Sexta-feira, 22 de Novembro de 2024

Home Comportamento Conheça “truque” da moda que prejudica autoestima e aumenta a gordofobia

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De frente para um grande espelho, no provador com luz âmbar e música ambiente da sua loja favorita, a vendedora lhe oferece uma calça um ou dois números menores. A peça serve, deixa sua silhueta definida e você, surpresa com a situação, fica feliz por ter a peça na hora e compra. Embora fictícia, a cena tem sido cada vez mais frequente e escancara uma questão que as mulheres vêm percebendo ao longo dos anos: as etiquetas não são apenas irregulares, sem padrão definido. Elas andam “encolhendo” para “seduzir” as consumidoras.

“Esse truque não é novo. Nós somos conscientes do nosso tamanho e qual é ele nas marcas e lojas onde compramos”, diz a stylist Manu Carvalho. “Mas existe aquela ilusão momentânea e acompanho isso com as minhas clientes. Um dia, uma delas falou: ‘Nossa, essa roupa é 38, e eu não sou 38!’. Ela vibrava, empolgada. O mesmo acontece com quem veste tamanhos maiores e se vê usando uma peça que não é de uma loja plus size. Essa emoção mexe com todas, independentemente do manequim”, completa a também consultora de moda. A técnica, como diz Manu, tem nome: vanity sizing, ou tamanho da vaidade.

“Importada” dos Estados Unidos, é uma maneira de “melhorar” a autoestima da consumidora fazendo com que ela se sinta mais magra ao provar uma roupa e, consequentemente, compre mais. “É muito comum também a vendedora falar, ‘vou pegar o tamanho 40, porque essa coleção veio menor. Ou, 36, porque essa está maior’. Outro ponto são as estéticas de cada coleção: você pode ter peças mais sequinhas e outras oversized . E isso também vai interferir no tamanho de cada pessoa. É muito difícil, quase impossível regulamentar isso. Se um dia for regulamentado, pode ter certeza que, no próximo, já vai ter alguém fazendo algo por fora”, analisa ela.

A falta de padronagem nos tamanhos é um complicador

Na verdade, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) emitiu uma norma no fim do ano passado em que padroniza o tamanho das roupas, oferecendo novos referenciais de medidas para as marcas com base em dois tipos de corpos que, segundo a associação, são mais frequentemente observados nas brasileiras: “retângulo” e “colher”. Enquanto no primeiro, as medidas do busto e do quadril são parecidas e a cintura não é bem marcada, no segundo, as laterais são mais arredondadas e o quadril é maior que o tórax.

“Ainda é uma coisa muito recente, essa norma tem menos de um ano e está sendo discutida. Quem ajudou a fazer o escaneamento dos corpos e medidas foi uma grande varejista, então, acredito que fatalmente outras redes devem ir na onda, senão, vão ficar para trás. O público pede essa inclusão”, diz a ativista e empresária paulista Flávia Durante. Para ela, mais do que ilusão ou apenas uma tática das lojas para alimentar o consumo, a prática escancara a gordofobia e o fato de que a moda, apesar das recentes tentativas de inclusão com corpos diversos nas passarelas e campanhas, sempre prezou pelo biotipo magro.

“Começaram a diminuir os tamanhos das roupas para que as pessoas, principalmente mulheres, se sentissem melhor, como se vestir um tamanho maior fosse algo desabonador ou ruim”, diz ela, que é criadora da Pop Plus, maior feira de moda plus size da América Latina. Flávia também critica o resgate da moda Y2K, que tem como um dos seus maiores símbolos a calça de cintura baixa. “Tem se falado muito sobre essa volta da magreza dos anos 2000, só que na verdade ela nunca deixou de ser valorizada. A gente, que é da militância gorda, sempre sofreu com a gordofobia, essa pressão estética nunca deixou de existir”.

As mulheres ditas ” mid size”, que usam entre 42 e 46, também não são contempladas pelas marcas tradicionais. “Elas não aumentam suas grades, e são as roupas plus size que estão diminuindo seus tamanhos para incluir essas mulheres. Está tudo errado. O ideal seria que todas as marcas fossem all sizes”, lamenta ela.

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