Sexta-feira, 22 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 17 de janeiro de 2024
Nos últimos 15 anos, houve um aumento significativo na especialização esportiva precoce de crianças e jovens. Alguns fatores que explicam o desejo dos pais e treinadores de incentivar a escolha de um único esporte estão relacionados à esperança de fornecer ao jovem atleta uma vantagem sobre os outros, obter uma bolsa de estudos ou apoio financeiro, além de facilitar sua chegada à elite profissional. Apesar dessas aparentes vantagens, algumas pesquisas e histórias individuais sugerem que a especialização precoce não leva a uma vantagem competitiva sobre outros atletas que praticam vários esportes simultaneamente.
Na Copa do Mundo de futebol feminino, realizada ano passado na Austrália e Nova Zelândia, a atacante da seleção espanhola Salma Paralluelo se destacou por suas qualidades físicas e técnicas. Jornalistas descobriram que ela era uma jogadora que havia praticado outra modalidade esportiva, os 400 metros no atletismo, e esse aspecto a ajudou em seu desempenho em campo.
O caso da jogadora não é isolado: Aauri Bokesa seguiu um caminho inverso, indo do basquete para o atletismo, aspecto que teria ajudado em sua coordenação e agilidade. Rafael Nadal praticava outros esportes, inclusive futebol, ao mesmo tempo em que se formava no tênis. Destacam-se também a figura de Michael Jordan, que praticou diversos esportes como beisebol e futebol americano, ou o tenista Nick Kyrgios, que jogava basquete desde a infância. Todos os exemplos mostram que certas crenças no treinamento esportivo devem ser analisadas de uma perspectiva mais científica, com foco principal na criança, que deve desfrutar do esporte.
Engajamento precoce
Nos contextos esportivos, o enfoque baseado na chamada “teoria do engajamento precoce” (em inglês, early engagement theory) se espalhou. De acordo com esse modelo, é mais recomendável limitar a variedade da prática esportiva para se tornar competente no esporte praticado e treinar por um grande número de horas desde pequeno. No entanto, existem outras abordagens que propõem formações mais diversas, especialmente na faixa etária de 6 a 12 anos.
O pesquisador Jean Côté, da Escola de Estudos em Cinesiologia e Saúde da Universidade do Queens, destaca que é necessário considerar as diferentes abordagens ao esporte que as crianças enfrentam, onde surgem atividades realizadas por diversão, como o jogo livre (prazer de jogar sem um fim específico) e o jogo deliberado (quando se pratica um esporte ou habilidade como experimentação em espaços não padronizados) que têm uma motivação elevada. Por outro lado, existem abordagens mais planejadas e estruturadas, com treinamentos e competições regulamentadas que buscam a melhoria do desempenho, como a prática estruturada e a prática deliberada.
Nesse sentido, é recomendável evoluir de uma prática variada, onde o jogo e a motivação predominam, para a prática deliberada, à medida que se amadurece e evolui no nível de suas habilidades. Ou seja, até os 14 ou 15 anos, aproveitar o esporte e as diferentes formas e tipos, até chegar a uma idade em que a criança possa escolher aquele em que se sinta mais competente e possa se especializar com maior intensidade, se esse for o desejo. Esse processo deve seguir paralelamente ao papel do treinador como um guia, auxiliando na alfabetização física nas primeiras etapas, até se tornar um especialista em suas fases avançadas que corrige as atuações para aprimorar seu desempenho.
Não devemos esquecer o papel da motivação no jogo deliberado. Ir ao parque com os amigos depois da escola ou brincar com familiares são atividades lúdicas que aumentam a riqueza da prática física esportiva, complementando e auxiliando no desenvolvimento da competência motora em todas as suas dimensões.
No Ar: Show de Notícias