Domingo, 22 de Dezembro de 2024

Home Esporte Crise no skate: briga política explode a seis meses da Olimpíada e pode prejudicar atletas

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Uma das principais esperanças de medalha do Brasil nos Jogos de Paris-2024, o skate está envolvido em uma briga política, que teve como último desfecho a mudança da representação nacional da modalidade, pouco mais de seis meses antes da Olimpíada. Desfiliada da World Skate (WS), federação internacional reguladora do skateboarding e dos esportes sobre patins, a Confederação Brasileira de Skate (CBSk) não será mais a responsável por representar, apoiar financeiramente e preparar os skatistas do País no atual ciclo olímpico.

Então, por qual entidade o skate nacional será representado a partir de agora? Até os Jogos de Paris, caberá ao Comitê Olímpico do Brasil (COB) gerir os assuntos relacionados à modalidade. Depois disso, o plano é ter a Confederação Brasileira de Hóquei e Patins (CBHP) transformada em uma federação mais ampla, que abrigará o skate. Embora possa soar estranha a relação entre hóquei, patins e skate, este passo segue a lógica da própria WS, agregadora das variações desses esportes.

O presidente do COB, Paulo Wanderley, afirmou que agendará uma reunião com skatistas para acalmar os ânimos e não deixar a preparação olímpica ser prejudicada.

Até chegar ao ponto da desfiliação da CBSk, o caminho foi de muitos desentendimentos. A World Skate decidiu, em assembleia realizada em 2019, que cada país poderia ter apenas uma entidade filiada ao seu quadro, e o Brasil tinha a CBSk e a CBHP. Entre alguns adiamentos, a regra só foi aplicada após 31 de dezembro de 2023. Antes disso, travou-se uma disputa nos bastidores, pois a WS queria a fusão das duas entidades, sugestão refutada pela CBSk, que sentiu sua autonomia ameaçada e adotou o discurso de manter o “skate nas mãos dos skatistas”.

Em um panorama mais amplo, a CBSk aliou-se a federações de outros países em um movimento que chamaram de “no merge” (sem fusão). Ao fim do prazo para a resolução dos conflitos entre as instituições nacionais, cinco países não tiveram acordos entre suas entidades: Brasil, Estados Unidos, Geórgia, Eslovênia e Turquia. A escolha da representação, então, foi feita pela WS, conforme determinado pelo estatuto da organização.

Conflito

A disputa entre CBSk e CBHP se consolidou em 2017, quando, após o skate se tornar esporte olímpico, a Federação Internacional de Esportes sobre Patins se fundiu à Federação Internacional de Skate, culminando na criação da WS. Então, o COB teve de indicar uma entidade para representar os skatistas junto à nova entidade e chegou a escolher a CBHP, mas mudou de ideia e optou pela CBSk, na época presidida por Bob Burnquist, um dos maiores skatistas da história e fundamental nesse processo de convencimento.

Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, sob administração da CBSk, o skate brasileiro conquistou três medalhas de prata, com Rayssa Leal e Kelvin Hoefler no street e Pedro Barros no park. A nova determinação de representação única junto à WS, contudo, acabou desgastando a relação da entidade brasileira com a federação internacional e até com o COB.

A CBSk propôs continuar como representante brasileira na WS, usando como argumento o fato de comandar um esporte olímpico, diferentemente da CBHP, e prometendo dar espaço à entidade de hóquei e patins quando necessário.

“Os assuntos relativos à Olimpíada a gente entende que teriam de ser tratados pela modalidade que rege isso. A gente deu garantias por escrito que, quando o assunto fosse exclusivamente de outras modalidades, a gente passaria uma procuração ao representante da CBHP, que eles tivessem total autonomia para decisões, já que a gente não tem conhecimento da modalidade deles do mesmo jeito que eles não têm nenhum conhecimento sobre o skateboard”, diz Eduardo Musa, presidente da CBSk.

Ao comunicar a desfiliação, a WS criticou a CBSk por ter “recusado qualquer diálogo com a CBHP” e realizado uma “campanha difamatória na mídia contra a World Skate e suas regras”. O texto também destacou a falta de “intenção de se associar com a CBHP e demais esportes regidos pela World Skate” e disse que a proposta apresentada pela CBSk “não estava de acordo com as determinações, uma vez que previa manter duas entidades separadas sem criar uma organização guarda-chuva”.

A CBHP, por sua vez, aceitou se transformar na tal “organização guarda-chuva”, termo utilizado para se referir ao ato de agregar skate, hóquei e patins. Agora, terá até abril para estabelecer uma nova federação chamada “Skate Brasil”. Para ser aprovada, terá de provar à WS que tem condições para a criação do novo órgão, o que passa por conceder autonomia financeira e técnica a cada esporte e cumprir “todas as Cartas Mundiais de Skate e as Normas Olímpicas Nacionais relevantes”.

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