Domingo, 22 de Dezembro de 2024

Home Sem categoria Enquanto a indicação de Lula se arrasta, procuradora-geral interina da República estimula temas de interesse feminino e tenta entrar na disputa

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A Procuradoria-Geral da República (PGR) completou duas semanas sob o comando interino da procuradora Elizeta Paiva Ramos e não há expectativa de uma definição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre quem vai assumir a chefia da instituição. Cabe ao chefe do Executivo nomear o próximo procurador-geral da República, mas ele está com dificuldade para bater o martelo. Já é o maior período de indefinição na sucessão para o cargo desde a redemocratização. Aliados do petista avaliam que, por ora, ele não tem pressa em tomar uma decisão.

Enquanto a indicação se arrasta, o Palácio do Planalto acompanha o desempenho de Elizeta Ramos. Inicialmente, Lula pretendia acelerar a nomeação, para evitar deixar o comando do órgão nas mãos de um interino, mas, diante da indefinição, a procuradora ganhou tempo para tentar se cacifar na disputa.

Desde que assumiu o cargo, Elizeta adotou posicionamentos que agradaram a setores da esquerda e progressistas, como o que repudiou a lei aprovada na Assembleia Legislativa de São Paulo e sancionada pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) em homenagem ao coronel reformado do Exército e ex-deputado estadual Erasmo Dias, expoente da ditadura militar (1964-1985).

“Qualquer ato estatal que, de forma explícita ou velada, enalteça o autoritarismo é contrário à própria gênese do regime democrático e merece o mais veemente repúdio”, escreveu ela na ocasião.

Alinhamento

A procuradora-geral interina também tem se dedicado a pautas sensíveis para minorias sociais e, principalmente, para as mulheres. Ela recebeu nesta semana as deputadas Lêda Borges (PSDB-GO) e Maria Rosas (Republicanos-SP). O objetivo do encontro, segundo comunicado da PGR, foi “tratar de assuntos de interesse da bancada feminina” no Congresso.

Em manifestação enviada ao STF, antes do encontro, Elizeta já havia defendido ser “inadmissível” anistiar partidos que descumpriram cotas para mulheres e negros em eleições passadas. “As conquistas alcançadas em termos de igualdade de gênero e igualdade racial no campo da participação político-eleitoral não podem ser simplesmente desfeitas, enfraquecidas ou tornadas sem efeitos”, argumentou no parecer.

A Procuradoria-Geral também pediu preferência, no Supremo, para o julgamento sobre a concessão de licença-maternidade em união estável homoafetiva. Elizeta é a favor do benefício mesmo para a mãe que não for gestante.

Outro parecer assinado por ela defende a derrubada em série de trechos de leis de 14 Estados que limitam a participação de mulheres em concursos na Polícia Militar e no Corpo de Bombeiros (mais informações nesta página).

Apoios

A chefe interina da PGR tem o apoio da vice-procuradora-geral da República, Ana Borges, número dois da instituição, com quem tem demonstrado alinhamento. Ana foi escalada para o lugar de Lindôra Araújo, considerada uma das principais vozes bolsonaristas no Ministério Público Federal, em uma das poucas trocas promovidas na gestão provisória. Interlocutores de Elizeta avaliam que ela tem evitado mudanças estruturais justamente pelo caráter transitório da função.

A pedido da procuradora-geral, Ana Borges representou a PGR na sessão solene organizada na Câmara dos Deputados no Dia Nacional de Luta Contra Violência à Mulher, na última terça-feira, quando elogiou a Lei Maria da Penha e criticou a tese da legítima defesa da honra. A vice-procuradora também defendeu no STF o direito de servidoras contratadas temporariamente pela administração pública à licençamaternidade e o reconhecimento de que há violações graves no sistema carcerário.

Elizeta tem adotado um perfil discreto e evitado entrevistas. A procuradora-geral da República interina viralizou recentemente ao criticar o serviço de motoristas da Procuradoria, por cancelamentos em cima da hora, e reclamar por precisar pegar Uber para o trabalho.

Nomes cotados

Os cotados para a vaga são Paulo Gustavo Gonet, vice-procurador-geral Eleitoral – que assinou o parecer a favor da suspensão dos direitos políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no processo que o deixou inelegível até 2030 – e Antonio Carlos Bigonha, ex-presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR).

Gonet tem apoio dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes. Já Bigonha é o favorito do PT. Os nomes dos subprocuradores gerais Aurélio Virgílio Veiga Rios e Luiz Augusto dos Santos Lima também foram levados ao presidente.

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