mais de 80 anos, o cultivo foi proibido, uma decisão – a exemplo do que ocorre em outros países – atrelada às propriedades psicoativas da cannabis, como a sensação de euforia causada no seu uso recreativo.
No entanto, a cepa que produz o cânhamo industrial tenha menos de 0,3% de tetraidrocanabinol (THC), composto causador do efeito. Além disso, afirmam especialistas, a planta de cânhamo desenvolvida geneticamente para fibras, alimentos e também medicamentos é mais alta e “magra” que a popular maconha.
Consultorias, empresas e associações que atuam nesse mercado estimam que em cinco anos o cânhamo deve movimentar US$ 30 bilhões no mundo. A Prohibition Partner, empresa inglesa de análise de mercado, aposta mais alto: estima que, em 2022, as vendas globais já somaram US$ 45 bilhões e podem chegar a US$ 101 bilhões até 2026.
No Brasil, o potencial com a legalização do cultivo, comercialização e exportação é projetado em US$ 5 bilhões por ano pela Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis (Abicann). A Kaya Mind, empresa brasileira especializada no segmento, estima que em 2022 o mercado de medicamentos à base de cannabis, o único regulado, movimentou R$ 363,9 milhões no País e deve dobrar neste ano.
Gaúcho radicado em Mato Grosso, Ricardo Arioli afirma ter ficado surpreso ao conhecer outras possibilidade e mercados para a cannabis. De outro lado, se diz “inconformado” com o fato da pesquisa de variedades da planta só ser permitida no país com autorização judicial.
“A cultura ficou com pecha negativa por causa da maconha, mas pesquisas lá fora já provaram que o cânhamo industrial não tem propriedades psicoativas. Falta autorizar a pesquisa aqui e identificar as variedades que podem ser plantadas sem risco e com alta produtividade”, diz ele.
No Ar: Pampa Na Tarde