Terça-feira, 03 de Dezembro de 2024

Home Ciência Dados distorcidos nas redes sociais: estudo da Nasa não diz que o Brasil ficará inabitável por causa do calor

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Circula nas redes sociais a afirmação equivocada de que um estudo da Nasa aponta que o Brasil ficará inabitável dentro de um prazo de 50 anos por causa das altas temperaturas. É fato que o mundo está mais quente e o país também está vivendo as consequências, mas o estudo não diz isso.

A pesquisa existe e é de 2020, mas ganhou repercussão somente neste mês. Ela foi feita por pesquisadores que trabalham na agência espacial americana e foi publicada na “Science Advances”, uma das mais respeitadas revistas científicas do mundo.

O trabalho faz alertas importantes sobre o aumento de eventos com temperaturas e umidade além do suportável para as pessoas.

No entanto, não cita o Brasil, não tem dados relevantes sobre a América Latina, e muito menos diz que esses locais ficariam inabitáveis em determinado período.

* O que diz o estudo?

Primeiro, é preciso saber que a pesquisa faz uma análise de dados históricos entre 1979 e 2017 e não faz uma projeção para 2070, como sugerem os conteúdos que circulam recentemente.

O estudo é assinado por Colin Raymond (autor principal), pesquisador que atua na Nasa, e que mapeou as temperaturas do bulbo úmido. Essa não é a temperatura dos termômetros, mas uma medida que relaciona calor e umidade do ar para avaliar o estresse térmico.

A partir de uma certa temperatura do ar, o corpo precisa regular a própria temperatura pela transpiração. Para que isso aconteça, o suor precisa evaporar, mas em um ambiente muito úmido é difícil que isso aconteça. O limite para a sobrevivência seria de 35°C nesta medição.

O que a pesquisa descobriu analisando dados entre 1979 e 2017 é que a Terra já passou por eventos em que chegou a esse limite e que os eventos extremos, com essa temperatura entre 30°C e 31°C, vêm aumentando ao longo do tempo.

* O que os especialistas explicam?

Pedro Camarinha, PhD em mudanças climáticas e pesquisador no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), explica que o estudo é relevante e bem conhecido no meio científico, mas que a informação está distorcida.

“Não há absolutamente nenhuma informação sobre isso e qualquer base científica para dizer que o país ficaria inabitável. O estudo não faz uma projeção de como a Terra ficaria em 30 anos, até porque isso dependeria da análise de outras variáveis e não só da temperatura de bulbo”, diz Camarinha.

Segundo o especialista, a forma como a informação vem sendo divulgada faz parecer que o destino do país seria se tornar inabitável em 50 anos, o que distorce os esforços de medidas de adaptação climática e a capacidade do próprio ser humano de se adaptar aos extremos.

“Esse tipo de afirmação ignora as tentativas de reversão e até mesmo a capacidade do ser humano de se adaptar”, explica Camarinha.

Karina Lima, climatologista e divulgadora científica, reforça que a afirmação de que o Brasil ficará inabitável em 50 anos não está no artigo e que nem seria possível afirmar isso apenas com as informações que estão na pesquisa.

“Concluir que o Brasil se tornará inabitável é um salto grande em relação às conclusões deste estudo específico. É cravar algo que este estudo não cravou”, explica Karina.

A especialista reforça que o mundo vem ficando mais aquecido e que o estudo é sim um alerta para reforçar as medidas de contenção do aquecimento global.

“É essencial que consigamos limitar o aquecimento global bem abaixo dos 2°C para diminuir os riscos. Também é fundamental a adaptação às mudanças climáticas, pois precisamos nos preparar, aumentando nossa resiliência, para o mundo que já temos e para o que teremos”.

* Então, como o Brasil e a projeção foram parar na história?

Em 2022, dois anos depois que a pesquisa foi publicada, a Nasa lançou um artigo que fala sobre a possibilidade de lugares na Terra ficarem quentes demais para se sobreviver.

O texto cita a pesquisa, falando sobre a medição da temperatura de bulbo úmido e os avanços para ter mais dados sobre o assunto, com uma entrevista de Raymond, autor do estudo.

No último parágrafo do artigo, ele é perguntado sobre se há uma projeção para o futuro sobre quando as temperaturas de bulbo passariam de 35°C de forma regular e quais seriam as áreas mais vulneráveis.

Antes de responder, ele diz que essa é uma projeção difícil e que é um processo complexo, mas cita modelos climáticos que apontam que algumas regiões provavelmente excederão essas temperaturas nos próximos 30 a 50 anos.

Na sequência, diz que Ásia, o Golfo Pérsico e o Mar Vermelho, o leste da China, partes do sudeste da Ásia e o Brasil podem chegar a esses níveis.
Apesar de citar que é possível que haja o registro dessas temperaturas no Brasil, assim como já foi identificado em outros lugares do mundo, ele não diz que o país ficaria inabitável.

Karina Lima, climatologista e divulgadora científica, explica que o que aconteceu é que as pessoas passaram a compartilhar essa breve citação de Raymond fora de contexto, pois o próprio autor do estudo alerta que essa é uma afirmação difícil de se fazer, mas ela acabou sendo colocada como sendo parte do artigo.

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Circula nas redes sociais a afirmação equivocada de que um estudo da Nasa aponta que o Brasil ficará inabitável dentro de um prazo de 50 anos por causa das altas temperaturas. É fato que o mundo está mais quente e o país também está vivendo as consequências, mas o estudo não diz isso.

A pesquisa existe e é de 2020, mas ganhou repercussão somente neste mês. Ela foi feita por pesquisadores que trabalham na agência espacial americana e foi publicada na “Science Advances”, uma das mais respeitadas revistas científicas do mundo.

O trabalho faz alertas importantes sobre o aumento de eventos com temperaturas e umidade além do suportável para as pessoas.

No entanto, não cita o Brasil, não tem dados relevantes sobre a América Latina, e muito menos diz que esses locais ficariam inabitáveis em determinado período.

* O que diz o estudo?

Primeiro, é preciso saber que a pesquisa faz uma análise de dados históricos entre 1979 e 2017 e não faz uma projeção para 2070, como sugerem os conteúdos que circulam recentemente.

O estudo é assinado por Colin Raymond (autor principal), pesquisador que atua na Nasa, e que mapeou as temperaturas do bulbo úmido. Essa não é a temperatura dos termômetros, mas uma medida que relaciona calor e umidade do ar para avaliar o estresse térmico.

A partir de uma certa temperatura do ar, o corpo precisa regular a própria temperatura pela transpiração. Para que isso aconteça, o suor precisa evaporar, mas em um ambiente muito úmido é difícil que isso aconteça. O limite para a sobrevivência seria de 35°C nesta medição.

O que a pesquisa descobriu analisando dados entre 1979 e 2017 é que a Terra já passou por eventos em que chegou a esse limite e que os eventos extremos, com essa temperatura entre 30°C e 31°C, vêm aumentando ao longo do tempo.

* O que os especialistas explicam?

Pedro Camarinha, PhD em mudanças climáticas e pesquisador no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), explica que o estudo é relevante e bem conhecido no meio científico, mas que a informação está distorcida.

“Não há absolutamente nenhuma informação sobre isso e qualquer base científica para dizer que o país ficaria inabitável. O estudo não faz uma projeção de como a Terra ficaria em 30 anos, até porque isso dependeria da análise de outras variáveis e não só da temperatura de bulbo”, diz Camarinha.

Segundo o especialista, a forma como a informação vem sendo divulgada faz parecer que o destino do país seria se tornar inabitável em 50 anos, o que distorce os esforços de medidas de adaptação climática e a capacidade do próprio ser humano de se adaptar aos extremos.

“Esse tipo de afirmação ignora as tentativas de reversão e até mesmo a capacidade do ser humano de se adaptar”, explica Camarinha.

Karina Lima, climatologista e divulgadora científica, reforça que a afirmação de que o Brasil ficará inabitável em 50 anos não está no artigo e que nem seria possível afirmar isso apenas com as informações que estão na pesquisa.

“Concluir que o Brasil se tornará inabitável é um salto grande em relação às conclusões deste estudo específico. É cravar algo que este estudo não cravou”, explica Karina.

A especialista reforça que o mundo vem ficando mais aquecido e que o estudo é sim um alerta para reforçar as medidas de contenção do aquecimento global.

“É essencial que consigamos limitar o aquecimento global bem abaixo dos 2°C para diminuir os riscos. Também é fundamental a adaptação às mudanças climáticas, pois precisamos nos preparar, aumentando nossa resiliência, para o mundo que já temos e para o que teremos”.

* Então, como o Brasil e a projeção foram parar na história?

Em 2022, dois anos depois que a pesquisa foi publicada, a Nasa lançou um artigo que fala sobre a possibilidade de lugares na Terra ficarem quentes demais para se sobreviver.

O texto cita a pesquisa, falando sobre a medição da temperatura de bulbo úmido e os avanços para ter mais dados sobre o assunto, com uma entrevista de Raymond, autor do estudo.

No último parágrafo do artigo, ele é perguntado sobre se há uma projeção para o futuro sobre quando as temperaturas de bulbo passariam de 35°C de forma regular e quais seriam as áreas mais vulneráveis.

Antes de responder, ele diz que essa é uma projeção difícil e que é um processo complexo, mas cita modelos climáticos que apontam que algumas regiões provavelmente excederão essas temperaturas nos próximos 30 a 50 anos.

Na sequência, diz que Ásia, o Golfo Pérsico e o Mar Vermelho, o leste da China, partes do sudeste da Ásia e o Brasil podem chegar a esses níveis.
Apesar de citar que é possível que haja o registro dessas temperaturas no Brasil, assim como já foi identificado em outros lugares do mundo, ele não diz que o país ficaria inabitável.

Karina Lima, climatologista e divulgadora científica, explica que o que aconteceu é que as pessoas passaram a compartilhar essa breve citação de Raymond fora de contexto, pois o próprio autor do estudo alerta que essa é uma afirmação difícil de se fazer, mas ela acabou sendo colocada como sendo parte do artigo.

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