Sábado, 21 de Dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 13 de outubro de 2024
Desde sexta-feira (11) no circuito americano e a partir desta quinta (17) nos cinemas brasileiros, “O aprendiz” começa quando Donald Trump é apresentado a Roy Cohn em um clube exclusivo de Manhattan em 1973. Encontro que, desde então, impacta a vida de milhares de cidadãos, americanos mas não só. É o que defende, de forma convincente, em pouco mais de duas horas, o dinamarquês de origem iraniana Ali Abbasi, mais conhecido do público por dirigir os dois últimos e eletrizantes capítulos da série apocalíptica “The last of us”.
Pária social após a exposição de seu protagonismo na máquina de difamação macarthista duas décadas antes, Cohn se reinventara como advogado faz-tudo da máfia e da elite corrupta nos corredores da Justiça da Nova York decadente dos anos 1970. Aos 27 anos, o futuro presidente, por sua vez, buscava salvar o principal negócio da família — a Trump Village, no Queens, em vias de intervenção federal por segregacionismo. Inquilinos negros eram sistematicamente recusados de forma ilegal para assim se valorizar o metro quadrado do empreendimento. Com o uso do que batiza de “narrativa alternativa”, Cohn consegue acordo que não só evitou a falência dos Trump como alavancou o perfil de negociador de Donald.
A três semanas das eleições, os americanos não encontrarão em “O aprendiz” novidades bombásticas sobre os anos formativos do primeiro ex-presidente americano condenado criminalmente e que, aos 78 anos, busca retornar à Casa Branca. Pesquisas mostram que os eleitores têm opinião cristalizada sobre o republicano, ao contrário de sua principal adversária, a vice-presidente Kamala Harris, do Partido Democrata. Também é difícil cravar se este retrato do populista de direita quando jovem mudará algum voto. Ao Wall Street Journal, Abbasi afirmou que “influenciar ou não as eleições não é problema meu”. Fato. Mas não surpreende a tentativa de Trump, até agora sem sucesso, de interromper a exibição do longa nos EUA.
Certo de que sua homoafetividade era fraqueza e inimigo da luta pelos direitos civis LGBTQIAP+, Cohn mantinha temido arquivo das intimidades dos poderosos do país, os quais chantageava em benefício de clientes e amigos, entre eles o próprio Trump. Foi retratado de forma brutal na peça “Anjos na América”, de Tony Kushner, adaptada para a TV na vitoriosa série de Mike Nichols, vivido por Al Pacino.
Americano vitorioso
Ao pupilo, apresentou suas “três lições do americano vitorioso”. Número um: ataque, ataque, ataque. Dois: não admita nada, negue tudo. Três: sempre reivindique a vitória. Do veneno destilado em redes sociais e comícios, passando pelo uso do exagero de sua real fortuna e o negacionismo que desaguaria no ataque ao Capitólio em 2021, até o vitimismo persecutório na atual corrida eleitoral, qualquer semelhança não é mera coincidência.
Tony Schwartz, retratado no filme na ocasião em que Trump o contrata como ghostwriter para seu “A arte do negócio”, escreveu artigo elogioso a “O aprendiz” no New York Times. Nele, afirma que o longa cristalizou duas de suas percepções sobre o ex-presidente nos encontros para o livro: “A falta de consciência pode ser vantajosa para se acumular poder, atenção e riqueza numa sociedade em que a maioria dos demais se pauta por contrato social pré-definido. E sucesso público algum substitui aquilo que falta no interior da pessoa”. Touché.
No filme, Sebastian Stan, o Soldado Invernal da Marvel, encarna Trump menos obcecado em reproduzir seus maneirismos e mais em traduzir sua insegurança gestada ao sofrer bullying do pai, Fred, vaidade, falta de empatia pelo outro e o inegável — nem por isso menos vulgar — magnetismo. Já Jeremy Strong, o Kendall da série “Succession”, vive Cohn em atuação para o bonequinho do GLOBO aplaudir de pé. Construída a partir de entrevistas, reportagens e autos de processos, “O aprendiz” também triunfa com o roteiro de Gabriel Sherman.
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