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Por Redação Rádio Pampa | 22 de outubro de 2022
Quem nunca saiu do trabalho se sentindo destruído após um dia longo e cansativo. Sem vontade de pegar o carro e dirigir de volta para casa, com os olhos ardendo, sem coragem até mesmo para conversar com os amigos. Um novo estudo conduzido pelo Paris Brain Institute (ICM), descobriu que essa condição que acontece com milhares de pessoas diariamente, pode ser prejudicial para a saúde mental. Isso porque tarefas com alta demanda, que exigem concentração intensa e constante podem levar ao acúmulo de uma substância química tóxica chamada glutamato.
O glutamato é um neurotransmissor, uma proteína que transmite sinais entre neurônios no cérebro. Em quantidades excessivas, no entanto, pode alterar o desempenho da região do cérebro envolvidas no planejamento e na tomada de decisões, o córtex pré-frontal lateral.
“O glutamato é o aminoácido mais abundante no sistema nervoso central, agindo como neurotransmissor excitatório e atuando no desenvolvimento neural, na plasticidade sináptica, no aprendizado e na memória. No entanto, há uma concentração ideal para que ele tenha essas funções benéficas. Falhas nesses mecanismos regulatórios levam ao fenômeno patológico chamado de excitotoxicidade, pelo qual células nervosas são danificadas ou mortas por estimulação excessiva por neurotransmissores, como o glutamato”, explica Arthur Danila, Coordenador do Programa de Mudança de Hábito e Estilo de Vida do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
O trabalho dividiu os participantes em dois grupos. Ambos se sentaram em um escritório de frente para um computador por seis horas e meia. Uma parte do estudo teve de fazer tarefas difíceis que exigiam sua memória de trabalho e atenção constante, como por exemplo, classificar letras em vogais ou consoantes que apareciam na tela do monitor a cada dois segundos, ou dependendo da cor da letra, maiúsculas ou minúsculas.
A segunda turma fez tarefas semelhantes, mas muito mais simples. Ambos os grupos conseguiram uma taxa média de 80% de respostas corretas. Os cientistas usaram espectroscopia de ressonância magnética para escanear os cérebros dos participantes e medir os níveis de metabólitos. Os autores fizeram leituras no início, meio e fim do dia.
Eles encontraram aumento de glutamato apenas no grupo de alta demanda sendo observado apenas no córtex pré-frontal lateral e não em outras áreas do cérebro, como no córtex visual primário.
Os dois grupos também tiveram testes de decisão. Isso incluiu escolhas sobre sua vontade de exercer esforço físico (andar de bicicleta em diferentes intensidades), esforço cognitivo (se realizar versões mais difíceis ou mais fáceis das tarefas de controle cognitivo) e paciência (quanto tempo eles estavam dispostos a esperar para receber uma recompensa maior).
Os autores descobriram que o grupo de alta demanda, ou seja, o que tinham usado mais o cérebro, estavam fadigados e tinham um nível elevado de glutamato no cérebro, preferia escolhas menos exigentes. Entre elas, pedir comida pronta e ficar esparramado no sofá na frente da televisão.
As pupilas desses participantes estavam menos dilatadas, ou seja, não tinham excitação por estarem ali, ou pelas recompensas que poderiam receber. Além de levarem menos tempo para tomar decisões, o que indica que eles experimentaram essa parte do experimento como pouco exigente.
“O acúmulo de glutamato desencadeia um mecanismo de regulação que torna a ativação do córtex pré-frontal lateral mais difícil de ocorrer. Com isso, o controle cognitivo passa a ser mais difícil de ser mobilizado após um dia de trabalho extenuante, e acaba desencadeando comportamentos de busca por prazer imediato, seja na compulsão alimentar, sexo ou compras desenfreadas”, diz Danila.
O glutamato pertence a classe de substâncias que são eliminadas durante o sono. O estudo confirma que as tomadas de decisões devem ser feitas com o cérebro limpo e relaxado, por isso sempre é melhor esfriar a cabeça, ir para casa, ter uma excelente noite de sono com características restauradoras dos processos cognitivos para o dia seguinte fluir com maior leveza e comportamentos regulados cognitiva e emocionalmente.
“Ele, assim como o Beta amiloide, que são as proteínas de depósito do nosso cérebro, fazem parte do sistema glinfático, que atuam na limpeza e tiram o acumulo que deixam o nosso cérebro pesado e cansado. Essa faxina é feita predominantemente durante o sono, por isso, que estudos já confirmaram que ficar 48 horas sem dormir, tem o mesmo efeito de tomar 4 doses de vinho, por exemplo, pois o nosso cérebro está com excesso de glutamato e beta amiloide além do habitual”, explica o neurologista e professor da Universidade Federal de São Paulo, João Brainer Andrade.
Por isso, pessoas com privação do sono, depressão, insônia, aliados a uma má alimentação e menos exercícios físicos passa a ter menos concentração, disposição, energia e fica mais inclinado a tomar ações de baixo esforço com recompensas de curto prazo.
No Ar: Pampa Na Madrugada