Quinta-feira, 28 de Novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 5 de abril de 2022
No dia 28 de janeiro, Gabriel e Miguel dos Santos, de 17 e 15 anos, encontraram a mãe, Joane Santos de Souza, de 35 anos, caída no banheiro de casa, em Salvador. Com a ajuda de vizinhos, levaram a cuidadora de idosos até o Hospital Geral do Estado da Bahia (HGE), onde o diagnóstico de AVC assustou a família.
“A equipe médica que fez o primeiro atendimento via que ela não respondia, eles continuavam estimulando, mas ela não respondia. Depois de 4 horas no HGE, eles começaram a não dar mais esperanças para a minha família”, disse Miguel.
Por sorte, quem ajudou a socorrer Joane foi Danielle Meira, uma enfermeira emergencista do Samu, que também atua como enfermeira no Hospital Geral Roberto Santos, em cirurgias de alta complexidade.
Foram mais de 12 horas desde a ida para o HGE e a transferência para o centro cirúrgico do Hospital Roberto Santos, referência de alta complexidade em neurologia na Bahia. Naquele momento, Joane já não conseguia se comunicar nem mexer os membros do corpo. Tratava-se de um quadro de afasia – perda parcial ou total da fala ou da compreensão da linguagem, sequela comum do AVC.
No Brasil, o AVC é a segunda causa de morte e incapacidade mais comum. Na maioria dos casos, quando o problema não é identificado rapidamente, as sequelas são irreversíveis. No caso de Joane, os primeiros sintomas ocorreram às 6h, mas ela só entrou na sala de cirurgia às 18h.
Contato
A enfermeira do Samu foi quem trouxe luz para a família. Assim que Danielle conversou com setor de neurocirurgia do Hospital Geral Roberto Santos, ficou sabendo que um dos maiores especialistas em reconstrução do tecido cerebral no mundo, o neurocirurgião e pesquisador Leonardo Avellar, estava trabalhando naquele dia.
Danielle é uma das voluntárias da equipe e via de perto o quanto a reconstrução cerebral pode ajudar em casos como aquele. “Sempre fico atenta aos chamados para casos de AVC, porque muitas vezes é possível reverter as sequelas com a equipe de neurocirurgia, mas existem emergencistas que nem conhecem o procedimento. A Joane estava no lugar certo, na hora certa e com a equipe certa.”
Reverter
Quando a paciente entrou na ambulância, o contato com o médico havia sido estabelecido e, assim que chegaram ao hospital, a equipe já estava preparada para tentar reverter as sequelas. “Quando se fala em AVC isquêmico, a maioria dos hospitais recorre ao tratamento clínico, ou seja, o tratamento para não piorar o quadro. No entanto, ele não possui tanta capacidade de reverter algo que já aconteceu”, conta o médico Leonardo Avellar.
Segundo ele, a abordagem neurocirúrgica é a mais eficaz nessas situações. Ela amplia a janela de tratamento, é mais eficaz para reversão de sequelas neurológicas, indicada para grandes AVCs e apresenta excelente custo-benefício. Joane é a terceira paciente a se beneficiar pelo projeto iniciado, neste ano, no Hospital Geral Roberto Santos, o segundo no Brasil a oferecer o tratamento.
Foram quase seis horas no centro cirúrgico e, depois de quatro dias sedada, Joane acordou. Ela ainda não conseguia se movimentar, nem falar, mas já respondia aos estímulos neurológicos. No quinto dia, conseguia movimentar a boca e mastigar. Ainda na UTI, no sexto dia, ela começou a receber fisioterapia e já deu alguns passos, mas ainda não falava.
“A nossa surpresa foi tão grande quando no dia seguinte ela falou. Todo mundo estava esperando alguma sequela, mas a minha irmã está praticamente perfeita”, comemora Joelma, a irmã mais velha.
Penumbra
O procedimento cirúrgico ao qual Joane foi submetida se chama trombectomia mecânica cirúrgica, sua função é desobstruir o vaso sanguíneo no cérebro, promovendo a reativação de áreas hipovascularizadas (a chamada zona de penumbra – um cérebro inativo funcionalmente, mas ainda viável).
O procedimento vem sendo estudado pelos neurocirurgiões Leonardo Avellar e Marcelo Magaldi, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A meta do tratamento é recanalizar o vaso a tempo de permitir a recuperação do tecido cerebral. Então, para a maior parte dos casos, é preciso agir dentro de até quatro horas e meia do início dos sintomas. Com a trombectomia cirúrgica, os médicos ganham tempo de ação no tratamento do paciente, chegando, em certos casos, a mais de 24 horas.
Graças ao procedimento, Joane já se comunica perfeitamente e voltou a movimentar braços e pernas.
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