Terça-feira, 07 de Janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 5 de janeiro de 2025
O Brasil voltou a ser um país de classe média. O ano de 2024 marcou uma mudança na distribuição das famílias por estrato social, mostra levantamento da Tendências Consultoria obtido em primeira mão pelo GLOBO. O estudo constatou que 50,1% dos domicílios estão nas classes C para cima, o que significa renda mensal domiciliar acima de R$ 3,4 mil.
É a primeira vez que isso acontece desde 2015, quando 51% estavam ao menos na classe média. Em 2023, os domicílios das classes C, B e A representavam 49,6%.
A melhora no emprego é o principal fator responsável pela ascensão social dos brasileiros, diz a consultoria:
“Desde 2023 houve migração importante das famílias da classe D/E para a classe C, decorrente da melhora significativa do mercado de trabalho no pós-pandemia”, explica a economista Camila Saito, da Tendências.
As classes C e B são tipicamente as de classe média. Nessas famílias, a principal fonte de renda vem do trabalho, e a massa salarial (total dos ganhos de todos os trabalhadores) aumentou nos últimos anos, diz Camila, com a retomada da economia após a pandemia e a valorização real do salário mínimo em 2023 e 2024, após anos sem reajustes acima da inflação:
“Isso acarretou melhor desempenho dessas classes em relação às demais.”
Impulso do emprego
Pelas estimativas do estudo, a massa de renda total no ano passado, incluindo salários, benefícios sociais, aposentadorias e pensões, e outras rendas como juros de investimentos, subiu em média 7% no país. Mas, na classe C, este avanço foi bem maior, de 9,5%.
Neste estrato social estão as famílias com rendimento domiciliar entre R$ 3,5 mil e R$ 8,1 mil. Na classe B, que reúne os domicílios com rendimentos entre R$ 8,1 mil e R$ 25 mil, o avanço nos ganhos foi de 8,7%, o segundo melhor desempenho.
Neste ano de 2025, a classe C deve, de novo, ter um desempenho melhor do que a média nacional. A Tendências prevê expansão de 6,4% na renda deste grupo, contra 3,8% para o conjunto dos brasileiros. Mas, em qualquer recorte, será um desempenho aquém de 2024, que resultará em uma mobilidade social mais lenta, afirma Camila:
“Nossas estimativas consideram uma tendência de lenta mobilidade social das famílias para classes de renda superiores. A mobilidade social das classes D e E deve ser reduzida nos próximos anos, acompanhando um fenômeno típico de países com alta desigualdade.”
Segundo a economista, o ingresso no mercado de trabalho é o principal meio de redução da pobreza, mas não é condição suficiente para superá-la, diante das “baixas remunerações, elevadas desigualdades entre grupos de população ocupada, altas taxas de informalidade e marcante heterogeneidade entre os setores produtivos.”
No ano passado, a taxa de desemprego chegou ao seu menor nível histórico, de 6,1% no trimestre terminado em novembro, e o nível de ocupação (total de pessoas com trabalho em relação à população total) chegou também ao seu melhor momento: 58,8%. Em 2019, essa taxa era de 56,8%.
Desigualdade
Segundo o economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social, o Brasil teve resultados sociais “bastante alvissareiros”, comparáveis aos de 2014 (o melhor ano até então para o mercado de trabalho), mas ainda melhores. O economista avalia que os três componentes que favorecem a ascensão social estavam presentes em 2024:
“Nos nossos estudos da nova classe média, três componentes estavam presentes: crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), como está havendo nos últimos dois anos; crescimento da renda do trabalho bem acima do PIB, que está acontecendo também. Em 2023, a alta do rendimento do trabalho só perdeu para o boom do Real (em 1994) em único ano.”
Já o terceiro componente, explica Neri, só apareceu em 2024, que foi a queda da desigualdade. Apesar de os indicadores de disparidade de renda estarem no menor patamar histórico, eles ficaram praticamente estagnados em 2023. Em 2024, foi diferente, afirma Neri:
“No ano passado, entrou um elemento novo, ausente da cena nos últimos anos, que foi a queda na desigualdade. Até o terceiro trimestre, a renda média domiciliar per capita em 12 meses cresceu 6,98%, mas entre os 50% mais pobres, a alta foi 10,2%.”
E a causa principal dessa alta maior veio da queda do desemprego, que respondeu por 40% do aumento da renda das famílias, afirma Neri.
Um dos símbolos da classe média, que é o emprego formal, também avançou. Foram criadas 3,6 milhões de vagas com carteira assinada de janeiro de 2023 a setembro de 2024, lembra o economista.
A alta da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 12,25% ao ano — e que pode chegar a 14,75% no fim de 2025, se as previsões dos analistas se confirmarem —, deve favorecer a classe A, diz Camila, da Tendências. Este estrato social tem os ganhos mais concentrados em aplicações financeiras e aluguéis.
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