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Por Redação Rádio Pampa | 17 de fevereiro de 2022
Pesquisadores americanos acharam no sangue de mulheres grávidas 15 marcadores biológicos que podem prever em até 83% o risco de depressão durante a gestação ou no pós-parto. Isso significa que, a partir de um tipo de exame de sangue, seria possível prever o risco de depressão perinatal.
A descoberta feita por cientistas do Instituto Van Andel e da Universidade Estadual de Michigan foi publicada no periódico Translational Psychiatry, publicação da renomada revista científica Nature.
A gravidez gera uma série de alterações no corpo feminino e uma delas ocorre no sistema imunológico, que muda para facilitar o desenvolvimento do feto. Essas modificações provocam flutuações na produção de fatores pró-inflamatórios e interferem, por exemplo, nos níveis de triptofano, um aminoácido essencial não produzido em nosso corpo, que está ligado ao combate da depressão e ansiedade. Os pesquisadores sinalizam no estudo que as gestantes podem, portanto, sofrer de um tipo específico de depressão induzida por inflamação.
“A gravidez é um evento inflamatório. Essas inflamações vão aumentando de acordo com a evolução da gravidez. Esse processo desencadeia algumas substâncias que podem aumentar o risco de depressão. Quanto mais fortes são as inflamações, mais substâncias que levam à depressão são produzidas”, explica Fernando Prado é especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e diretor clínico da Neo Vita.
Um estudo revisional anterior, feito por pesquisadores do Research Triangle Institute, da Carolina do Norte, mostrou que cerca de 20% das grávidas desenvolvem depressão entre o início da gestação até três meses depois do nascimento dos filhos. Isso significa que uma a cada cinco mulheres apresentam sintomas de depressão perinatal.
As descobertas do novo estudo poderão impactar no acompanhamento pré-natal. A partir dos achados desse estudo será possível desenvolver um exame de sangue para acompanhar os níveis dos biomarcadores encontrados pelos cientistas.
“Criar um exame desses não é algo complexo de se fazer. Esse tipo de teste só não existe ainda porque ninguém nunca tinha estabelecido uma relação desses marcadores biológicos com a depressão. A partir de agora, será possível sim fazer esta dosagem no sangue, observar se as concentrações estão alteradas e prever se a gestante tem mais risco de desenvolver a depressão. E, em caso positivo, já iniciar o tratamento repondo alguns nutrientes e vitaminas e, nos casos mais graves, até mesmo usar antidepressivos”, afirma o obstetra.
Começar a tratar uma depressão com métodos não medicamentosos antes do agravamento dos sintomas é essencial para assegurar a saúde da mãe e do bebê. Atualmente, os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs) são os remédios mais comumente usados no tratamento da depressão relacionada à gravidez.
No entanto, este tipo de terapia tem se mostrado eficaz em apenas 50% dos pacientes. Além disso, os ISRSs estão associados a certos riscos durante a gravidez, como a síndrome de abstinência neonatal e hemorragia pós-parto na mãe. Médicos e mães podem, portanto, relutar em usar ISRSs, deixando essa condição sem ou subtratada.
Estudo
Segundo os pesquisadores, a depressão não é uma condição que envolve apenas as estruturas do cérebro: suas “impressões digitais” estão em todo o corpo, inclusive em nosso sangue.
O estudo está entre os primeiros de seu tipo e acompanhou 114 voluntárias, com idade média de 26 anos, atendidas nas Clínicas de Obstetrícia e Ginecologia da Spectrum Health durante toda a gravidez. Nenhuma delas tinha sintomas depressivos ou psicóticos antes de entrar no estudo, nem histórico de abuso de substâncias. As participantes forneceram amostras de sangue e foram submetidas a avaliações clínicas para sintomas depressivos em cada trimestre e no período pós-parto.
A gestação e o pós-parto analisados pelos pesquisadores foram divididos em quatro períodos: 1º, 2º e 3º trimestre de gravidez e os três primeiros meses pós parto. Os cientistas descrevem que 37 das 114 mulheres — ou seja, 32% das voluntárias — apresentaram sintomas depressivos significativos em um ou mais momentos e 12 mulheres (10,5%) receberam um diagnóstico formal depressão perinatal.
O número de mulheres com sintomas depressivos significativos foi maior no primeiro trimestre (19,3%), diminuindo um pouco no segundo (13,6%), voltando a aumentar no terceiro trimestre (15,8%), ou seja, reta final da gravidez. O percentual no pós-parto ficou em 14,1%.
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