Quinta-feira, 28 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 26 de dezembro de 2021
Dez meses depois das cirurgias de readequação de sexo das gêmeas Mayla e Sofia, de 19 anos, de Santa Catarina, a história delas serve de inspiração para outras meninas trans do País e expõe a fila de espera no Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo o pesquisador e professor do Núcleo de Estudos em Gênero e Saúde do departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Rodrigo Moretti, a espera é longa, com relatos de pessoas que aguardam por mais de cinco anos para iniciar o processo na rede pública.
“Cada um dos centros realiza no máximo duas cirurgias como essas por mês. Então, isso dá uma média de 10 procedimentos por mês e isso é muito aquém da necessidade. É uma situação precária”, afirma Moretti
O Ministério da Saúde informou não ter os dados sobre quantas pessoas estão na fila de espera no Brasil para fazer uma cirurgia de readequação de sexo pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O ministério afirmou ainda que não tem uma média de quanto tempo o paciente espera na fila até conseguir fazer o procedimento cirúrgico.
Apenas cinco estados brasileiros têm hospitais habilitados pelo Ministério da Saúde para realizar o procedimento pelo SUS (Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Goiás), o que faz com que haja procura por clínicas particulares.
Só em Santa Catarina, por exemplo, entre 2015 e setembro de 2021, o SUS encaminhou 72 pessoas para fazer a cirurgia de readequação de sexo fora do estado, uma vez que não possui centro de referência conveniado para o procedimento.
No mesmo período, a clínica particular onde as gêmeas foram operadas, em Blumenau, no Vale do Itajaí, fez seis vezes mais cirurgias e alcançou a marca de 500 intervenções.
A exposição que o caso das gêmeas teve nacionalmente ajudou a dar visibilidade para um grupo que ainda sofre bastante preconceito no país. A estudante de arquivologia Lorena Nascimento Quintas, de 23 anos, foi uma das jovens que se inspiraram em Mayla e Sofia. Ela fez o procedimento de readequação em outubro na rede privada.
“A reação positiva que elas receberam com toda a exposição da história também me incentivou a falar da minha história”, conta Lorena.
Fila de espera
É a portaria nº 2.836 de dezembro de 2011, que instituiu a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que trata sobre o direito da cirurgia de readequação de sexo e o uso de hormônios.
Para realizar a cirurgia de readequação de sexo pelo SUS, o acesso inicial é via Unidade Básica de Saúde (UBS). Após esse primeiro contato, é função da rede estadual direcionar essa pessoa para um dos centros de referência habilitados pelo Ministério da Saúde que realizam o procedimento.
Inspiração
Para Lorena Quintas, que mora em Londrina, no Paraná, a história das gêmeas trouxe inspiração para se abrir com outras pessoas.
“Antes pensava que iria esconder sobre tudo o que passei e fingir que meu passado e a cirurgia não existiram. Porém, com a história delas e com o apoio de amigos, decidi também fazer minha parte e falar minha história para o bem de outros que querem ouvir relatos e se educarem sobre ser trans”, afirmou a estudante.
Lorena passou pelo procedimento em 23 de outubro, semanas após seu aniversário. Ela afirma que inicialmente o pós operatório foi doloroso, mas recentemente o corpo dela tem reagido bem.
O fato de Mayla e Sofia serem jovens chamou a atenção de Lorena.
“Apesar de ter apenas quatro anos a mais que elas, ainda sinto uma diferença de geração. A visibilidade trans pareceu ficar mainstream [popular] quando já estava terminando o ensino médio, e só realmente aprendi sobre o processo de transição médica e de cirurgia quando tive a idade que elas têm agora”.
“Fico feliz que elas já conseguiram ter o conforto de fazer a transição numa fase tão conturbada e de fazerem a cirurgia que era tão importante para elas enquanto ainda não chegaram na fase adulta”, completou.
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