Sábado, 11 de Janeiro de 2025

Home Cinema Desejo feminino move filme que colocou Nicole Kidman como rival de Fernanda Torres em premiações

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No cinema dos anos 80 e 90, as mulheres que exploravam seus desejos sexuais mais velados, agindo como parceiras “malcomportadas”, se necessário, eram alvo de sexismo ou, ainda pior, de punição. Essa foi a regra de dramas ou thrillers eróticos como “Atração Fatal” (1987) e “Proposta Indecente” (1993), de Adrian Lyne; “Instinto Selvagem” (1992), de Paul Verhoeven; e “Assédio Sexual” (1994), de Barry Levinson. Ou seja, títulos que até hoje incendeiam a imaginação do cinéfilo.

Embora esses também tenham sido os filmes de cabeceira da holandesa Halina Reijn, de 49 anos, principalmente por não esconderem as fantasias sexuais e os desejos “ilícitos”, ela acabava se sentindo mal no final, na subida dos créditos.

“Por isso, não quero que as mulheres sejam punidas ou que nenhum dos meus personagens seja punido. Só quero que eles sejam quem são. Só assim podemos realmente nos conectar com os mesmos e sentir que não estamos tão sozinhos”, diz Reijn, diretora de “Babygirl”, lançado esta semana nos cinemas brasileiros para instigar a plateia com a combinação de sexo, provocação e perigo.

O diferencial é o toque de modernidade aqui, com a subversão da cartilha, ao desenvolver o erotismo da perspectiva da mulher. “Como trabalhei com Paul Verhoeven [como atriz, no thriller ‘A Espia’, de 2006], de quem sou grande admiradora, queria rodar algo naquele universo”, conta Reijn, em encontro com jornalistas na 81 edição do Festival de Veneza, onde o filme fez sua première mundial.

“Mas com o olhar feminino, o que não significou necessariamente excluir a masculinidade. ‘Babygirl’ é um filme de muitas camadas que trata da feminilidade, da masculinidade, do poder, do controle, da sexualidade e de tantas outras coisas.”

“Homens, mulheres ou girafas, todos nós temos uma fera dentro de nós. E as mulheres ainda não tiveram muito espaço para explorar esse comportamento, não só para mostrar como somos fortes, mas fracas, o que acontece às vezes”, afirma a cineasta, que também é a roteirista de “Babygirl”. “Do jeito que fui criada pelos meus pais, não acredito no bem e no mal. Todos nós somos os dois e precisamos olhar para ambos. O perigo está em suprimir um dos lados.”

Quem paga o preço por sufocar as vontades mais íntimas é Romy, a CEO de uma empresa de robótica de Nova York que aparenta ter conquistado tudo na vida. Mas, já na abertura do filme, uma cena de cama ardente, a executiva finge o orgasmo ao transar com o marido.

O espectador percebe que o clímax era falso (embora muito bem encenado), quando a personagem deixa o parceiro descansando nos lençóis e corre para o escritório, onde chega ao ápice do prazer sozinha, assistindo a um vídeo pornô. É o tipo de erotismo que realmente a excita e não o sexo mais romântico com o marido.

Daí a plateia já percebe que o filme vai seguir por um caminho pouco trilhado no cinema, por se voltar ao prazer feminino (nem sempre abordado ou compreendido) e com um bônus: uma mulher por trás das câmeras. A própria Nicole Kidman parece mais à vontade com as cenas de nudez e sexo, mesmo que já tenha encarnado personagens que exigiram a mesma volúpia. Graças à vulnerabilidade e às nuances que imprimiu na personagem, ela disputou o Globo de Ouro de atriz dramática, que perdeu para Fernanda Torres, e figura entre as prováveis candidatas ao Oscar pela performance, premiada com a Copa Volpi de melhor atuação feminina no Festival de Veneza.

“Espero que seja uma história libertadora”, afirma Kidman, de 57 anos. “É um filme sobre sexo, obviamente. Mas ele também trata de desejos, pensamentos internos, segredos, casamento, verdade, poder e consentimento. E tudo contado pela ótica de uma mulher, Halina, o que tornou esse projeto único para mim. Foi muito significativo estar nas mãos de uma mulher com este material e poder compartilhar essas coisas”, diz a atriz.

“Sei que as pessoas reagem completamente com relação a Romy e ao modo como ela se comporta. Mas aqui não há julgamento. Como atriz, quero examinar as mulheres na tela, o que significa ser humana em todas as facetas e também o labirinto que isso pode representar”, resumiu Nicole.

Tudo se resume a uma única pergunta, na visão de Reijn, que roda seu primeiro longa-metragem em inglês — depois de produções holandesas como “Instinct” (2919) e “Morte Morte Morte” (2022). “Será que consigo me amar com todas as minhas diferentes camadas? Espero que o filme funcione como um tributo ao amor-próprio”, diz a diretora.

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