Domingo, 22 de Dezembro de 2024

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A direita veio para ficar. Até bem pouco tempo a militância política e as manifestações de rua eram campos de domínio dos sociais-democratas, e mais ainda das esquerdas. Mas depois de junho de 2013, há escassos dez anos, com os protestos de massa nas grandes cidades do país, isso mudou completamente.

Sempre se pensou que a direita pertencia ao âmbito da “maioria silenciosa”, mas a última década revelou que estávamos diante de um contingente amplo, vigoroso, e estridente: venceu o duelo das ruas, e passou a falar de igual para igual nos círculos do debate nacional.

Bolsonaro é o grande protagonista dessa mudança: por onde anda multidões o acolhem, aplaudem e manifestam a sua simpatia mesmo agora que está inelegível e fora do poder.

Em si, tal mudança não pode ser considerada um atraso, uma regressão. A direita, o conservadorismo, são posições políticas legítimas. Na democracia todas as facções – dentro de certas regras civilizadas – têm o direito de cultuar seus valores e de construir suas narrativas. Ninguém detém o monopólio da virtude ou é detentor de superioridade moral.

Mas a direita que veio não é de boa extração. Os direitistas, em larga maioria, têm uma compreensão arrevesada do que seja a democracia, as instituições republicanas, a autonomia dos poderes, o papel da imprensa. A direita brasileira de Bolsonaro é agressiva, negacionista, intolerante, tem dificuldade de conviver com aqueles que não apreciam. Sutileza, civilidade, respeito – não é a praia deles.

A baixa extração da direita brasileira está mais do que escancarada nos episódios da intentona golpista de 8 de janeiro. Ali, houve uma soma de todas as deformações que a caracterizam: o uso da violência, a aposta no caos, os indisfarçáveis desígnios de ruptura da ordem legal e institucional, o golpismo como teoria e prática.

O golpismo, a má índole democrática, se configurou nas práticas deletérias da compulsão mentirosa, do uso intensivo das redes sociais como veículo de disseminação das teorias mais alopradas, da apropriação dos símbolos nacionais, do ataque sistemático das instituições da democracia, como o Congresso, o Judiciário, a imprensa, da religião na campanha eleitoral.

As esquerdas, que não têm nada de santas, também usam, ainda que em escala menor, táticas de ação política que poluem o debate, desinformam e despolitizam. Mas neste campo e espaço a direita é imbatível.

As esquerdas se comunicam mal com o povo simples, embora seja em nome dele que elas falam. Incorrem em uma postura professoral, quase arrogância, que as distanciam da linguagem direta e muito mais eficaz da direita. É clássico o desprezo das esquerdas pelos crentes e religiosos.

Erram – as esquerdas – na linguagem empolada, na explicação profusa e abstrata do mundo, na ideia subjacente de que são elas que sabem o que é bom para as massas. Dissertam sobre os grandes filósofos e as ideias que abarcam a história, a vida e o mundo, mas não têm paciência para apreender os mecanismos diretos das redes sociais: parecem-lhes uma atividade indigna dos seus saberes, que nem são tão profundos assim. Vão continuar apanhando.

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