Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 23 de abril de 2022
Cientistas do Reino Unido realizaram uma enorme “escavação arqueológica” do câncer, analisando a sequência completa do genoma de tumores de cerca de 12 mil pacientes.
A equipe diz que a quantidade inédita de dados permitiu que eles descobrissem novos padrões no DNA do câncer — sugerindo causas que ainda não são compreendidas.
Eles acrescentam que as “pistas genéticas” ajudarão a melhorar o diagnóstico e o tratamento. A pesquisa foi publicada na revista Science.
O câncer é uma versão corrompida de nossas células saudáveis — mutações em nosso DNA mudam nossas células até que elas cresçam e se multipliquem de forma descontrolada.
Tradicionalmente, muitos cânceres são categorizados pelos médicos com base em onde eles estão localizados no corpo e no tipo de células envolvidas — mas o sequenciamento do genoma inteiro pode fornecer novas informações importantes, dizem os especialistas.
‘Pegadas’
O sequenciamento do genoma completo é relativamente novo, mas já está disponível no sistema público de saúde britânico (NHS, na sigla em inglês) para um pequeno número de cânceres específicos, incluindo alguns do sangue.
A pesquisadora-chefe Serena Nik-Zainal, consultora dos Hospitais da Universidade de Cambridge, explicou à BBC que o estudo é uma espécie de “escavação arqueológica” do câncer das pessoas.
“Podemos ver padrões ou impressões no campo do câncer — como pegadas de dinossauros — do que está acontecendo de errado. E o câncer de cada pessoa é diferente. Saber que podemos personalizar o relatório de câncer de cada pessoa significa que estamos um passo mais perto de personalizar o tratamento para elas.”
Liderada pela Universidade de Cambridge, a equipe de pesquisadores analisou dados de DNA anonimizados fornecidos pelo Projeto 100.000 Genomas — um plano em toda a Inglaterra para sequenciar os genomas inteiros de pacientes afetados por câncer e doenças raras.
Com milhares de alterações genéticas observadas em cada tumor analisado, os pesquisadores foram capazes de detectar combinações específicas de alterações genéticas — as chamadas “assinaturas mutacionais” — que podem ser a chave para o desenvolvimento de cânceres.
Comparando os dados com outros projetos internacionais, eles confirmaram alguns padrões já conhecidos e descobriram 58 novos. Algumas assinaturas podem fornecer pistas sobre se os pacientes tiveram exposição a causas ambientais de câncer – como o tabagismo.
Outros fornecem mais informações sobre anormalidades genéticas que podem ser passíveis de drogas específicas, dizem os pesquisadores.
Os pesquisadores também criaram um programa de computador para ajudar cientistas e médicos a verificar se os pacientes que tiveram o sequenciamento completo do genoma têm alguma das pistas mutacionais recém-descobertas.
Tratamento
Aubrey, uma menina de dois anos de Bedfordshire, no Reino Unido, foi diagnosticada com câncer quando tinha apenas 16 meses de idade.
Ela não participou do estudo. Mas o sequenciamento completo do genoma ajudou os médicos a identificar o tipo de câncer que ela tem — um rabdomiossarcoma — um câncer raro que geralmente afeta os músculos ligados aos ossos. Os resultados ajudaram a escolher o melhor tratamento possível.
Anna, mãe de Aubrey, disse: “Por causa da forma incomum como o câncer de Aubrey surgiu, os médicos não tinham certeza do tipo exato de câncer. O sequenciamento completo do genoma ajudou os médicos a saber como tratá-la e mantê-la estável.”
“Embora ainda tenhamos uma jornada desafiadora com o diagnóstico e tratamento de Aubrey, estamos aliviados em saber que ela não tem câncer herdado geneticamente e que não precisamos nos preocupar que isso possa afetar nosso outro filho ou outros membros da família também.”
O professor Matt Brown, diretor científico da Genomics England, disse: “Assinaturas mutacionais são um exemplo de uso de todo o potencial do sequenciamento de genoma completo”.
“Esperamos usar as pistas mutacionais observadas neste estudo e aplicá-las de volta à nossa população de pacientes, com o objetivo final de melhorar o diagnóstico e o tratamento de pacientes com câncer.”
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