Sexta-feira, 03 de Janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 30 de dezembro de 2024
O porre da polarização extrema de 2022 foi além das festas de fim de ano e avançou 2023 adentro, culminando nos atos do 8 de Janeiro, que quase colocaram o país em coma político. A ressaca que se seguiu foi duradoura. Parecia que os brasileiros iam optar de vez pela abstinência dos radicalismos. Só de sentir o cheiro de acusações mútuas como “comunista” ou “fascista” ou da menção dos nomes de Lula ou Bolsonaro em contextos alheios a conversas sobre política já causava um certo enjoo. O país estava cansado até de ouvir falar em polarização.
Mas 2024 tinha outros planos. A violência política e o discurso maniqueísta reapareceram na eleição municipal, com direito a cadeiradas e troca de sopapos diante das câmeras. A disputa de mais baixo nível das últimas décadas não rendeu vitórias aos radicais em todos os lugares (sem se esquecer daqueles que conquistaram cadeiras de vereadores), mas deixou sua marca.
Em outra frente, os sentimentos que intoxicaram as mentes dos que participaram da quebradeira de 8 de janeiro voltaram a aflorar pouco a pouco, abastecidos pelas fake news de sempre e por arbitrariedades judiciais cometidas em nome do nobre fim de combatê-los. Seria a falsa percepção de ditadura do STF e do TSE que justificou as conspirações golpistas dos derrotados na eleição de 2022 uma profecia autorrealizável prestes a derrubar nossa jovem democracia?
O temor de que os extremismos sigam ditando o tom da política nacional em 2025, ainda mais sendo um ano pré-eleitoral, tem sua razão de ser. O antídoto para isso é a moderação política, que não deve se confundir com ficar em cima do muro ou com deixar de defender aquilo em que se acredita. Adotar uma postura de moderação política, ao contrário do que dizem seus detratores, exige mais coragem do que abraçar confortavelmente um dos extremos. É preciso pensar mais e desafiar mais as próprias certezas. Existem alguns princípios que a leitora e o leitor que se consideram moderados certamente consideram inegociáveis. Os direitos fundamentais garantidos pela Constituição e os direitos humanos, o pluralismo político e o respeito à regra da alternância de poder via eleições são alguns exemplos. Quase todo o resto pode ser objeto de discussão, de concessões e de compromissos.
O cientista político romeno Aurelian Craiuțu, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, um dos raros estudiosos da moderação política, sugere uma lista de dez regras para moderados não conformistas, que não aceitam se recolher à proteção da neutralidade e da complacência e que gostariam de enfrentar com sucesso os radicalismos do mundo ao redor. Podemos adaptar esse decálogo como uma sequência de passos para promover a moderação política no Brasil em 2025.
* Primeiro passo
Considere a moderação como uma virtude com múltiplas facetas, em que os limites do que é aceitável definido por um, com base na sua capacidade de discernimento, não são os mesmos de outros.
* Segundo
Reconheça as dimensões institucionais da moderação, que incluem valores como separação de poderes, pesos e contrapesos, federalismo, devido processo legal, etc.
* Terceiro
Não confunda moderação com indecisão, fraqueza ou apatia. É sempre mais árduo pesar os prós e contras e avaliar a multiplicidade de informações antes de se chegar a uma conclusão, mas uma vez que se chegou lá, seja firme nos compromissos e das decisões.
* Quarto
Pense de forma política, não ideológica. Isso significa ser pragmático e pensar de forma independente, sem se prender a visões de mundo herméticas que só são capazes de analisar o mundo sob uma única ótica.
* Quinto
Invista no diálogo com seus oponentes, mesmo que isso seja por vezes desconfortável. Não permita que a discordância se transforme em aversão absoluta a quem pensa diferente, a ponto de não se permitir reconhecer suas eventuais virtudes.
* Sexto
Saia da sua bolha política. Tente acompanhar com regularidade diferentes fontes de jornalismo profissional e use essa variedade de abordagens sobre os fatos para formar sua opinião. Nas redes sociais, siga jornalistas, influenciadores e figuras públicas com os quais não concorda, mas nos quais reconhece o traço da moderação e a abertura ao diálogo.
* Sétimo
Não se ofenda com muita facilidade. Muitas das ideias que outras pessoas dizem a você não foram criadas por elas, mas absorvidas de outras fontes. Convide-as a pensar de onde essas opiniões vieram e qual o seu impacto sobre outras pessoas. Faça o mesmo com as próprias convicções.
* Oitavo
Reconheça que o partidarismo nem sempre é algo ruim, pois há espaço para atitudes moderadas dentro dele.
* Nono
Seja humilde e pratique a arte da dúvida. A dose certa de flexibilidade nas discussões dá aos moderados um grande trunfo, que é o de não ser inteiramente previsível.
* Décimo e último passo
Não desista de defender o que é o certo e não se cale para injustiças, mas faça isso sem violência e pensando que do outro lado há alguém a ser convencido, não destruído.
Nas festas de fim de ano e no engajamento político, moderação é o que evita as piores ressacas. Que 2025 seja um ano de paz. (Diogo Schelp/Estadão Conteúdo)
No Ar: Pampa Na Madrugada