Sábado, 23 de Novembro de 2024

Home Tecnologia Conheça o game chinês com cara de japonês que conquistou o mundo

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O Genshin Impact, um dos videogames mais populares do momento, tem todas as características de um produto japonês: robôs gigantes, espadas do tamanho de pessoas, personagens de olhos grandes e cabelo multicolorido, e uma estranha obsessão por mocinhas em microvestidos. Só que ele é chinês.

Lançado no fim de 2020, o jogo é o primeiro verdadeiro sucesso da indústria chinesa de games. Em seu primeiro ano no mercado, arrecadou US$ 2 bilhões, um recorde para games em dispositivos móveis, segundo a consultoria Sensor Tower. E, ao contrário de outros games populares da China, boa parte da receita vem do exterior.

O sucesso do game sinaliza uma mudança no equilíbrio de poder na indústria de videogames, que movimenta US$ 200 bilhões por ano, há muito dominada por Japão e Estados Unidos.

Os desenvolvedores chineses, com o caixa cheio graças ao enorme mercado interno, buscam crescer no exterior. Eles veem o Japão – a superpotência dos games, em processo de envelhecimento – como um alvo ideal. As empresas chinesas, então, começaram a contratar talentos do Japão e aplicar o que aprenderam durante anos imitando os líderes japoneses do setor.

Em alguns aspectos, a China já começou a ultrapassar o país vizinho. Na década em que prestou serviços para empresas de game do Japão, os chineses desenvolveram recursos de engenharia de padrão global. As rivais japonesas nem sonham com os investimentos atualmente feitos por companhias chinesas como NetEase e Tencent.

O Genshin Impact, no entanto, também mostra que, se a indústria de games chinesa atingiu mestria técnica, a criatividade deixa a desejar. Apesar de alguns elementos chineses, o Genshin praticamente reproduz um dos gêneros de maior sucesso nos games do Japão: RPG de fantasia em mundo aberto.

Os criadores do game, da empresa miHoYo, de Xangai, referem-se a si mesmos orgulhosamente como otaku, termo japonês usado para descrever pessoas obcecadas pela cultura pop do Japão, como mangás e animes.

O uso de temas japoneses é uma prova do soft power do país. A indústria de games da China enfrenta dificuldades para produzir um conteúdo original que tenha apelo global – um sintoma, em parte, do estrito controle do governo sobre as empresas e a sociedade.

De Zelda a Miyazaki

Mas, imitação ou não, para muitos especialistas o Genshin expõe os desafios do setor de games do Japão, sob forte concorrência dos EUA, da Europa e, agora, da China.

O Genshin ainda é incrivelmente popular entre as mulheres. Há diversas personagens femininas entre as dezenas que os jogadores podem usar para explorar um vasto reino, entrando em masmorras, combatendo monstros e completando expedições para avançar na narrativa épica sobre um viajante misterioso enredado em um conflito entre homens e deuses.

A mitologia do Genshin inspirou o tipo de resposta global que marcou o sucesso dos games japoneses: cosplay, arte de fãs e infinitas discussões on-line sobre os personagens e seu reino mágico, Teyvat.

Tanto que jogadores no Japão consideravam o Genshin tanto homenagem como cópia de uma das séries da mais amada franquia de games do país: The Legend of Zelda. Afinal, o Genshin mistura referências a Breath of the Wild com animes e outros jogos, do desenho animado “O castelo no céu”, de Hayao Miyazaki, ao jogo de RPG Dragon Quest.

O Japão responde por quase um terço da receita do Genshin. Apesar de o jogo ser gratuito, sua arrecadação vem de outra estratégia tirada dos games japoneses: cobrar dos jogadores pela chance de obter novos personagens e melhores equipamentos – um conceito conhecido por gacha.

Até quem, em um primeiro momento, considerou o game uma imitação barata acabou conquistado por sua qualidade. Do ponto de vista de tecnologia, direção de arte e jogo, o Genshin é um enorme salto para a China, diz Yukio Futatsugi, CEO da desenvolvedora japonesa Grounding Inc.: “É um game excelente”.

Futatsugi é um dos desenvolvedores que se beneficiou da busca das empresas chinesas por talentos no país vizinho. Em 2021, ele recebeu um vultoso investimento da NetEase, o que lhe deu maior liberdade de expressão artística.

“Não há muitas empresas no Japão dispostas a nos dar dinheiro para fazermos o tipo de jogo que queremos”, diz Futatsugi. “As chinesas são as únicas a reconhecerem o valor de nossa companhia.”

Analistas, porém, alertam que esse movimento pode drenar talentos das empresas japonesas, acelerando o declínio da indústria.

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