Sábado, 23 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 11 de maio de 2024
A primeira vez que Tom Mathe, barman-chefe do L’Avenue, em Manhattan, viu uma criança pedir um coquetel sem álcool, ele não sabia o que pensar.
Primeiramente, ele pensou: “Calma, isso está certo?”, disse o barman. “Eu não escolheria exatamente as crianças como um grupo demográfico quando faço qualquer tipo de drinque.”
No entanto, ele tem notado cada vez mais que as crianças pedem bebidas não alcoólicas. “Não é exatamente todo dia, mas é mais do que semanal.”
O restaurante, que fica dentro da Saks Fifth Avenue, tem duas batidas sem álcool no cardápio. A maioria das crianças pede o “Mr. Tastee”, afirmou Mathe, que vem com coco, baunilha, laranja bergamota e refrigerante. Faz sentido, acrescentou, considerando que ele a criou pensando em sua própria infância: “Isso me lembra a espera por um caminhão de sorvete”.
Por fim, ele decidiu que, embora ainda pareça um pouco estranho servir bebidas sofisticadas para crianças, é gratificante contribuir para as experiências gastronômicas familiares “de uma forma interessante”.
À medida que os coquetéis, vinhos e cervejas sem álcool se tornaram parte integrante dos cardápios de bares nos Estados Unidos, algumas crianças — pessoas bem abaixo da idade legal para beber — começaram a participar.
No Brasil, a tendência também vem tomando espaço. Em festas infantis ou de adolescentes, por exemplo, está cada vez mais comum ver — junto com a pipoca, o cachorro-quente e os salgadinhos — carrinhos que ofereçam drinques sem álcool.
Tecnicamente, não há razão para que não possam beber. Embora algumas contenham traços muito pequenos de álcool — ou pelo menos imitem o sabor do álcool —, muitas bebidas não alcoólicas são feitas apenas de sucos e outros ingredientes apropriados para crianças.
No entanto, tanto os pais quanto os profissionais de hotelaria e hospitalidade estão se perguntando se essa tendência é problemática de qualquer forma, seja por motivos financeiros, éticos ou de saúde.
Em uma conversa recente no Reddit, alguns pais compararam servir bebidas sem álcool aos seus filhos com dar a eles cigarros doces — o que não é aceitável, de acordo com alguns dos participantes —, enquanto outros disseram que era mais como servir frango falso a um vegano — totalmente aceitável, concluíram outros —.
Para Amy Wildenstein, 43 anos, fisioterapeuta pediátrica em Mechanicsburg, Pensilvânia, sair para tomar um drinque com seus filhos de 8 e 9 anos tornou-se um passeio divertido em família.
“Aqui há muitas cervejarias, então vamos todos a uma delas e as crianças pedem um refrigerante artesanal”, declarou, ressaltando que também há vinícolas locais que fazem rodadas de vinho sem álcool — uva branca, uva vermelha, tinto espumante e branco espumante. Ela acrescentou que um restaurante local serve drinques sem álcool com doces e peixes de brinquedo.
“As crianças se sentam com os adultos e fazem o que querem. Elas adoram.”
Ela gosta do fato de seus filhos poderem participar das atividades dos adultos.
“Não temos nossa família ao nosso redor e não temos muitas babás. Isso permite que meu marido e eu façamos as coisas que queremos fazer e ainda tenhamos nossos filhos conosco”, completou.
Como resultado, seus filhos estão desenvolvendo paladares sofisticados. “Meus filhos gostam de bife, sushi, coquetéis sem álcool”, contou.
Wildenstein também usa esses passeios como uma oportunidade para conversar com seus filhos sobre o álcool. “À medida que as crianças crescem, conversamos sobre os efeitos colaterais, os prós e os contras e sobre como ser responsável”, afirmou. “Espero que beber esses coquetéis sem álcool faça com que eles não sejam tão rebeldes quando tiverem 14 e 15 anos.”
Meredith Grossman, psicóloga com consultório particular na cidade de Nova York que trabalha com adolescentes, é cética.
“A maioria das crianças vai beber”, declarou. “Não acho que dar drinques sem álcool para as crianças é o que vai fazer com que elas se decidam ou não a consumir álcool antes da idade legal.”
Ela, no entanto, diz que gosta da ideia de famílias inteiras bebendo coquetéis sem álcool juntas.
“Acho que se os pais saem e pedem esses drinques sem álcool e seus filhos também consomem, isso é ótimo”, opinou. “Isso mostra às crianças que é possível sair e se divertir sem bebidas alcoólicas.”
Entretanto, essa lição não funciona necessariamente se os pais estiverem pedindo bebidas alcoólicas enquanto os filhos ficam sem álcool.
“Se os pais estiverem bebendo álcool e se divertindo muito, isso é um exemplo para as crianças de que você está se divertindo porque está bebendo álcool e essa é a lição que elas aprenderão”, prosseguiu.
Do ponto de vista de um restaurante, a criação de programas de coquetéis voltados para a família faz sentido, pelo menos do ponto de vista financeiro.
“É dinheiro fácil na mesa quando você pode promover o lado não alcoólico tanto quanto o faz com os coquetéis”, disse Brian Evans, diretor de bares do Sunday Hospitality Group, que inclui o restaurante Sunday in Brooklyn e o Hotel Chelsea.
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