Quarta-feira, 27 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 13 de maio de 2022
A imagem mais famosa que temos do Big Bang é a de um único ponto que se expandiu e deu origem ao universo.
Mas e se este é apenas o gêmeo de um outro universo que se formou ao mesmo tempo que esse ponto e se expandiu em direção oposta? Essa é a proposta ousada que foi publicada recentemente por um grupo de cosmólogos do Perimeter Institute for Theoretical Physics, no Canadá.
E eles vão além. Nesse “antiuniverso” que propõem, que se move na direção oposta à nossa, o tempo também corre no sentido contrário.
Essa hipótese, por mais complexa que possa parecer, é uma tentativa de seus autores de explicar de forma mais simples e “econômica”, vários mistérios do cosmos – entre eles, a enigmática matéria escura.
Do outro lado
Existem dois conceitos-chave para entender a ideia de um “antiuniverso”.
O primeiro tem a ver com o modelo padrão da física de partículas, teoria que descreve as partículas fundamentais das quais o universo é feito e as forças que as fazem interagir entre si.
Segundo esse modelo padrão, sempre que surge uma partícula de matéria, surge também sua contraparte de antimatéria – uma partícula idêntica, mas com carga diferente. Isso significa que, durante o Big Bang, foi produzida a mesma quantidade de matéria e antimatéria.
E o segundo conceito é o de simetria.
Na cosmologia, esse princípio indica que qualquer processo físico permanece o mesmo, inclusive se o tempo retroceder, o espaço ficar invertido ou se as partículas forem substituídas por antipartículas.
Com base nesses dois princípios, a analogia que poderia ser feita é que, assim como existe um universo, seria de se esperar que houvesse um “antiuniverso” simétrico ao que conhecemos.
Simetria
Em um estudo recente do Perimeter Institute for Theoretical Physics, do Canadá, os autores analisaram um tipo de simetria chamado CPT (iniciais de carga, paridade e tempo).
Essa simetria indica que, se inverter as cargas, a imagem e o tempo de uma interação de partículas, essa interação se comportará da mesma maneira.
Então, essa simetria que se aplica às partículas, segundo os autores do estudo, também poderia ser aplicada ao universo como um todo, o que abre a possibilidade de um universo simétrico.
“O universo em seu conjunto simétrico CPT”, escrevem os autores da pesquisa.
Sob essa premissa, o Big Bang é um ponto de partida no qual se originam o universo e sua imagem especular (no espelho).
“Sugerimos que o universo antes do Big Bang é o ‘antiverso’ do universo após o Big Bang”, dizem os autores.
Como é
Latham Boyle, um dos coautores do estudo, alerta que não tem certeza sobre a hipótese do “antiuniverso” e que suas propostas terão que ser verificadas experimentalmente. Mas ele acha que seus cálculos lhe dão algumas pistas.
“Até agora, acreditamos que o antiverso é uma verdadeira imagem espelhada refletida no tempo, com troca de partículas e antipartículas”, diz Boyle. De acordo com essa visão, esse “antiuniverso” não é um universo independente, mas um mero reflexo do nosso. “Temos um ‘anti-eu’ no outro universo, mas não é independente”, diz Boyle.
“Se você optar por comer ovos no café da manhã, sua versão antiverso não pode optar por comer bacon no café da manhã. Se você comer ovos no café da manhã, ele terá anti-ovos no café da manhã”, acrescenta.
Conforme proposto por Boyle e seus colegas, o Big Bang é como um espelho que inverte não apenas a imagem, mas também a direção do tempo.
Nos dois lados do universo, o tempo se afasta do Big Bang – de um lado, a seta do tempo vai para a direita e, do outro, para a esquerda.
“Todo lado do universo acha que é perfeitamente normal”, diz Boyle. “Ambos acreditam que seu tempo está avançando. Do nosso ponto de vista, no antiverso o tempo retrocede, mas para eles somos nós que retrocedemos.”
A ideia de Boyle contém outra possibilidade: talvez sejamos nós que estamos no “antiuniverso” e não sabemos disso.
E outra pergunta que você pode estar se fazendo: é possível viajar para esse “antiuniverso”?
“Não podemos atravessar para o outro lado do espelho”, diz Boyle. “Para isso, teria que ser possível viajar ao passado.”
Ou seja, você teria que viajar pelo espaço-tempo, atravessar a singularidade do Big Bang e sair do outro lado.
No Ar: Pampa Na Tarde