Quinta-feira, 26 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 10 de novembro de 2024
Dias depois de uma visita do ministro do Esporte André Fufuca ao Estádio Fufucão, batizado em homenagem a seu avô, o seu ministério reservou, em junho, R$ 1,4 milhão para erguer um campo de futebol soçaite em Alto Alegre do Pindaré (MA). Além de sede do Fufucão, a cidade é governada há oito anos por Fufuca Dantas (PP), pai do auxiliar de Lula.
Passado um ano da nomeação do ministro na pasta do Esporte, a recente agenda no Fufucão remete a um outro tipo de gasto em ascensão no seu ministério: a construção de pequenos campos de futebol, especialmente de gramado sintético, as chamadas “areninhas”, que caíram no gosto de parlamentares de diferentes matizes.
Levantamento do jornal O Globo identificou que, neste ano, o ministério do Esporte já empenhou — isso é, reservou para uso — R$ 99,1 milhões para construir os campinhos. O valor foi identificado em notas de empenho de emendas da Comissão de Esporte da Câmara e equivale a quase 20% dos R$ 542 milhões que o colegiado já apadrinhou em 2024. Ao todo, 118 municípios foram agraciados; Bahia, Paraíba e Maranhão, estado do ministro, aparecem entre os principais destinos dessas obras.
A “areninha” que será erguida na cidade do pai de Fufuca faz parte de um Espaço Esportivo Comunitário, projeto lançado na gestão do ministro, e que, além do campo de futebol com grama sintética, prevê a instalação de quadra de basquete, parquinho e pista de skate. O Maranhão receberá 31 desses espaços dentro do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o que foi anunciado por Fufuca e pelo presidente Lula durante uma visita ao estado em junho.
O espaço de Alto Alegre do Pindaré, autorizado pelo ministério do Esporte na mesma época, contudo, ficou fora da verba do PAC e foi custeado por emendas de comissão. A modalidade dificulta o rastreio de quem foi o parlamentar responsável pela indicação. No ano passado, O GLOBO revelou que o Esporte direcionou recursos do antigo orçamento secreto para construir estádios em dois municípios, Dom Pedro e Peritoró, governados por aliados de Fufuca no Maranhão.
A prefeitura do pai do ministro concluiu, neste mês, a licitação para construir o campo soçaite. Uma empresa de São Paulo, a Pinova S.A., ofertou o menor preço, R$ 1 milhão, e agora está com a documentação em análise para assinar o contrato. Procurado, o prefeito Fufuca Dantas não se manifestou.
Na Bahia, principal destino das “areninhas”, as obras são centralizadas pela Superintendência de Desportos (Sudesb), órgão do governo estado, comandado pelo PT.
Campo soçaite
Pelo menos uma das areninhas, em Jaguarari (BA), a 400 quilômetros da capital Salvador, teve indicação de um petista no Orçamento deste ano. Em maio, o deputado Afonso Florence (PT-BA), atual secretário de Casa Civil na Bahia, enviou ofício à Sudesb informando que havia apadrinhado uma emenda de quase R$ 1 milhão da Comissão de Esportes para construir o campo soçaite na cidade. A prefeitura anexou o ofício ao pedir à Sudesb a elaboração do projeto do campo. Florence não retornou o contato.
Além de alavancar a construção de areninhas, as emendas de comissão engordaram o orçamento do ministério de Fufuca. Neste ano, o Esporte tem à disposição R$ 2,4 bilhões, quase o dobro dos R$ 1,3 bilhão que teve em 2023. As emendas totalizam R$ 1,7 bilhão, ou 70% do orçamento. Deste valor, R$ 1,1 bilhão já foram empenhados.
Procurado, o ministério do Esporte disse que o incremento de emendas “reflete o reconhecimento da competência” da pasta para executar projetos, e defendeu as areninhas.
“Esses campos exigem menos manutenção que os gramados naturais e suportam maior frequência de uso, facilitando sua utilização por número maior de pessoas, incluindo crianças, jovens e adultos em áreas urbanas densamente povoadas”, diz a pasta.
No PT, um dos defensores deste emprego de recursos é o deputado federal Jilmar Tatto (SP), secretário de Comunicação da sigla. Ele argumenta que “tem lugar que já foi asfaltado e já tem posto de saúde”, e que os campinhos são outra forma de levar “benefícios concretos às comunidades”.
“Às vezes, o governo pensa nas obras estruturantes e esquece dessas pequenas intervenções. Jogar bola na terra já foi muito romantizado, mas hoje quem joga quer o campo lisinho”, diz o deputado. As informações são do jornal O Globo.
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