Sexta-feira, 22 de Novembro de 2024

Home Saúde Depressão: tem cura? Onde buscar ajuda? Veja dúvidas sobre a doença que afeta 11% dos brasileiros

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A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, no mundo inteiro, cerca de 300 milhões de pessoas sofram de depressão. Classificada como uma “crise negligenciada de saúde global”, a doença tem números relevantes no Brasil: segundo dados da pesquisa Vigitel 2021 (realizada pelo Ministério da Saúde), 11,3% dos entrevistados disseram ter recebido diagnóstico médico para depressão. Entre os homens, o percentual foi de 7,3%; nas mulheres, foi o dobro (14,7%).

Apesar de relativamente comum, a depressão ainda é estigmatizada, segundo especialistas ouvidos pelo g1: tratada como “frescura” ou “fraqueza”. Embora os últimos anos tenham sido de mudança no cenário, falar sobre o tratamento (especialmente com remédios) desse ou de outros transtornos mentais ainda enfrenta obstáculos.

1 – O que é depressão?

A depressão é um transtorno de humor.

“O nosso organismo tem várias funções – tem a função digestiva, a visual, a auditiva, e tem uma função chamada humor, que dá o tom, o colorido das coisas, o colorido afetivo: se é positivo, se é negativo, se é bom, se é mau. Essa função pode adoecer – e uma das maneiras de ela adoecer é a depressão – é um transtorno do humor nesse sentido”, explica o psiquiatra Daniel Barros, do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).

2 – Quais são os sintomas?

Os critérios centrais para diagnosticar a depressão em alguém são o humor triste e a anedonia – a diminuição ou a ausência de interesse ou prazer em coisas que, antes, davam prazer à pessoa, explica Christian Kieling, da UFRGS.

Junto a esses dois sintomas, existem outros: alterações do sono (a pessoa passa a dormir pouco ou demais); alterações do apetite (a pessoa passa a comer pouco ou demais) ou de peso; redução da atenção, da concentração e da memória; cansaço ou baixo nível de energia; pensamentos de culpa, baixa autoestima, desesperança em relação ao futuro, morte ou suicídio; irritabilidade, impaciência, pessimismo, negatividade.

3 – Onde buscar ajuda?

Daniel Barros defende que a pessoa busque ajuda onde conseguir – seja em uma consulta no posto de saúde, com o psicólogo ou médico do convênio ou de algum lugar que a pessoa frequente, como a igreja, por exemplo.

“Nessa hora, a pessoa tem que pedir ajuda onde ela conseguir. Pode ser num médico de família com o clínico geral, com o pediatra do filho dela, tem que falar com alguém. Na dúvida, fala com alguém”, recomenda.

Humberto Corrêa, psiquiatra professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), esclarece que os médicos nos postos de saúde estão aptos a prescrever antidepressivos – não há necessidade, a princípio, de recorrer a um Centro de Atenção Psicossocial (Caps), no caso do sistema público, explica.

“Aquelas com risco iminente de suicídio, aquelas muito graves, com sintomas psicóticos, iriam pro Caps, que seria uma atenção secundária. Mas, em princípio, a maioria dos quadros depressivos seriam atendidos na atenção primária, no próprio território do paciente, pela equipe da atenção primária”, esclarece.

4 – Como é o diagnóstico?

Kieling explica que, na psiquiatria, os diagnósticos são um pouco mais complexos – porque não há, como em outras áreas, um teste objetivo para detectar uma doença, por exemplo.

“Eu preciso escutar o paciente, eventualmente até escutar familiares, conhecidos – às vezes mais de uma escuta – para poder ter ideia se a pessoa está mesmo com depressão ou não. E isso, evidentemente, torna as coisas mais confusas, ou menos claras, talvez, para quem está de fora, e, por isso, a gente vê, ainda, uma negligência muito grande”, aponta.

5 – Como é o tratamento?

A resposta é: depende. O tratamento da depressão vai depender da intensidade, da gravidade e da duração dos sintomas. Nem sempre, por exemplo, o antidepressivo será necessário, mas ele pode ser associado à psicoterapia para o tratamento da doença.

“Nós sabemos que a combinação do fármaco mais a psicoterapia é superior a cada um deles de forma isolada. Esse é um tratamento padrão”, afirma Humberto Corrêa, da UFMG.

Mesmo que seja indicado, entretanto, o antidepressivo também não será, sozinho, a solução para a depressão.

“Para depressão, também é isso: a gente também precisa pensar no dia a dia, em aspectos não farmacológicos, tanto através da psicoterapia quanto em questões do ambiente no qual a pessoa está inserida. Uma criança, um adolescente, por exemplo, que está sofrendo bullying na escola, não adianta eu dar um antidepressivo e o bullying estar associado à depressão desse adolescente”, completa o psiquiatra.

E, nos casos em que o remédio é necessário, por quanto tempo ele deve ser mantido?

A resposta, de novo, é: depende. Não há um prazo fixo – remédios psiquiátricos não são, por exemplo, como antibióticos.

“Na depressão, a gente tem o que a gente chama de tratamento de manutenção, ou de continuação, para prevenir novos episódios”, explica Christian Kieling. Ele diz que é comum que, por exemplo, as pessoas comecem o tratamento – com terapia ou com remédio – , melhorem e, aí, param um dos dois, ou ambos. Aí, voltam a piorar.

6 – O que causa a depressão?

A depressão é uma condição complexa que é produto da interação entre condições biológicas, genéticas e ambientais.

“Inegavelmente, existe um papel da biologia na gênese das doenças mentais e da própria depressão. Essa biologia se expressa de várias formas, inclusive do ponto de vista genético. Nós sabemos que a depressão, em parte, é geneticamente determinada – como também são outras doenças. Significa dizer que isso explica a depressão? Não”, continua Corrêa. ”

Daniel Barros frisa que, independentemente do motivo que leva alguém a ter depressão, a “culpa” nunca é de quem fica doente.

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