Sábado, 26 de Outubro de 2024

Home Política “Discurso da esquerda não atendeu a novas demandas dos mais pobres”, diz cientista política

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Partidos de esquerda saíram-se mal nas eleições para prefeituras de capitais no primeiro turno e às vésperas do segundo turno as pesquisas mostram que somente em uma capital, Fortaleza (CE), um candidato do PT aparece mais perto da vitória. E que, se ocorrer, será bem apertada.

Para a cientista política Lara Mesquita, professora da Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o desempenho da esquerda ainda é influenciado pela Operação Lava-Jato. Mas há outros fatores. Dentre eles, diz a acadêmica, um discurso que já não se encaixa muito nos interesses e preocupações de uma parte do eleitorado das periferias.

Doutora em ciência política, Lara tem pesquisado sistemas partidários e eleitorais. Em entrevista ao jornal Valor, diz que a pergunta ainda em aberto é se os candidatos eleitos no início do mês e os que fazem o segundo round neste domingo (27) serão mais da direita ideológica ou da direita pragmática.

A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor:

1) Levando em conta o primeiro turno e os cenários para o segundo turno nas
capitais, o que significa o resultado destas eleições para a esquerda?

O PT e a esquerda de modo geral sofreram um baque grande com a Lava-Jato. E depois, com todos os documentos que foram divulgados, com a VazaJato, com o Sergio Moro indo para o governo Bolsonaro, ficou claro que havia um alvo politicamente específico. Eu acho que o PT teve um momento muito ruim e está se reestruturando. O PSB também está se mantendo.

No caso do Psol, há quatro anos muitas pessoas diziam que talvez a legenda estivesse se organizando como uma nova força da esquerda no País. Guilherme Boulos havia sido bem votado na eleição de São Paulo e o Psol tinha ganho a prefeitura de Belém. Tinha um horizonte de que o Psol poderia estar ascendendo, mas não foi isso o que a gente viu na eleição deste ano. Os resultados foram ruins para o Psol e foram ruins também para o PDT.

Quem está se recompondo é o PT e o PSB está se mantendo. No caso do PT, sim, aumentou o número de votos para prefeito, aumentou o número de prefeituras conquistadas, aumentou o número de votos para vereador, aumentou o número de cadeiras de vereadores conquistado e aumentou o número de cidades no segundo turno. É melhor para o PT do que em 2020. Ainda assim é um crescimento muito lento.

Por outro lado, o PT não ganhou tanto quanto os outros partidos de esquerda perderam. Ou seja, não é só que houve uma movimentação dentro da esquerda. É uma diminuição do campo da esquerda, olhando para as eleições municipais.

2) Guilherme Boulos fez na reta final da campanha um mea culpa dizendo que a esquerda falhou por não ter conseguido se comunicar bem com uma fatia do eleitorado das periferias que vive como pequeno empreendedor. É um eleitor que não é trabalhador sindicalizado, sem carteira. Como avaliar a tentativa de aproximação desse eleitor?

Eu não tenho evidência de que os pequenos empreendedores votem todos da mesma maneira e isso é uma característica suficiente para um recorte ideológico. Não conheço estudos que subsidiem uma afirmação dessa. Mas, evidentemente, a esquerda tem uma coisa assim: “os pobres estão com a gente porque os pobres querem a estabilidade”. E essa faixa dos eleitores é mobilizada pelo sindicato ou por políticas sociais.

Agora, aparentemente, os pobres são mais diversos e têm demandas diferentes e o discurso da esquerda não estava alcançando completamente esses eleitores, não estava contemplando essa diversidade.

Tem alguns grupos focais que dizem que a mãe da periferia não se opõe, mas não é uma bandeira dela o “todas, todos e todes”. Ela está interessada, por exemplo, que o filho dela chegue em casa todo dia e que tenha professor na escola.

3) O discurso tradicional da esquerda não atrai muito essa mãe e outros
eleitores das periferias?

A esquerda tradicional talvez tenha perdido a capacidade de se comunicar com essa fatia eleitorado. Tudo isso precisa de mais pesquisa e eu não estou dizendo necessariamente que isso afasta esta mulher deste candidato, mas
ele precisa ter um discurso para ela. Ou seja, tinha um vazio de discurso para um perfil do eleitor da periferia de São Paulo que o Boulos tentou recompor.

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