Home Variedades Em que quesitos as IAs americana e chinesa se saem melhor? Veja comparação

O ChatGPT é ideal para tarefas criativas e respostas que exigem personalização, além de ser ótimo para auxiliar no desenvolvimento de ideias e em trazer respostas personalizadas. Já o concorrente chinês DeepSeek tem a vantagem de ser menos propenso a “alucinar”, mais preciso em resultados de buscas e mais eficiente quando integrado a ferramentas corporativas.

A comparação que avalia o desempenho da ferramenta de inteligência artificial (IA) da OpenAI com a concorrente chinesa que abalou a indústria americana de tecnologia foi feita pelo próprio chatbot da DeepSeek, disponível desde a semana passada.

A IA da startup chinesa é gratuita, pode ser acessada pelo celular ou computador, está disponível em ao menos 70 idiomas e foi desenvolvida com modelos (os “cérebros” por trás dos sistemas) que custaram significativamente menos.

Para pesquisadores, desenvolvedores e empresas, outra vantagem é poder acessar gratuitamente (de forma open source) versões desses modelos de IA, que também exigem menos capacidade computacional no processamento e uso.

Além disso, os resultados surpreendem. Para medir o desempenho de cada modelo, a indústria de IA costuma conduzir amplos testes padronizados para seus robôs. Os resultados servem como uma espécie de “vestibular” que avalia as habilidades de cada um em áreas específicas, como problemas matemáticos, programação de código, compreensão de linguagem e conhecimento geral.

Foco nos custos

Os resultados comparativos geralmente são publicados nas páginas de cada uma das IAs, para mostrar as capacidades dos sistemas e a posição que ocupam na “corrida” pelo modelo mais avançado. Com a DeepSeek não foi diferente.

Os resultados de testes conduzidos pela companhia com três de seus modelos de inteligência artificial demonstraram desempenho competitivo e, em alguns casos, superior aos sistemas da OpenAI.

Na prova que avalia a capacidade de resolver 500 problemas matemáticos avançados, por exemplo, o modelo DeepSeek-R1 (focado em raciocínio) atingiu 97,3% de acertos, superando os 96,4% de acertos do OpenAI-o1-1217 (também projetado para raciocínio). Em outros desafios, a IA chinesa fica próxima da rival.

Os resultados chamaram a atenção do mundo pela competitividade e proximidade da DeepSeek com os principais modelos do mercado, diz o professor Cleber Zanchettin, do Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que rodou testes do sistema chinês. Ele afirma que os resultados parecem “bem próximos e às vezes superiores ou iguais aos do ChatGPT”.

Ele destaca que a eficiência computacional dos modelos é um dos fatores mais relevantes. A DeepSeek, lembra, conseguiu reduzir significativamente os custos de memória e processamento. Ou seja, é possível rodar um modelo da empresa “em um laptop mediano”, o que ele considera um avanço em relação a outros modelos, inclusive abertos (open source), como onLlama, da Meta.

O pesquisador pondera, no entanto, que os testes padronizados que demonstram as capacidades da IA nem sempre refletem necessariamente o desempenho que esses sistema terão no “mundo real”.

— Muitos desses modelos vão muito bem em testes públicos, mas, quando aplicados em contextos fechados, com dados que nunca foram vistos antes, o desempenho pode cair bastante — diz Zanchettin, lembrando que são necessários testes de terceiros. — Os números ainda estão sendo validados. Até alguém replicar os experimentos em grande escala, há sempre margem para dúvidas.

“A DeepSeek disse que levou 2 meses e menos de US$ 6 milhões para desenvolver o modelo — construindo sobre tecnologia já existente e alavancando modelos existentes. Em comparação, a Open AI está gastando mais de US$ 5 bilhões por ano”, afirmou em nota Jordan Rochester, analista do banco Mizuho.

Marcos Barreto, professor da Fundação Vanzolini e da Poli-USP, lembra que a comparação entre DeepSeek e OpenAI também dá vantagem para a IA emergente em relação aos preços no uso comercial de seus sistemas:

— Os preços são muito baixos em comparação aos da OpenAI — afirma, com uma ressalva. — Os valores para API (aplicações integradas) são mais baratos, mas não necessariamente haverá infraestrutura e disponibilidade ampla dos serviços.

Barreto lembra que a disparada nos downloads do aplicativo, que na segunda-feira foi o mais baixado na App Store, da Apple, causou instabilidade no acesso ao serviço. Usuários relataram dificuldades de uso, com quedas frequentes e espera prolongada. A empresa disse ter sido alvo de um ciberataque coordenado.

— Isso pode gerar a suspeita de que eles não deem conta. Levanta uma bandeira de que talvez eles não estejam prontos de verdade para aguentar o tranco. Ainda é cedo para saber — diz Carlos Rafael Gimenes, professor do curso de Sistemas da Informação da ESPM. As informações são do portal O Globo.