Terça-feira, 26 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 25 de novembro de 2024
Um levantamento divulgado pela Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) aponta que quase 25% dos brasileiros tomaram antibióticos sem prescrição médica no último ano. Cerca de 30,1% dos entrevistados relataram tomar antibióticos sempre que ficam doentes ou várias vezes ao ano e apenas 61,3% disseram consultar um médico antes de usar esse tipo de remédio.
O levantamento, realizado com quase 400 participantes com 18 anos ou mais das cinco regiões do País, traz ainda outro dado preocupante: 27% dos que relataram usar antibióticos conseguiram a medicação sem receita, em farmácias menores e de bairro, e outros 15,3% em farmácias de rede. Esses casos contrariam a obrigatoriedade de apresentar a prescrição do médico para adquirir o produto, prevista desde 2010, e mostram a necessidade de incremento na fiscalização, segundo especialistas.
Cerca de 2,1% dos participantes revelaram ainda usar medicações disponíveis em casa ou as sobras de amigos e familiares. Isso reacende a discussão da dispensa exata do número de comprimidos prescritos, como já é feito em outros países.
A reportagem entrou em contato com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que não respondeu durante a semana passada, e com a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), que preferiu não comentar o assunto.
Resistência antimicrobiana
O levantamento tem limitações, como o número de entrevistados e o uso de questionários pela internet, mas é importante por alertar sobre algo que os infectologistas já desconfiavam: o uso sem prescrição de antibióticos ocorre e precisa ser combatido, principalmente em um momento no qual a resistência antimicrobiana (RAM) é uma das principais ameaças no mundo.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a RAM ocorre quando bactérias, vírus, fungos e parasitas mudam ao longo do tempo e não respondem mais aos medicamentos. “Se a pandemia de covid-19 foi um incêndio devastador, daqueles que a gente vê na Califórnia, que por onde passa destrói tudo e fica claro o impacto que tem na vida da gente, a resistência bacteriana é aquele fogo que queima de maneira ininterrupta e vai queimando toda a floresta de maneira devagar e contínua, mas passa de maneira despercebida pela população”, afirmou a infectologista Ana Guedes, coordenadora do comitê de resistência antimicrobiana da SBI.
No fim de setembro deste ano, pesquisadores do Global Burden of Disease (GBD), maior e mais abrangente esforço para quantificar a perda de saúde em diferentes lugares do mundo, publicaram na respeitada revista científica The Lancet a estimativa de vidas ceifadas pela resistência antimicrobiana. Em 2021, estima-se que ela foi responsável por 1,14 milhão de mortes atribuíveis (quando o paciente morre da infecção resistente) e 4,71 milhões associadas (ou seja, o paciente morre com a infecção resistente). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
No Ar: Pampa Na Madrugada