Quinta-feira, 26 de Dezembro de 2024

Home em foco De companheiro para companheiro: “Haverá uma revolução na Venezuela em algum momento”, diz ex-presidente uruguaio

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O ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica considera a Venezuela de Nicolás Maduro um “regime autoritário” e acredita que a mudança chegará “de dentro, em algum momento”, declarou ele em entrevista à agência de notícias France Presse. Em plena recuperação de um câncer no esôfago, Mujica abriu as portas de sua modesta casa, que para muitos é um verdadeiro “santuário” na zona rural de Montevidéu, e refletiu sobre o passado e o presente da América Latina.

“Tenho uma discordância íntima com regimes autoritários. O que eu não apoio é a intervenção externa. Os problemas da Venezuela devem ser resolvidos pelos venezuelanos. E, de qualquer forma, eles devem ser ajudados. Mas não interfiram”, disse o ex-presidente (2010-2015). “Haverá alguma revolução de dentro da Venezuela em algum momento.”

Mujica negou que o governo de Maduro, no poder desde 2013, seja de esquerda ou comparável ao de seu antecessor, o presidente Hugo Chávez (que morreu em 2013). “Alguns dos chavistas estão fora disso e muitos deles são perseguidos no mundo”, disse.

Ex-guerrilheiro que abraçou a democracia após passar 14 anos na prisão, a maior parte durante a ditadura (19731985), Mujica também lamentou o “autoritarismo” da Nicarágua sob o comando de Daniel Ortega e de sua mulher, Rosario Murillo. “O que mais me irrita é quando eles brincam de democracia e depois trapaceiam. É insuportável.”

“Eles não são esquerdistas, são autoritários”, disse Mujica, sobre Maduro e Ortega. Para o ex-presidente uruguaio, “o autoritarismo na América Latina é um passo para trás. Vivemos historicamente quando os EUA se intrometeram em todos os lugares. Mas agora também estamos atrapalhando”.

Mujica demonstrou preocupação que seu “velho amigo” Luiz Inácio Lula da Silva não tenha um sucessor à vista. “Lula está perto dos 80 anos. E ele não tem substituto. Isso é a desgraça do Brasil”, afirmou.

Sem extremismos como em processos eleitorais vistos no Brasil, na Venezuela e na Argentina, o Uruguai tornou-se uma ilha em um mundo de polarização. “Em geral, as coisas não acontecem por acaso”, disse o uruguaio, ao ser questionado se teme que o extremismo chegue ao seu país.

Crítica a Milei

“O que o (presidente Javier) Milei fez na Argentina é uma loucura. É uma lição sobre o que a hiperinflação pode fazer com um povo. Uma nova lição histórica. Porque a República de Weimar entrou em colapso e as pessoas votaram em Hitler por causa da hiperinflação. E a Alemanha era o país mais culto, e o povo alemão, em desespero, fez uma coisa bárbara. O povo argentino também fez algo bárbaro. As pessoas também cometem erros. Se isso aconteceu com eles, pode acontecer conosco também.”

Recuperando-se do câncer, ele fala sem pressa, sentado em uma sala quase escura, onde o tempo parece ter parado. Suas pantufas gastas e meias velhas de lã chamam a atenção. Atrás dele, na biblioteca, estão empilhados livros, lembranças de viagens, uma estatueta do papa Francisco e uma foto de Fidel Castro. Na cozinha, ao lado dele, está sua mulher e companheira de vida, Lucía Topolansky.

Ele talvez seja o uruguaio mais famoso do mundo, mas isso não o incomoda. “Não sou um fenômeno, sou um cara comum com algumas excentricidades, um esquisito”, disse o ex-presidente, de 89 anos, que travou mil batalhas e obteve uma enorme vitória: a que permitiu que a esquerda voltasse ao poder no país de 3,4 milhões de habitantes.

Poucos dias após seu apadrinhado político Yamandú Orsi ter vencido as eleições presidenciais, o ex-guerrilheiro afirmou que essa vitória tinha “um sabor agradável de prêmio de despedida”.

“Você está falando com um veterano de quase 90 anos, que passou por muitos choques. Então, a vitória me deu um sentimento de gratidão. Tem um sabor agradável, um pouco como um prêmio de despedida”, disse. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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